O frevo e o passo me enganaram
* Por Clóvis Campêlo
Para Elane Tomich
Tenho um amigo que mora em São Luís do Maranhão e diz que só descobriu a importância histórica e cultural da sua cidade natal quando conheceu outras capitais brasileiras mais modernas.
A mesma coisa aconteceu comigo em relação ao frevo e ao passo. Embora tenha nascido, crescido e sobrevivido ouvindo o frevo e vendo o povo executar a sua dança, o passo, como autênticas manifestações musicais e culturais do povo pernambucano, apenas na década de 70, após ouvir Caetano Veloso reinventar o gênero, com a música “Atrás do trio elétrico”, é que passei a considerá-los com a devida importância. Ali, o frevo que nascera pernambucano, ganhava um sotaque pop e baiano.
Antes dessa catarse, eu queria era a modernidade do rock, a eletricidade das guitarras, a novidade do iê-iê-iê, e que tudo mais fosse para o inferno. Como todo bom subdesenvolvido, queria ser estrangeiro de mim mesmo e da minha terra. Queria ser o outro, why not?
Mas, sobreviver é reconsiderar, reverter conceitos, redescobrir verdades absolutas e relativas e redirecionar as nossas vidas em função disso. Sempre!
E o frevo e o passo haviam me enganado. Nascidos no meio do povo, misturando ritmos musicais alienígenas e os gingados da capoeira africana, o frevo e o passo surgiram como sínteses inéditas e ousadas. Na minha sede de fugir de mim mesmo, de negar as minhas origens terceiro-mundistas, não havia percebido isso, não havia captado a alegria sincera do povo dançando a sua música e executando a coreografia do passo.
O frevo nasceu lumpen, com os pés no chão e logo se transformaria em legítimo representante de vários segmentos sociais e de classe, com o surgimento dos clubes ligados a grupos de trabalhadores (lixeiros, lenhadores, varredores de rua, carvoeiros, etc.). O passo, mais democrático, serviria a todos indiscriminadamente, sem perder as origens da sua “marginalidade”.
As ruas centenárias do Recife foram testemunhas do meu erro e do meu equívoco histórico. O futuro, no entanto, libertou-me e absolveu-me.
Antes tarde do que nunca.
• Poeta, jornalista e radialista de Olinda/PE
* Por Clóvis Campêlo
Para Elane Tomich
Tenho um amigo que mora em São Luís do Maranhão e diz que só descobriu a importância histórica e cultural da sua cidade natal quando conheceu outras capitais brasileiras mais modernas.
A mesma coisa aconteceu comigo em relação ao frevo e ao passo. Embora tenha nascido, crescido e sobrevivido ouvindo o frevo e vendo o povo executar a sua dança, o passo, como autênticas manifestações musicais e culturais do povo pernambucano, apenas na década de 70, após ouvir Caetano Veloso reinventar o gênero, com a música “Atrás do trio elétrico”, é que passei a considerá-los com a devida importância. Ali, o frevo que nascera pernambucano, ganhava um sotaque pop e baiano.
Antes dessa catarse, eu queria era a modernidade do rock, a eletricidade das guitarras, a novidade do iê-iê-iê, e que tudo mais fosse para o inferno. Como todo bom subdesenvolvido, queria ser estrangeiro de mim mesmo e da minha terra. Queria ser o outro, why not?
Mas, sobreviver é reconsiderar, reverter conceitos, redescobrir verdades absolutas e relativas e redirecionar as nossas vidas em função disso. Sempre!
E o frevo e o passo haviam me enganado. Nascidos no meio do povo, misturando ritmos musicais alienígenas e os gingados da capoeira africana, o frevo e o passo surgiram como sínteses inéditas e ousadas. Na minha sede de fugir de mim mesmo, de negar as minhas origens terceiro-mundistas, não havia percebido isso, não havia captado a alegria sincera do povo dançando a sua música e executando a coreografia do passo.
O frevo nasceu lumpen, com os pés no chão e logo se transformaria em legítimo representante de vários segmentos sociais e de classe, com o surgimento dos clubes ligados a grupos de trabalhadores (lixeiros, lenhadores, varredores de rua, carvoeiros, etc.). O passo, mais democrático, serviria a todos indiscriminadamente, sem perder as origens da sua “marginalidade”.
As ruas centenárias do Recife foram testemunhas do meu erro e do meu equívoco histórico. O futuro, no entanto, libertou-me e absolveu-me.
Antes tarde do que nunca.
• Poeta, jornalista e radialista de Olinda/PE
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