segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010


Cultura popular

Caríssimo leitor, boa tarde. Se você acessou nosso Literário pela manhã, certamente notou a baixa quantidade de acessos. Provavelmente, muitos dos freqüentadores habituais do nosso espaço, a esta altura, devem estar ainda dormindo, depois de uma noitada de carnaval.
Alguns, brincaram nos cada vez mais restritos bailes carnavalescos de salão. Outros, saíram atrás de trios-elétricos e se esbaldaram a valeram. Outros tantos estiveram presentes à Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, para verem, de perto, o “maior espetáculo da Terra” (e isso, sem nenhum exagero).
Há quem tenha optado por ficar em casa, para assistir os desfiles pela televisão, com todo o conforto e tranquilidade que pudessem obter. E muitos, provavelmente, deixaram as grandes cidades, em direção de sítios, praias, fazendas, chácaras ou locais de retiro espiritual, por não gostarem de carnaval.
Há gosto para tudo e isso deve ser respeitado. Tanto os que apreciem essa festividade popular devem respeitar os que a detestem, quanto os que a curtam precisam entender os que a abominem. O princípio de civilização é a convivência harmoniosa da diversidade, em todos os aspectos.
Há intelectuais (bastante respeitados, e com justiça, por excelentes trabalhos produzidos nos mais diversos campos do conhecimento) que chegam a ficar com brotoejas à simples menção de uma certa “cultura popular”.
Encaram essa expressão, sempre e sempre, apenas no aspecto pejorativo e entendem que o povo, em sua maioria, não só é obtuso e inculto, mas tem péssimo gosto quando se trata de arte. Óbvio que não tem. É puro preconceito, se não tola generalização, que não fica bem a pessoas cultas e esclarecidas. Afinal, como já constatou o saudoso jornalista e escritor, Nelson Rodrigues: “toda generalização é burra”. E como é!
Quando se trata de arte, então... Determinados intelectuais abominam tudo o que não seja erudito, como se apenas pessoas letradas fossem dotadas de talento e sensibilidade. A postura correta nesses casos é a de equilíbrio, que vários e vários felizmente adotam. Ou seja, a do “nem tanto ao céu, nem tanto à terra”. Ou a do “nem oito e nem oitenta”. Há muita, muitíssima coisa boa que se insere no conceito de arte popular. Não reconhecer isso e nem valorizar devidamente é estar fora da realidade, e apenas por preconceito e nada mais. .
Não quero dizer com isso (e cair no outro extremo do exagero) que tudo o que o povo faz é belo, criativo, sensacional, divino e maravilhoso. Longe disso. Não é o que acontece. Há, também, muito “lixo”, muita música capenga, muita letra idiota, sem pé e nem cabeça, que se excede em pieguice e em escatologia, que se insere na categoria de “arte popular”. Nesse caso, deveria ser chamada de “popularesca”.
Convenhamos, porém, que entre os eruditos nem tudo é genial. Há muita idiotice escondida sob o manto da erudição. E, nesse caso, é pior. Cada qual raciocine porque.
O fato é que, sempre que elogio, por exemplo, excelentes sambas-enredos, como os da União da Ilha e da Imperatrizs Leopoldinense, no Rio de Janeiro, a amigos intelectuais, eles olham-me com admiração (sem esconder uma pontinha de decepção) e me vêem como uma aberração intelectual, um ET que eventualmente acabasse de chegar ao planeta Terra. Bobagem, claro. Preconceito sem pé e nem cabeça.
Falta, a quem me critica pelo que entendem como mau-gosto, objetividade e isenção para avaliar o que é bom e o que é ruim. Por hoje, fico por aqui (também estou de ressaca, após me deliciar com os desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro pela televisão). Mas certamente voltarei ao assunto.

Boa leitura.

O Editor.


3 comentários:

  1. Excelente o tema do editorial, Pedro! Adorei!

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  2. Assisto aos desfiles todos os anos
    mas esse foi particularmente especial
    por conta do retorno da União da Ilha.
    Posso até errar mas acho que é uma das escolas
    mais queridas do Rio de Janeiro.
    Beijos

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  3. Caro editor, a ressaca o prejudicou nesta frase: "Tanto os que apreciem essa festividade popular devem respeitar os que a detestem, quanto os que a curtam precisam entender os que a abominem". Apenas o grupo que não gosta foi defendido. Sobre o conteúdo, concordo. Há espaço para todos os pontos de vista. Reducionista é aquele que veta um dos lados, seja o erudito ou o popular. A internet está paradíssima sim. O fraco movimento explica-se pelos feriados. São sempre vazios, ainda mais quando prolongados.

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