segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011


Prioridade – prioridades

* Por Abílio Pacheco


Esta é uma crônica inútil, do tipo chover no molhado. Mas quem disse que a crônica precisa ter utilidade? Ou que ela precisa trazer novidades? Crônica, já disse o que penso sobre ela no meu ‘cheiro de café’, vem de ‘cronos’ (tempo). É, portanto, ligada ao presente, ao hodierno. Mesmo que se considere inútil e redundante, ela é deveras necessária.
As leis que determinam o atendimento preferencial representam um avanço no pensamento brasileiro e um progresso jurídico em relação ao respeito à(s) parcela(s) da sociedade contemplada com as prioridades. Mas tem algum leitor por aí que não tenha uma, umazinha sequer, história de desrespeito ao atendimento prioritário? Ou mesmo falta de lógica no que se refere à prioridade? Disse que era chover no molhado, lá vai água:
Já vi caixa dizer para idoso que a prioridade é no subsolo, estando o cliente no terceiro andar. Já vi pessoas dizerem (isto foi num aeroporto) que não cederiam a vez no auto-atendimento bancário à mãe com a criança no colo, pois já estavam esperando há muito tempo. Já vi pessoa reclamar que gorda não tem prioridade, duvidando da gestação de uma cliente preferencial.
O campeão de desrespeito talvez seja mesmo o transporte urbano. Não vou dar nenhum exemplo senão esta crônica vai virar uma ficha corrida. A coisa é feia tanto nos pontos de ônibus como dentro dos veículos e piora se for um transporte alternativo. Advogar a favor da pessoa que tem direito, então, é coisa que não se faz nestes espaços públicos. Afinal, você o que que você tem com isso?
Não pára por aí, não. Tem uns locais de atendimento ao público em Belém que – atendendo a lei – reservam algumas atendentes para as prioridades. Entretanto, se o cliente chegar e tirar uma senha de prioridade e uma senha para atendimento comum no mesmo instante, a senha comum é, na maioria das vezes, chamada antes. Não entendi! Para quê prioridade neste caso?
Aliás, tem outra coisa que ainda não entendi nos tais caixas preferenciais para atender às prioridades. Eles servem para quê mesmo? Seria perfeitamente justificável se houve um atendimento diferenciado, se esses caixas tivessem um treinamento que os distinguisse dos demais, se eles tivessem melhor preparo para atender, por exemplo, um idoso que chega atrapalhadinho com cartão, senha, opções de “crédito ou débito?”. Uma curiosidade é que – não sei por aí, nesses outros brasis, mas nestas plagas – os atendentes desses caixas em geral são mais estressados, mais aborrecidos, mais impacientes. Deve ser isso mesmo, são escolhidos a dedo para punir o cidadão que conquistou esse direito – pelo visto – inaceitável aos demais.
Podemos ter avançado nas leis que se referem ao atendimento, mas ainda tem muito brasileiro estagnado por aí.

• Professor universitário, escritor e organizador de antologias. Três livros publicados. É membro correspondente da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense (com sede em Marabá), integra o conselho de redacção da Revista EisFluências, de Portugal, é Cônsul dos Poetas Del Mundo para o Estado do Pará e é Embaixador da Paz pelo Cercle Universal des Ambassadeurs de la Pax (Genebra-Suiça).

2 comentários:

  1. Posso estar errada mas muitos estão estagnados
    por puro comodismo ou ignorância.
    Abraços

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  2. Recolocaram nos ônibus (Recife/Olinda): "Idosos, pessoa com deficiência, PM, gestante e obeso. Estando toda a área antes da catraca ocupada, o acesso ao ônibus também pode ser feito pela porta trazeira". Já vi PM, fardado, jovens, ficare o tempo todo sentados no lugar destinado aos idosos e deficientes. Cadê a lei que se deve obedecer, a fim de que se mantenha a ordem e se alcance os fins desejados do bem comum. Em suma, a fiscalização, por sua vez, está sendo inoperante, trabalham com medo, principalmente quando se trata de policiais!!!

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