quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011




Intolerância 1000

* Por Fernando Yanmar Narciso

Desafio qualquer um de vocês a ficar triste NESTE INSTANTE! Quero ouvir alguém se sentindo deprimido e miserável, chorando copiosamente e dizendo que quer se matar em cinco segundos! Tarefa difícil, né? Quase impossível...
Já repararam como existe gente que adora reclamar? Dããã, estão no blog de uma delas! Quando tá um solzão lá fora que faz até os porcos suarem, reclamamos do calor insuportável. Quando o termômetro despenca para menos de 15° C e a carne enrijece, mandamos o frio tomar naquele lugar. Enfim, nunca estamos satisfeitos com nada. Mas o senso comum nos impele a trazer um sorriso amigável no rosto, pois todos dizem: “Sorria e o mundo sorrirá de volta. Chore e chorará sozinho”.
Exatamente por essa razão os relacionamentos têm sido cada vez mais. Com a chegada do iPod, do iPhone, do iPad e de qualquer outra traquitana com o nome começado com “i” minúsculo, ficou mais prático se isolar em seu próprio mundinho onde tudo é verde e feliz do que colocar a fuça pra fora de casa. Mas em algumas ocasiões é inevitável enfrentar a realidade, local onde a frustração é garantida.
“Eu sou o que sou, não vou mudar. Os incomodados que se retirem.” Eis a coisa mais estúpida que alguém pode dizer. Mas a vida tá desse jeito mesmo... Esse é um dos maiores problemas que vem no pacote do isolamento. Se as pessoas não aceitam viver pelas regras do NOSSO mundinho, que vão feder noutro lugar. Que mundo é esse, gente? Ficou de um jeito tal que já não dá pra saber se havia mais tolerância no mundo em que nossos pais viviam ou se era a mesma merda de agora, e eles disfarçavam pra não ficarem feios na fita.
Rico deprimido vai ao psiquiatra, pobre deprimido se enfurna num bar. Mas nem pensem em levar a tristeza junto. Como no bar todo mundo é igual, trate de ficar tão desligado da realidade e entorpecido como qualquer um que estiver em sua mesa. É certo que alguns dirão que amizade de botequim é melhor que nenhuma amizade, mas não concordo. Se alguém esboçar falar numa roda de amigos “Tô com um puta problemão, gente...” num segundo um vai retrucar “Que problema o quê? Tu veio pra beber ou pra chorar? Cala a boca e bebe!”
Não dá mais pra contar com os outros na nossa sociedade, nem mesmo com a família. Quando chegamos na casa de algum parente, ele está ocupado jogando pôquer virtual, vendo novela, fazendo o jantar, levando o chihuahua pra passear... Depois basta acender uma vela e fazer uma reza vazia de sentimentos antes de dormir e fica tudo numa boa.
Quem vai querer saber dos problemas dos outros? Assim como nosso presidente, temos preferido dizer "Não quero saber de crise, quero boas notícias!"
Com todos os problemas que a gente já tem, pra que iríamos querer saber dos percalços da vida dos outros? Não venham nos azucrinar com as porcarias de seus problemas, falem só do aumento no salário, das medalhas que seus filhos ganharam, do carro novo, das férias em Cancun, enfim, só as coisas boas da vida. E não nos esqueçamos de sempre contar tudo com um sorriso de atendente do McDonald’s.

* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

2 comentários:

  1. Não sei como or rico faz pra desenrolar suas
    neuras, sei das minhas.
    Vou pra rua ver gente, brinco com a cachorra
    e afogo as mágoas com os amigos, aqueles de fé.
    No final acabo sorrindo e vendo brechas em todos
    os cantos.
    Abração

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  2. Quando a pancada é forte demais eu dou uma choradinha e melhoro, mas por via das dúvidas, é bom ter uma psiquiatra à mão. Quando a situação ou alguém é do tipo que age de forma inexplicável, ousei perguntar a ela, a minha psicoterapueta de nove anos: Por que? Ela disse apenas:"Sou psiquiatra, e não adivinha!". Muito boa essa. Não poderia deixar de contar.

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