quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011




O Pará é pai d’égua!

* Por Ana Flores



Foram poucos os dias de maio que passei na Ilha de Marajó, no extremo Norte do Brasil, depois de uma travessia de 3 horas e meia saindo de Belém numa barcaça semelhante à que nos transporta do Rio à Ilha de Paquetá. Mas foram dias plenos e inesquecíveis. Marajó é um celeiro de novidades para nós, bichos urbanos, acostumados a enfrentar buzinas, engarrafamentos constantes, filas pra tudo e medo de assaltos a qualquer hora e em qualquer lugar.


Numa área de 50.000 km2 relativamente pouco povoada, são tão longas as distâncias entre uma fazenda e uma pousada, entre o terminal fluvial e a praça principal de Soure, a capital, e outros extremos, que o visitante se sente mais ou menos como se estivesse atravessando o Texas, guardando as devidas proporções, of course.

Uma vez na ilha, pode-se fazer de tudo um pouco, dentro do espírito de aventura que a ilha inspira. Andar de búfalo nas fazendas ou em passeios, navegar e mergulhar em igarapés – coisa que eu só havia visto em documentários e nunca imaginei que algum dia conseguiria fazer – caminhar em trilhas de mato quase fechado, dançar o carimbó, desfrutar da gentileza espontânea do nativo marajoara, orgulhoso de suas origens e de sua história, tudo é encantador na ilha.
Pode-se até descansar, veja só, que a ilha é bem sossegada e as pousadas e fazendas convidam à tranquilidade. Sem falar nas praias fluviais que, em dias de semana e fora da alta temporada, são verdadeiros paraísos quase particulares, que aproveitei bastante.
Nos quatro dias em Belém não vi o concorridíssimo Círio de Nazaré, já que só acontece em outubro, mas vi os caminhos que a multidão de fiéis percorre, da Catedral de onde sai a imagem de Nossa Senhora de Nazaré – “padroeira oficial e soberana do Pará”, nas palavras fervorosas de uma querida amiga de lá e carioca por adoção – até a Basílica. Quem teve a oportunidade de participar ou assistir ao vivo, pode descrever melhor esse grandioso acontecimento da tradição amazônica.

Mas um capítulo à parte é a gastronomia paraense. Deus nos acuda! Ouvi de uma conhecida paraense, lá mesmo, que aquela região não é recomendável para quem está de dieta. Assino embaixo. Quanta variedade, quantos sabores que não encontramos fora de lá, os cheiros, os queijos frescos, a manteiga de leite de búfala, as frutas, os doces e os sorvetes que só existem por ali – antes da globalização, pelo menos – e os pratos fartos e deliciosos, à base principalmente de peixes, caranguejo, galinha, ervas e pimentas.

Tudo ao nosso alcance em restaurantes ou à venda no inacreditável Mercado Ver-o-Peso, à beira da Baía de Guajará, onde se vende de artesanato a farinhas variadas, castanhas a ervas e remédios milagrosos, de roupas a pimentas, comidas e sanduíches de tapioca feitos nos balcões, até a badaladíssima cerveja local. Impossível lembrar de tudo o que se encontra naquele mundão.
O Pará é risonho, hospitaleiro e muito saboroso! Como se diz por lá em relação a algo fora de série, o Pará é pai d´égua! Só desembarcando por aquelas bandas para acreditar no que eu tive o privilégio de vivenciar em apenas uma semana. Mais uma razão para eu voltar, me aguardem!
• Escritora

2 comentários:

  1. E a chuva da tarde? Um fenômeno, onde os encontros são marcados antes ou depois da
    chuva. Boas recordações...
    Valeu, Ana!
    Abraços saudosos do,
    José Calvino
    RecifeOlinda

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  2. E a aquela farinha amarelinha? Céus...
    As mangueiras apinhadas na praça.
    Abraços

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