Pais...heróis?
* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral
Quando eu era criança e meu pai se aproximava, achava-o um gigante. Podia estar onde estivesse, tinha sempre a sensação de que o chão tremia com a sua chegada. Encarapitada no alto da goiabeira descia em segundos com medo de sua voz de trovão.
Amava o dia de São Cosme e Damião, quando ele arrumava uns cavaletes e fazia uma mesa enorme cheia de doces e guaranás para a molecada. Em dias de vento seguia-o junto com minhas irmãs ao campinho para empinarmos as cafifas...e como elas iam alto!
Na praia, embora não soubéssemos nadar, nos levava para o fundo e nos soltava, de longe víamos nossa mãe pequenininha na areia se descabelando. Mas também vi com um nozinho na garganta, aquele homem grande sendo humilhado pelo dono do empório que com seu caderninho ensebado esfregava-o na sua cara, cobrando seus tostões.
Os cabelos brancos surgiram tão numerosos quanto as dívidas. De uma hora para outra, aquele olhar encantado mudou e comecei a enxergar outra pessoa. Via-o entrar em casa torto, com a fala enrolada que atirava-se na cama e morria para o mundo As lágrimas de minha mãe me cortavam o coração.
Passei a temê-lo e mais nada que ele fizesse nos encantava mais... no final ele nem se lembrava mais o que havia feito. Ele perdeu parte de nossa infância por não estar sóbrio, mas nós perdemos muito mais... Custei a entender quem ele era... Meu pai era um homem como tantos outros, cheio de fraquezas e limitações. Talvez tenha assumido responsabilidades cedo demais... filhos cedo demais...
Hoje, enxergo-o como alguém que pelo menos tentou... Não... não faço cobranças, pois esse direito eu não tenho. Mas peço sempre a Deus que ele enxergue em mim não uma heroína, mas, uma filha que também é cheia de limitações e que ainda guarda na lembrança aquele gigante que nos levava para "voar" junto com as cafifas...
* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário
* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral
Quando eu era criança e meu pai se aproximava, achava-o um gigante. Podia estar onde estivesse, tinha sempre a sensação de que o chão tremia com a sua chegada. Encarapitada no alto da goiabeira descia em segundos com medo de sua voz de trovão.
Amava o dia de São Cosme e Damião, quando ele arrumava uns cavaletes e fazia uma mesa enorme cheia de doces e guaranás para a molecada. Em dias de vento seguia-o junto com minhas irmãs ao campinho para empinarmos as cafifas...e como elas iam alto!
Na praia, embora não soubéssemos nadar, nos levava para o fundo e nos soltava, de longe víamos nossa mãe pequenininha na areia se descabelando. Mas também vi com um nozinho na garganta, aquele homem grande sendo humilhado pelo dono do empório que com seu caderninho ensebado esfregava-o na sua cara, cobrando seus tostões.
Os cabelos brancos surgiram tão numerosos quanto as dívidas. De uma hora para outra, aquele olhar encantado mudou e comecei a enxergar outra pessoa. Via-o entrar em casa torto, com a fala enrolada que atirava-se na cama e morria para o mundo As lágrimas de minha mãe me cortavam o coração.
Passei a temê-lo e mais nada que ele fizesse nos encantava mais... no final ele nem se lembrava mais o que havia feito. Ele perdeu parte de nossa infância por não estar sóbrio, mas nós perdemos muito mais... Custei a entender quem ele era... Meu pai era um homem como tantos outros, cheio de fraquezas e limitações. Talvez tenha assumido responsabilidades cedo demais... filhos cedo demais...
Hoje, enxergo-o como alguém que pelo menos tentou... Não... não faço cobranças, pois esse direito eu não tenho. Mas peço sempre a Deus que ele enxergue em mim não uma heroína, mas, uma filha que também é cheia de limitações e que ainda guarda na lembrança aquele gigante que nos levava para "voar" junto com as cafifas...
* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário
Se for caso pessoal, você demonstra que cresceu mais do que seu pai. Como dizia minha avó, "o homem nada vale sem dinheiro". O monte de filhos, a impossibilidade de pagar os gastos da família, a bebida como válvula, e as crianças sem o pai-herói dão o tom dramático da história. Triste, porém isso não dura a vida inteira, sendo uma etapa apenas. Hoje, tudo já está num outro lugar.
ResponderExcluirNubia, hoje percebo o quanto os pais são humanos, e não os heróis que gostaríamos. São realmente cheios de limitações, e cada um se doa na medida do possível e do grau de consciência que desenvolveu. Alguns são maravilhosos, quase irreais...outros tropeçam... mas tentam! Beijos!
ResponderExcluirMara
ResponderExcluirSayonara
Hoje se possível fosse, eu o carregaria no colo tamanha
a sua fragilidade...
Valeu pelos comentários.
Beijos