terça-feira, 23 de fevereiro de 2010




Às vezes, sinto-me a-histórico...

Eduardo Oliveira Freire é outro dos nossos colunistas a serem entrevistados que integra a chamada “ala jovem” do Literário. Modesto, se auto-qualifica, na sua apresentação no rodapé da sua coluna semanal, como “aspirante a escritor”. Há, todavia, aí, evidente equívoco. Eduardo não é aspirante coisíssima nenhuma. Embora (ainda) não tenha livro publicado, é escritor, sem sombra de dúvidas e com “E” maiúsculo, de muito futuro e imenso potencial. Colabora com o Literário desde a sua criação, há quase quatro anos. Seus contos, intrigantes e belos, mas sobretudo corretos, elegantes e muito bem-escritos, conquistaram uma imensa legião de admiradores. Entre seus textos mais marcantes, merece destaque a precisa narrativa da trágica trajetória de Jean Charles de Menezes na Inglaterra, o emigrante brasileiro, morto por engano pela SO19, unidade armada da Scotland Yard, a famosa e tradicional polícia britânica, em 22 de julho de 2005. O jovem eletricista mineiro foi confundido com um terrorista, em uma época em que Londres vivia uma paranóia de insegurança, vendo homens-bombas por toda a parte, onde não existiam. Eduardo teve 39 colaborações publicadas no Literário, até que o editor fizesse o óbvio: o convidasse a se tornar colunista fixo da revista eletrônica, tão logo passou a ser editada neste espaço, tarefa, aliás, que vem desempenhando com absoluta competência e brilho. Sua coluna, publicada às sextas-feiras, que por motivo óbvio se intitula “Do real ao surreal”, em que já brindou os leitores com 47 textos, caracteriza-se, basicamente, por notas bastante curtas, condensadas, minimalistas, mas inteligentes e de extremo bom-gosto. Fosse poesia, seriam haicais. O editor houve por bem caracterizá-las como “pílulas literárias”, ideais para curar a mediocridade e a mesmice e vitaminar e fortalecer a boa literatura. Não haverá nenhuma surpresa para nós, que o conhecemos, se, ainda neste ano, Eduardo Oliveira Freire nos comunicar o lançamento do seu primeiro livro. Se isso não acontecer, nossas editoras passarão atestado de mau gosto e falta de visão. Embora nosso entrevistado não tenha respondido a todas as questões que lhe foram formuladas (por modéstia, certamente), as que respondeu são suficientes para traçarem o perfil de um maiúsculo escritor, posto que ainda bastante jovem e com longo caminho a percorrer.

Literário – Trace um perfil resumido seu, destacando onde e quando nasceu, o que faz (além de literatura) e destaque as obras que já publicou (se já o fez, claro).

Eduardo Oliveira Freire – Sou um indivíduo que escreve para extravasar sentimentos e materializar imagens e histórias que povoam tanto meu consciente, quanto o inconsciente. Nasci no Rio de Janeiro, mas sinto-me um estrangeiro, pois sou muito diferente do imaginário construído sobre o carioca. Às vezes, sinto-me a-histórico.

L – Você tem algum livro novo com perspectivas de publicação? Se a resposta for afirmativa, qual? Há alguma previsão para seu lançamento? Se a resposta for negativa, explique a razão de ainda não ter produzido um livro.

EOF – Realmente, a minha escrita ainda é verde. Preciso ler mais e escrever bastante para um dia publicar um livro. Como almejo ser um escritor, preciso dominar um pouco mais a gramática. É uma obrigação.

L – Há quanto tempo você é colunista do Literário? Está satisfeito com este espaço? O que você entende que deva melhorar? Por que?

EOF – Tem uns três anos que sou colunista do Literário e gostei muito da mudança de endereço. Está um espaço mais democrático, que casa muito bem com a literatura, que é universal. Talvez, seja interessante implementar novidades, com vídeos, música e outras variedades de arte. O blog ficaria mais diverso e democrático.

L – Trace um breve perfil das suas preferências, como, por exemplo, qual o gênero musical que gosta, que livros já leu, quais ainda pretende ler (dos que se lembra), qual seu filme preferido, enfim, a você gosta (e do que detesta, claro) em termos de artes.

EOF – Gosto de filmes e livros que tenham história que possa se passar em qualquer lugar, uma vez que aborda a natureza humana. Citarei dois filmes: “Um Homem Bom” e “O Leitor”: As películas proporcionam uma visão mais humanizada sobre o que aconteceu na época do nazismo. Mostram as consequências de uma escolha que cada indivíduo faz, evidenciando a complexidade da vida, que difere do reducionismo do maniqueísmo. Acabei de ler um livro recentemente que me fez refletir muito sobre como somos pegos de surpresa pelo inconsciente e impulsos: “Breve Romance de Sonho” de Arthur Schnitzler. Albertina, esposa de um médico vienense muito bem-sucedido (Fridolin), narra-lhe uma fantasia sexual. A partir daí, na mesma noite, ele faz uma viagem vertiginosa entre a realidade e o sonho. Sua aparente tranqüilidade é abalada com a fantasia da esposa. Ele sente-se traído por ela. No decorrer da história, Fridolin entra em contato com seus desejos reprimidos e aventuras eróticas que se assemelham a um sonho delirante. O cineasta norte-americano Stanley Kubrick baseou-se neste pequeno romance de Arthur Schnitzler para fazer seu último filme: “De Olhos Bem Fechados” (1999), com Tom Cruise e Nicole Kidman nos papéis principais.

L - Qual livro, ou quais livros, está lendo no momento?

EOF – “1984”, de George Orwell; “Um artista da fome e outros contos”, de Franz Kafka; “Notas do subsolo”, de Fedor Dostoievski. “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa” e “O livro do desassossego”, de Fernando Pessoa. Este último é uma biografia sem fatos. Mostra a fluidez da vida em fragmentos efêmeros.

L. Por favor, faça suas considerações finais, enviando sua mensagem pessoal aos participantes do Literário.

EOF – Todos desejamos ser reconhecidos ou valorizados. Entretanto, deve-se seguir em frente, mesmo que o reconhecimento não venha. O importante é ter um sonho, mesmo que se precise adiá-lo um pouco. Não sei se vou publicar um livro ou tornar-me um escritor. A única certeza que tenho é que escrever me torna uma pessoa melhor e, também, aumenta o desejo de ler e aprender cada vez mais.



2 comentários:

  1. Eduardo sou consumidora de suas
    famosa pílulas, que são de uma sacada
    inteligentíssima.
    Parabéns pela forma que escreve e muito
    prazer em te conhecer um pouco mais.
    Beijos

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  2. Respostas sérias e bastante amadurecidas. Logo conseguirá a convicção de que domina a Gramática, pois com tantas leituras, muito em breve terá essa sustentação. Sempre leio e geralmente comento as pílulas. Continuarei fazendo isso, e agora, conhecendo mais ao autor. Prazer em conhecê-lo Eduardo.

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