quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011




Passando o chapéu

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Por Fernando Yanmar Narciso

Tempos de vacas magras não raro vêm acompanhados de medidas drásticas. Não é de hoje que novelistas e a audiência vivem em pé de guerra. Há seis anos os autores globais não conseguem achar um cachorrinho pra ladrar na própria sepultura. O IBOPE poderia até entrar na fila do seguro-desemprego toda vez que os relógios marcam 21:00.
Desde o começo a Globo sofre com escassez de atores. Nos anos 70 mal havia testes de escalação, pois Francisco Cuoco, Tarcísio Meira, Tony Ramos e Paulo Gracindo, às vezes eram vistos trabalhando em três, quatro produções seguidas, sem haver tempo para que fosse esquecido o personagem anterior. Hoje a coisa é pior, pois há atores e atrizes mais novos e sabidamente menos talentosos que seus ancestrais, já que a TV moderna é um açougue humano, fazendo até seis trabalhos seguidos. Nem precisa dizer que isso satura suas imagens, concordam?
E os folhetins? Ah, os folhetins ditos modernos... Atualmente as “tramas” do horário nobre mais parecem o PDT: Muito passado, pouco presente e nenhum futuro, nas palavras do célebre 171 Anthony Garotinho. Os autores não conseguiram acompanhar a passagem do tempo, evoluir ou revolucionar o melodrama nos últimos 20 anos. Continuam escrevendo tramas à moda dos anos 70 para atores dos anos 80 e esperando que a audiência do século XXI engula suas idéias repetitivas, artifícios comuns e personagens principais que mais parecem figurantes “deluxe”. As novelas das 9 têm vilões que sacaneiam até a mãe, mocinhos éticos e bobalhões, mocinhas à la Escrava Isaura, uma empresa a ponto de falir, o tal do jogo de “segura que o filho é seu” – caso o filho em questão realmente exista, noivas e noivos abandonados no altar, o tal do “quem matou?” e vários outros clichês criados por Janete Clair que já deram nos nervos da audiência. Aqui pra nós, quem gosta de “golpe da barriga” é lutador de sumô!
Esta semana o escritor Gilberto Braga, o popular Gibinha, veio a público chorar as pitangas e puxar nossas orelhas, pois não se conforma com os parcos índices de audiência de seu atual folhetim, que os gozadores já vêm apelidando de Bem Sensata Indigestão. Seu comparsa de teclado Ricardo Linhares, o eterno estagiário do canal, já veio tentando amenizar o chororó de seu mestre, com a desculpa que a baixa audiência foi por causa do horário de verão. Ârrã, e os porcos voam...
Todo escritor que se preze morre de medo de criar um estereótipo de si mesmo e continuar com ele até a morte. Só acompanhei de longe alguns capítulos de Insossato Dramalhão, e pude constatar que todo o estilo de Gibinha está presente ali, mas não seu coração. Tudo ali se apresenta requentado e desprovido de alma, como se personagens, cenários e falas simplesmente orbitassem em torno uns dos outros, tal qual aquela estátua sem graça que aparece rebolando na abertura. Juro que quando ela passou pela primeira vez, imaginei que a novela seria sobre bolas de boliche. Quem vê, entende do que eu tô falando...
Recentemente Gilberto apareceu revoltado porque o resumo da novela INTEIRINHA vazou pra imprensa, incluindo os desfechos da maioria dos personagens. Espero que ele interprete esse embuste como uma nova oportunidade. Não deve ser tão difícil pra um escritor que já deu vida a tantas personalidades e ganhou tantos prêmios país afora se reinventar. O mesmo vale para todo o time de novelistas do canal, que há muito começaram a mofar no fundo da dispensa.

* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

Um comentário:

  1. "Chorar as pitangas". Ora bolas. Ainda bem que não perco tempo com a TV há uma década. Venho ao Literário e aqui não perco meu tempo. Tem texto para todos os gostos. E aqui sempre digo "presente".

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