


Seja bem-vinda Inah, mas...
* Por Marco Albertim
Em terras recifenses, de muitos poetas e poucos contistas, há que se dar as boas-vindas a Inah Lins de Albuquerque, com seu livro “A solidão é espaçosa”, com elogio insonoro, prenhe de maciça crítica. Episódios curtos, capturados na singularidade da rotina invisível da personagem da narrativa título do livro, para começo. O conto se sustenta como gênero, inda que mostrando insegurança no estilo, excesso, recurso a um clichê velho e imprecisão. Assim:
“Tênues fiapos aos poucos formavam fios, fios da meada, os puxaria até o fim.” – “...mas sentia medo, faltava-lhe a coragem.” – “Depois da morte do avô moravam na casa a avó, a tia e o tio, ambos solteirões.” – “Fora alegre, mas a mãe proibira o casamento com um rapaz da cidade grande.” – “Lembrou de uma noite, véspera de carnaval, quando a avó ouvira uma turma tocando pandeiro, pensando em balas, correu para apanhar a velha espingarda...”
Mostra-se ao mesmo tempo escritora de olhar apurado, em “O quarto em frente, da tia mais velha, a que tocaria piano e expressava um sorriso misto de alegria e tristeza, certamente para a ambos esconder...” Mesmo com o excesso o final do conto bole com a imaginação, porquanto há uma guerra iminente, oculta nas entrelinhas.
Mansarda é a cumeeira do livro; narrativa robusta, encorpada pela própria organicidade. Não há excessos, tudo fala por si mesmo, sem interferência da autora. Salvo na supérflua explicação em que a personagem, “...colocando os óculos de lentes grossas, sem aros, espécie de lorgnon, como chamam os franceses.” Mas... Eugênio Lapport quer o emprego de secretário da singular e solitária Aurora e “...sentiu medo de que alguém lesse aquele chamado tentador e corresse a tratar antes dele, ou poderia não agradar à escritora. Ora, diabos, teria que tentar.” O narrador oculto imiscui-se nos intuitos do personagem, fala por ele e não assume o seu lugar.
Também aqui a autora se livra do advérbio “...de imediato”, usado em abundância nas histórias antes, enervantes; opta pelo telúrico “...de pronto”. O traço autobiográfico da escritora reflete-se na menção a autores muitos; é como se escorasse num clássico ou noutro para a narrativa fluir. No caso: “Lia o livro de contos de Katherine Mansfield, escritora de sua preferência...”
Se Mansarda é o cume do livro, o clímax do conto dá-se quando “Acordou tarde, assustado, sonhara ou teria acontecido o que pensava? O cheiro de queimado no ar trouxe-o à realidade.” Clímax e maturidade da autora. Estamos na página 121. Feito um cão impertinente, a preposição durante, usada em excesso nas páginas antes, ressurge como uma ameaça; só uma vez, inda que pregando susto. Do mesmo modo, a menção piegas ao amanhecer – “...os primeiros raios da aurora começavam a clarear.” Ameaça grave ao compromisso de robustez na história. O epílogo é um parágrafo de quatro linhas, enxuto também no que expressa; verossímil, sem dar a impressão de encolhimento. Pelo desenrolar do episódio, o narrador o faz como se tivesse o propósito de fazer as pazes com o leitor.
São 43 contos. Não há sabor literário nas primeiras páginas... Ou um sabor anódino. Há momentos em que a autora patina entre o gênero ao qual se propõe, a crônica, impressões pessoais ou diários com pouca menção a fatos, um psicologismo bem vestido. “...olhando discretamente de soslaio...” é preciosismo tardio. - “...hiato mental” não dá consistência ao gênero, sequer à expressão buscada. - “Não recordo a hora precisa, mais já passara do meio-dia...” Mais que um cochilo de revisão, um ronco. - “...bradando em alto e bom som.” Terrível. “Dramáticas guerras...”! “Um embaralhado de fatos desconexos”! “Traumas existenciais;” – “Alma melancólica.” – “Afinal de contas, há também marxistas românticos.” Ih!
* Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
...
* Por Marco Albertim
Em terras recifenses, de muitos poetas e poucos contistas, há que se dar as boas-vindas a Inah Lins de Albuquerque, com seu livro “A solidão é espaçosa”, com elogio insonoro, prenhe de maciça crítica. Episódios curtos, capturados na singularidade da rotina invisível da personagem da narrativa título do livro, para começo. O conto se sustenta como gênero, inda que mostrando insegurança no estilo, excesso, recurso a um clichê velho e imprecisão. Assim:
“Tênues fiapos aos poucos formavam fios, fios da meada, os puxaria até o fim.” – “...mas sentia medo, faltava-lhe a coragem.” – “Depois da morte do avô moravam na casa a avó, a tia e o tio, ambos solteirões.” – “Fora alegre, mas a mãe proibira o casamento com um rapaz da cidade grande.” – “Lembrou de uma noite, véspera de carnaval, quando a avó ouvira uma turma tocando pandeiro, pensando em balas, correu para apanhar a velha espingarda...”
Mostra-se ao mesmo tempo escritora de olhar apurado, em “O quarto em frente, da tia mais velha, a que tocaria piano e expressava um sorriso misto de alegria e tristeza, certamente para a ambos esconder...” Mesmo com o excesso o final do conto bole com a imaginação, porquanto há uma guerra iminente, oculta nas entrelinhas.
Mansarda é a cumeeira do livro; narrativa robusta, encorpada pela própria organicidade. Não há excessos, tudo fala por si mesmo, sem interferência da autora. Salvo na supérflua explicação em que a personagem, “...colocando os óculos de lentes grossas, sem aros, espécie de lorgnon, como chamam os franceses.” Mas... Eugênio Lapport quer o emprego de secretário da singular e solitária Aurora e “...sentiu medo de que alguém lesse aquele chamado tentador e corresse a tratar antes dele, ou poderia não agradar à escritora. Ora, diabos, teria que tentar.” O narrador oculto imiscui-se nos intuitos do personagem, fala por ele e não assume o seu lugar.
Também aqui a autora se livra do advérbio “...de imediato”, usado em abundância nas histórias antes, enervantes; opta pelo telúrico “...de pronto”. O traço autobiográfico da escritora reflete-se na menção a autores muitos; é como se escorasse num clássico ou noutro para a narrativa fluir. No caso: “Lia o livro de contos de Katherine Mansfield, escritora de sua preferência...”
Se Mansarda é o cume do livro, o clímax do conto dá-se quando “Acordou tarde, assustado, sonhara ou teria acontecido o que pensava? O cheiro de queimado no ar trouxe-o à realidade.” Clímax e maturidade da autora. Estamos na página 121. Feito um cão impertinente, a preposição durante, usada em excesso nas páginas antes, ressurge como uma ameaça; só uma vez, inda que pregando susto. Do mesmo modo, a menção piegas ao amanhecer – “...os primeiros raios da aurora começavam a clarear.” Ameaça grave ao compromisso de robustez na história. O epílogo é um parágrafo de quatro linhas, enxuto também no que expressa; verossímil, sem dar a impressão de encolhimento. Pelo desenrolar do episódio, o narrador o faz como se tivesse o propósito de fazer as pazes com o leitor.
São 43 contos. Não há sabor literário nas primeiras páginas... Ou um sabor anódino. Há momentos em que a autora patina entre o gênero ao qual se propõe, a crônica, impressões pessoais ou diários com pouca menção a fatos, um psicologismo bem vestido. “...olhando discretamente de soslaio...” é preciosismo tardio. - “...hiato mental” não dá consistência ao gênero, sequer à expressão buscada. - “Não recordo a hora precisa, mais já passara do meio-dia...” Mais que um cochilo de revisão, um ronco. - “...bradando em alto e bom som.” Terrível. “Dramáticas guerras...”! “Um embaralhado de fatos desconexos”! “Traumas existenciais;” – “Alma melancólica.” – “Afinal de contas, há também marxistas românticos.” Ih!
* Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
...
Bons auspícios Inah!
ResponderExcluirSucesso.