sábado, 9 de julho de 2016

De futebol, política e cachaça


* Por Marcos Alves



Apresso-me em dizer que nem de longe tenho a pretensão de elaborar ensaios complexos acerca dessas três áreas do conhecimento. Mas é impossível ficar alheio a essa inesgotável fonte de idéias que abastece o imaginário de quem vive no Brasil. Portanto, vou direto ao assunto.

Os deputados querem dobrar os próprios salários, 91% é quase cem. O que torna a tal "recuperação" da imagem da câmara uma quimera – passadas as eleições, mas com os escândalos ainda quentes, a maior parte do congresso se apressou a legislar em causa própria. A manobra gerou uma insatisfação enorme, que além dos setores mais esclarecidos da sociedade parece ter chegado aos porões. ACM Neto que o diga.

O povo não conhece os meandros, mas é transparente na Política. Depois do inferno de Jefferson, Lula colhe os louros do assistencialismo em um país desigual e corrupto. Não é propriamente surpresa, mas certamente contraria muitos prognósticos feitos durante o ano. Vai começar o mandato com aprovação recorde, de mãos dadas com o mercado, mas com o desgaste das costuras políticas que faz para ter apoio no congresso.

Em janeiro o presidente terá que negociar com novos e antigos companheiros de partido. Um deles, o recém-diplomado deputado federal eleito pelo PT, em Minas, Juvenil Alves. Investigado por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, formação de quadrilha e outros crimes que somados renderam mais de 1 bilhão de reais, o advogado chegou a ser preso duas vezes. Na última segunda-feira conseguiu derrubar uma liminar impetrada pelo Ministério Público e pôde ser diplomado, o que lhe conferiu a providencial imunidade parlamentar.

Agora, sonha com a posse em 1º de janeiro – assim como seus colabores, que não devem ser poucos. Declarou 415 mil reais como gastos de campanha, mas os promotores do MP dizem que a conta dá uns 5 milhões, pelo menos. Valor que justifica os lexotans que aparentava ter ingerido ao adentrar o Palácio das Artes para receber o batalhado e indigno diploma.

Por falar em batalha e dignidade, que belo papel fez o Internacional de Porto Alegre! Uma equipe em que cada integrante deu o máximo em campo. Diante de um gigante do futebol atual, o Barcelona, dignificou ainda mais o futebol  brasileiro. Domingo, no Japão a disputa pelo título mais importante desse esporte, depois da Copa do Mundo, reunia de um lado o Inter e de outro o Barça, time em que joga o maior atleta da atualidade, nosso Ronaldinho Gaúcho. O Brasil é visto com respeito quando o assunto é futebol.

Também é bom falar dos amigos, novos e antigos. Outro dia conheci figura ímpar, escritor, filósofo e pesquisador, Fernando Massote. O professor nos procurou para falar do lançamento da segunda edição de seu livro, "A história pela metade - Cenários de Política Contemporânea", editado com o apoio do Cefet-MG. Ex-preso político nos anos 60 e 70, Massote cita acontecimentos do passado para melhorar o foco na crítica ao que chama de (perdoe alguma imprecisão, professor) “pensamento único e política de resultados”.

Entre uma cerveja e outra, Massote lembrou da dureza dos tempos da ditadura, sem esquecer do lirismo da luta por um mundo melhor. Rimos dos ardis para não ser reconhecido no caminho até o aeroporto. Contou-nos essa história durante a visita – na companhia de Caio Bueno e Júlio Azevedo, a um alambique centenário que fica em Cachoeira do Campo, cidadezinha que fica entre Belo Horizonte e Ouro Preto. Um prazer raro desfrutar da companhia e da prosa, enquanto apreciávamos o sabor e aroma inebriantes do líquido dos tonéis.

Dos amigos mais antigos fica a lembrança mais recente. Entre uma conversa e outra, suspiro calado, sinto o tempo passar. Vamos vivendo, apesar de problemas como as trapaças dos políticos e a péssima campanha do Fluminense em 2006. Resta o consolo da cachaça - sem a qual o futebol e a política não sobreviveriam.

·        Marcos Alves é jornalista e diretor de vídeos.






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