quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010




Inquietos

* Por Sayonara Lino


O que essa inquietação provoca é a busca inevitável por algo mais, alguma coisa que se esconde, que está do lado de fora, que desaparece instantaneamente ao ser tocada. Os inquietos, que fervem intimamente e não descansam, elaboram alguma forma de aplacar esse desejo insaciável e esgotam-se nesse ir e vir de idéias que mudam sem cessar.

Correm daqui para lá, trocam de projetos, de parceiros, de vínculos, mas buscam sempre e sem pausa, pois a monotonia dos dias não suportariam, já que o que os mantêm vivos é o movimento, esse frenesi de sensações de perdas e ganhos, de altos e baixos. São cidadãos do mundo, ainda que muitos não tenham a oportunidade de deslocar-se fisicamente quanto gostariam. Suas mentes são seu melhor passaporte.

Borbulham, entram em erupção, custam a encontrar a paz, e nem sei se a querem de fato, já que tudo o que remete a um certo sossego os empurra para fora do casulo, e saem por aí a voar, esses inquietos de berço.

Desassossegados

Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.
Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.
Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam antes de concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam. (Martha Medeiros)

* Jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. Colunista do portal www.ubaweb.com/revista.

4 comentários:

  1. Sou inquieta por natureza, mas é isso
    que me provoca, me belisca...a apatia
    me deprime, me deixa doente.
    Meus pensamentos são como flechas e nem
    sempre consigo acompanhá-los.
    Tem jeito isso?
    Beijos

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  2. Oi, Núbia! Ah, creio que os inquietos existem para incrementar a vida, buscar alternativas, criar, desenvolver seu potencial, enfim, são pessoas especiais. Tudo deve ser bem canalizado para que seja produtivo. Acho que esse é o jeito! Beijos!

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  3. Os hiperativos têm inquietude física e psíquica, mas neles a falta de produção domina o cenário. Mudam de amores, de emprego, de planos, mudam de tudo e não finalizam nada. Além disso são impulsivos e desatentos. Acho que estamos falando de coisas diferentes, pois o desassossego que não atrapalha não é hiperatividade.

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  4. Sim, Mara, concordo que a hiperatividade é um problema e deve ser tratada para que a inteligência que normalmente esses indivíduos apresentam de sobra não seja desperdiçada. No caso do meu texto, meu intuito foi pegar o gancho de um texto da grande escritora Martha Medeiros e escrever um outro texto, no sentido literário apenas. Não pretendi entrar no campo psicológio e psiquiátrico. Abraços!

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