quinta-feira, 11 de agosto de 2011







Papai

* Por Gustavo do Carmo

(I)

Ao contrário dos pais de suas amigas, o pai de Glorinha sempre tinha tempo para ela. Brincava nos sábados e domingos, mas cobrava os deveres de casa e estudos durante a semana. Asdrúbal levava e buscava a filha no colégio todos os dias. Glorinha tinha orgulho, mas ao mesmo tempo, uma preocupação: “Por que papai é tão diferente das minhas coleguinhas?” Aos treze anos descobriu que o seu pai nunca trabalhou na vida. Mesmo casado, com filhos e com quarenta anos na cara ainda era sustentado pelo pai rico, avô de Glorinha, que pagava todos os estudos da neta. Ficou envergonhada.


(II)

O pai de Afonsinho trabalhava tanto que mal tinha tempo para o filho. Saía de manhã cedo e chegava tarde da noite. Só tinha uma época do ano em que seu Geovane se dedicava integralmente ao filho. Era nas suas férias, todo mês de abril. Um dia, Afonsinho chegou da escola e encontrou o pai em casa, de camiseta e short.

— Oi, pai. Você entrou de férias de novo?
— Não, meu filho. Papai foi despedido do emprego.


* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores

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