A vez é dos bentevis
* Por Pedro J. Bondaczuk
As andorinhas deixaram Campinas, há cerca de meio século – conforme tratei em recente crônica – para nunca mais voltar, mas ficaram os pardais, sabiás e bentevis. Dos primeiros nem quero tratar, pois existem em praticamente todas as cidades do mundo e não apresentam nenhum atrativo especial, a não ser a sua quantidade. São tantos, que emprestam seu nome à gíria da moeda de menor valor entre nós, as cédulas de R$ 1. Aliás, nos tempos do velho e quase inútil cruzeiro, principalmente naquele período de hiperinflação galopante no País (de triste memória, por sinal) essa designação caía até melhor.
Quanto aos sabiás... Bem, talvez trate deles numa outra ocasião. Hoje, proponho-me a abordar uma ave que há, em Campinas, em relativa profusão e desde antes do primeiro homem haver posto os pés por aqui, quando estas paragens eram conhecidas como Mato Grosso de Jundiaí, por suas características de mata fechada, com grande quantidade de árvores gigantescas, em especial o jequitibá. Hoje, desse espécime nativo resta um único e solitário “herói da resistência”, em frente ao Paço Municipal. Havia, não faz muito, dois, mas um deles não resistiu à inclemência do tempo e foi posto a pique por um vendaval, num desses temporais que vira e mexe se abatem, subitamente, sobre a cidade. A ave a que me refiro (e o leitor inteligente já percebeu) é o bentevi (conhecido como kiskadi em Portugal).
Nas árvores, em frente à minha casa, no bairro Jardim Chapadão (exata divisa com o Castelo), há vários ninhos desses pássaros que me acordam todas as manhãs com seus cantos estridentes, como que saudando a alvorada. Acostumei-me com eles e sinto uma falta incrível dos mesmos quando viajo e não os ouço nos hotéis em que me hospedo nas cidades pelo Brasil afora. Já fazem parte da minha rotina diária. Incorporaram-se, definitivamente, na minha vida.
Gosto dos bentevis e por uma série de motivos. Um deles, por exemplo, é o seu aspecto, o seu jeito, a sua plumagem. São bonitos na sua coloração amarela viva (no ventre, com uma listra branca no alto da cabeça). Aliás, parte do seu nome científico (Pitangus Sulphuratus) deve-se exatamente a essa cor. Sulphuratus, em latim, quer dizer enxofre. E este, qualquer criança sabe, é amarelo. Os índios chamavam esse pássaro de “Pitangaguassu” (pitanga grande). Realmente, ele guarda alguma remota semelhança com essa fruta, tão deliciosa, e que me desperta tantas lembranças da infância.
Na Argentina, o nome pelo qual é conhecido não condiz nada, nada, com seu porte. Ali é chamado de “Bichofeo”. Que injustiça! Acho, como já declarei, o bentevi belíssimo! Mas é uma questão de gosto que, afinal, não se discute. Os bolivianos chamam-no de “Frio”, apesar do calor que parece emanar, quer no porte, na plumagem, quer no seu canto, apressado e nervoso. Mas o nome é o que menos importa.
Outra característica do bentevi que me fascina é a sua fidelidade. Os ornitólogos dizem (e quem sou eu para contestar os especialistas?) que se trata de uma ave monogâmica. O casal, depois de se conhecer, fica junto por toda a vida. Macho e fêmea compartilham as responsabilidades e constroem, juntos, o ninho, com capim e pequenas ramas de vegetais, em galhos de árvores geralmente bem-cerradas. É muito comum, todavia, vê-los em cavidades de postes. Afinal, há tempos que já se adaptaram às cidades, em convivência pacífica com os homens (alguns) e se tornaram pássaros urbanos.
Uma terceira característica que me agrada nos bentevis é a sua coragem. Após a fêmea postar os ovos, o casal defende, com vigor, o território ao redor do ninho, podendo ser agressivo com outras aves, ou até mesmo com animais (como os gatos) caso se sintam ameaçados. Por essa razão, os ornitólogos classificam-nos na família dos tiranídeos (de tirano).
Com apenas 24 centímetros de comprimento, é comum ver-se os valentes e ousados bentevis dando rasantes em aves de rapina muito maiores do que eles, principalmente em gaviões, caso ousem invadir o seu território. E quase sempre, põem os invasores para correr, a poder de certeiras bicadas. Êta avezinha corajosa!
Andorinhas?! Para quê os campineiros as quereriam?! Afinal, não foram elas que se mostraram infiéis e nos abandonaram, provavelmente para sempre?! Que fiquem onde escolheram viver! Salve, isso sim, os fidelíssimos bentevis, que nos acordam cedo, cedíssimo, para esta aventura, não raro inglória, da sobrevivência!!!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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* Por Pedro J. Bondaczuk
As andorinhas deixaram Campinas, há cerca de meio século – conforme tratei em recente crônica – para nunca mais voltar, mas ficaram os pardais, sabiás e bentevis. Dos primeiros nem quero tratar, pois existem em praticamente todas as cidades do mundo e não apresentam nenhum atrativo especial, a não ser a sua quantidade. São tantos, que emprestam seu nome à gíria da moeda de menor valor entre nós, as cédulas de R$ 1. Aliás, nos tempos do velho e quase inútil cruzeiro, principalmente naquele período de hiperinflação galopante no País (de triste memória, por sinal) essa designação caía até melhor.
Quanto aos sabiás... Bem, talvez trate deles numa outra ocasião. Hoje, proponho-me a abordar uma ave que há, em Campinas, em relativa profusão e desde antes do primeiro homem haver posto os pés por aqui, quando estas paragens eram conhecidas como Mato Grosso de Jundiaí, por suas características de mata fechada, com grande quantidade de árvores gigantescas, em especial o jequitibá. Hoje, desse espécime nativo resta um único e solitário “herói da resistência”, em frente ao Paço Municipal. Havia, não faz muito, dois, mas um deles não resistiu à inclemência do tempo e foi posto a pique por um vendaval, num desses temporais que vira e mexe se abatem, subitamente, sobre a cidade. A ave a que me refiro (e o leitor inteligente já percebeu) é o bentevi (conhecido como kiskadi em Portugal).
Nas árvores, em frente à minha casa, no bairro Jardim Chapadão (exata divisa com o Castelo), há vários ninhos desses pássaros que me acordam todas as manhãs com seus cantos estridentes, como que saudando a alvorada. Acostumei-me com eles e sinto uma falta incrível dos mesmos quando viajo e não os ouço nos hotéis em que me hospedo nas cidades pelo Brasil afora. Já fazem parte da minha rotina diária. Incorporaram-se, definitivamente, na minha vida.
Gosto dos bentevis e por uma série de motivos. Um deles, por exemplo, é o seu aspecto, o seu jeito, a sua plumagem. São bonitos na sua coloração amarela viva (no ventre, com uma listra branca no alto da cabeça). Aliás, parte do seu nome científico (Pitangus Sulphuratus) deve-se exatamente a essa cor. Sulphuratus, em latim, quer dizer enxofre. E este, qualquer criança sabe, é amarelo. Os índios chamavam esse pássaro de “Pitangaguassu” (pitanga grande). Realmente, ele guarda alguma remota semelhança com essa fruta, tão deliciosa, e que me desperta tantas lembranças da infância.
Na Argentina, o nome pelo qual é conhecido não condiz nada, nada, com seu porte. Ali é chamado de “Bichofeo”. Que injustiça! Acho, como já declarei, o bentevi belíssimo! Mas é uma questão de gosto que, afinal, não se discute. Os bolivianos chamam-no de “Frio”, apesar do calor que parece emanar, quer no porte, na plumagem, quer no seu canto, apressado e nervoso. Mas o nome é o que menos importa.
Outra característica do bentevi que me fascina é a sua fidelidade. Os ornitólogos dizem (e quem sou eu para contestar os especialistas?) que se trata de uma ave monogâmica. O casal, depois de se conhecer, fica junto por toda a vida. Macho e fêmea compartilham as responsabilidades e constroem, juntos, o ninho, com capim e pequenas ramas de vegetais, em galhos de árvores geralmente bem-cerradas. É muito comum, todavia, vê-los em cavidades de postes. Afinal, há tempos que já se adaptaram às cidades, em convivência pacífica com os homens (alguns) e se tornaram pássaros urbanos.
Uma terceira característica que me agrada nos bentevis é a sua coragem. Após a fêmea postar os ovos, o casal defende, com vigor, o território ao redor do ninho, podendo ser agressivo com outras aves, ou até mesmo com animais (como os gatos) caso se sintam ameaçados. Por essa razão, os ornitólogos classificam-nos na família dos tiranídeos (de tirano).
Com apenas 24 centímetros de comprimento, é comum ver-se os valentes e ousados bentevis dando rasantes em aves de rapina muito maiores do que eles, principalmente em gaviões, caso ousem invadir o seu território. E quase sempre, põem os invasores para correr, a poder de certeiras bicadas. Êta avezinha corajosa!
Andorinhas?! Para quê os campineiros as quereriam?! Afinal, não foram elas que se mostraram infiéis e nos abandonaram, provavelmente para sempre?! Que fiquem onde escolheram viver! Salve, isso sim, os fidelíssimos bentevis, que nos acordam cedo, cedíssimo, para esta aventura, não raro inglória, da sobrevivência!!!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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O que comprar:
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Aprendi a admirar os bentevis a partir do olhar de um
ResponderExcluiramigo muito querido.
Até então, eles somente me irritavam, mas gosto dos outros pássaros também, ora por sua beleza, seu canto
afinadinho ora pela esperteza que todos eles tem em
enganar a Lola(minha cachorrinha) e comerem sua ração.
Viuvinhas, rolinhas(todas obesas), pardais(eles tem o
seu encanto vá),o majestoso sabiá-laranjeira, os
biquinhos(todos simpáticos).
Não dispenso a companhia de nenhum deles.
Beijos
Também convivo com muitos bentevis, só que colocaria neles os hifens sem pestanejar, e por você, vejo que eles os perderam. Achei bom conhecê-los um pouco mais e logo logo acordarei com o bonito canto deles.
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