terça-feira, 16 de fevereiro de 2010







“As emissoras de TV poderiam retomar os casos especiais baseados em obras literárias”

E
le integra a ‘ala jovem” dos colunistas do Literário. Aos 32 anos de idade, completados não faz muito (em setembro de 2009), já conseguiu um feito que muitos escritores veteranos levam anos para obter (alguns nunca conseguem) e que boa parte ainda está em busca, sem certeza de sucesso. Ou seja, já não é mais inédito. E publicou, logo de cara, não apenas um, mas dois livros. Muitos outros, certamente, virão. Talento e competência é que não lhe faltam. Jornalista por formação, faz, atualmente, especialização em telejornalismo. Mas... é, sem dúvida e antes de tudo, escritor, tanto por livre escolha, quanto por inequívoca e evidente vocação. Nessa condição, conheceu, e precocemente diga-se de passagem, os dois lados da moeda que envolvem nossa função na sociedade: o orgulho de poder fazer chegar ao destinatário final de nossa produção (o leitor) o fruto do seu talento e criatividade e a decepção que não raro nos acompanha, causada, principalmente, pela ausência de um arraigado hábito de leitura de boa parte da população brasileira e pelo fato das editoras (salvo uma ou outra exceção) ainda não valorizarem devidamente a produção nacional e não se empenharem para publicá-la e divulgá-la com constância e eficácia. Escritor de muita garra, nosso entrevistado de hoje, Gustavo do Carmo, tem, sem dúvida, futuro dos mais promissores na literatura. E no jornalismo também (por que não?). Com sensibilidade à flor da pele, tem como principal virtude a criação de personagens fortes, marcantes e sobretudo verossímeis, desses que podemos encontrar a qualquer momento nas ruas das principais cidades. Embora se confesse não muito chegado à poesia, é, na verdade, um poeta. Mas no sentido lato, original, do termo, que significa “ação, práxis, atividade ininterrupta e criativa”. Conheçam-no, pois, um pouco mais. Vale a pena.

Literário – Trace um perfil resumido seu, destacando onde e quando nasceu, o que faz (além de literatura) e destaque as obras que já publicou (se já o fez, claro).

Gustavo do Carmo – Meu nome é Gustavo Carvalho do Carmo, nasci há 32 anos (4/9/77) no bairro da Tijuca, mas fui criado em Bonsucesso, subúrbio da zona norte do Rio, desde os três dias de vida. Formei-me em jornalismo e publicidade na Faculdade Hélio Alonso, em Botafogo. Pós-graduei-me em Gestão da Cultura pela Estácio de Sá no Centro e estou cursando nova pós, agora em telejornalismo e na Barra da Tijuca. Publiquei o romance “Notícias que Marcam” e a coletânea de contos “Indecisos”, que foi muito mal divulgado por sua gráfica, digo, boate, ops, editora. Participei também da coletânea de poesias “Viagem para Pasárgada”, da Editora Litteris, em homenagem aos famosos versos de Manuel Bandeira. Também estou na coletânea “Tijuca em Crônicas”, mas infelizmente esta não chegou ao mercado. Estou com quase dez anos de formação como jornalista, mas nunca trabalhei oficialmente. Tenho apenas um perfil ativo no Twitter (@gustavocarmo) e os meus blogs www.tudocultural.blogspot.com e www.novoguscar.blogspot.com . Já colaborei também, totalmente como free-lancer, com a Rádio Teresópolis AM, onde fazia o boletim semanal Rádio Motor. Estou desempregado no momento. Alguém tem uma vaga de redator para mim?

L – Você tem algum livro novo com perspectivas de publicação? Se a resposta for afirmativa, qual? Há alguma previsão para seu lançamento? Se a resposta for negativa, explique a razão de ainda não ter produzido um livro.

GC – Oficialmente não. Tenho uma nova coletânea de contos pronta, que quero publicar, mas não tenho tanta pressa. Não quero investir dinheiro em uma editora para ter que me virar para divulgar e revisar. Não precisa me pagar, apenas custear as despesas, mas não seria nada ruim e impossível viver da literatura. Também tenho alguns romances incompletos, mas só fecharei quando tiver uma relação estável com alguma editora profissional.

L – Há quanto tempo você é colunista do Literário? Está satisfeito com este espaço? O que você entende que deva melhorar? Por que?

GC – Sabe que eu não lembro muito bem? Participei esporadicamente com alguns contos entre 2006 e 2007, quando ainda estava hospedado no Comunique-se. Entrei como colunista fixo em 2008, se não me engano. Em 2009 continuei na equipe que foi para o Blogspot. Se eu estiver errado, coloque um ano antes. Sim, estou muito satisfeito, mas acho que eu deveria postar mais contos inéditos. Porém, como não lucro com a minha arte, sou muito cobrado por minha família para ter uma remuneração fixa e acabo dando prioridade a essa busca. Acabo me deprimindo também e perdendo a vontade de escrever. Além disso, já passei dos trinta, começo a ficar com a vista cansada e preciso me afastar um pouco da tela do computador.

L – Trace um breve perfil das suas preferências, como, por exemplo, qual o gênero musical que gosta, que livros já leu, quais ainda pretende ler (dos que se lembra), qual seu filme preferido, enfim, do que você gosta (e do que detesta, claro) em termos de artes.

GC – Sou notadamente apaixonado por carros. Escolhi a faculdade de jornalismo exatamente para trabalhar na imprensa automotiva. No entanto, eu sou um caso raro de apaixonado por carros que não sabe e não quer dirigir. Por isso, abracei a cultura como profissão e diversão. Não sou fã de música, mas também não odeio. Ouço passivamente e com prazer MPB e pop rock, um pouquinho heavy metal. Não gosto de pagode (só do verdadeiro samba) e música sertaneja eletrônica (a verdadeira caipira eu gosto), mas respeito as preferências dos outros. Odeio axé e música baiana, mas também respeito um pouco. Já se eu ouvir um funk abandono o recinto. Me desculpem os politicamente corretos, mas funk é trilha musical da desordem e do crime organizado e deve ser proibido como manifestação cultural. Quanto aos filmes não tenho um nome certo, mas prefiro aqueles com histórias que se identificam comigo. Gosto mais dos europeus, mas têm filmes norte-americanos que me marcaram também. Filme tem que ter uma trama, sem exagerar nos efeitos especiais. Mas vou confessar uma coisa sem vergonha: uma cena de nudez natural de uma mulher bem bonita também me atrai. Dança e artes plásticas são duas manifestações culturais que também não me empolgam, mas respeito.

L – Você gosta de teatro? Por que?

GC – Mais ou menos. Assisti a poucas peças por falta de uma boa companhia. Meus pais não se interessam muito por cultura e não me influenciaram. Somente no final do ano passado que eu assisti a uma peça adulta (até então só tinha assistido duas infantis quando eu era criança). Ainda assim porque eu ganhei cortesia. Tenho um pouco de trauma porque simulei produzir uma peça para o trabalho final de pós-graduação e na hora meus colegas especialistas em teatro fugiram. O professor só respondeu à minha ajuda quando eu já tinha dado o meu trabalho como pronto. Passei vexame na hora de pesquisar e de apresentar. Fiquei tão nervoso que acabei me esquecendo o que fazia um profissional de relações públicas.

L – Você já esteve no exterior? Onde? Se não esteve, para onde gostaria de viajar e por que?

GC – Já estive em Londres em 1998. Gostaria de voltar lá e de visitar Portugal também. É um país desenvolvido no qual você pode falar e ouvir sua própria língua.

L – Você tem predileção por algum gênero literário? Qual? Por que?

GC – Gosto muito de biografias. Na ficção, entre romances e contos, prefiro aqueles, como filmes, que tenham tramas interessantes e um texto claro, sem aqueles lirismos exagerados. Odeio ter que ler duas vezes um parágrafo para entender uma linha. Não gosto de poesias por achar muito pessoal. A não ser quando se identificam comigo.

L – Qual dos seus amigos vive mais longe? Onde?

GC – Um amigo de infância, antigo vizinho do meu prédio, mudou-se para Juiz de Fora, mas quando cresceu, chegou a morar em São Paulo. Tenho um colaborador do meu blog que é português. Atualmente o meu melhor amigo é de Teresópolis.

L – Qual é, no seu entender, o pior sentimento do mundo? Por que? E qual é o melhor? Por que?

GC – A mentira, a enganação e o silêncio. Odeio quando me fazem de bobo. Eu perco até a razão. Tanto que perdi muitas amizades assim. Também perdi amigos que se sentiram ofendidos com as minhas cobranças, pois me ignoravam e ainda me ignoram até hoje. Prefiro levar um fora a ficar sem resposta. Já o melhor é o alívio. Além de um problema a menos eleva a minha auto-estima.
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L – Se pudesse eleger um único escritor estrangeiro como o melhor de todos os tempos, quem você escolheria? E o brasileiro?

GC – É difícil, mas escolheria o Nelson Rodrigues. Inclusive no exterior.

L –. O que você está produzindo atualmente?

GC – Por enquanto estou tentando terminar o conto “Difícil Talento”. Fora isso só os meu blogs “Tudo Cultural”, “Guscar”, minhas atualizações com conteúdo no Twitter e a minha participação no Literário.

L – Qual livro, ou quais livros, está lendo no momento?

GC – Estou lendo atualmente o livro "Quem Matou Getúlio Vargas?", do Jô Soares. É engraçado e bem escrito, mas se perde em descrições exageradas. Estou ansioso para ler a biografia do canal de notícias GloboNews, que está em nono lugar na minha fila de onze livros.

L – Em quais localidades do País você já esteve e gostaria de voltar? Por que?

GC – Já estive várias vezes em São Paulo e não vejo nenhum problema em voltar. Mas gostaria de conhecer Brasília, a verdadeira capital do país.

L – Qual a sua maior decepção literária? E a maior alegria?

GC – Como leitor, a maior decepção foi Ernest Hemmingway. Achei seus contos muito rurais e americanos demais. Gostei um pouco dos ambientados na cidade. A maior alegria foi o livro “As Cariocas”, do Sérgio Porto. Como autor, a maior decepção foi a falta de interesse da editora do livro “Indecisos” em divulgá-lo e distribuí-lo. Entregou os convites em cima da hora (na véspera do lançamento, para ser mais preciso), não registrou e imprimiu poucos exemplares. A alegria pode ser o “Notícias que Marcam”. Não é uma obra prima mas vendeu alguns exemplares em Cabo Frio.

L – O que você acha que deveria ser feito para estimular a leitura no País?

GC – 1) Baixar o preço dos livros. Um livro grosso de capa dura, como a biografia da Clarice Lispector, escrita pelo americano Benjamin Moser, está custando R$ 79,00. Um absurdo. Estou esperando aparecer no Trocando Livros para trocar. 2) As emissoras de TV poderiam retomar os casos especiais baseados em obras literárias, inclusive de novos autores. As minisséries biográficas ajudam, mas misturam vários livros e adicionam personagens fictícios. 3) As rádios e jornais populares (O Dia, Extra, aqui no Rio) poderiam divulgar mais livros, dando uma sinopse objetiva. Os suplementos literários de O Globo e JB são feitos quase que exclusivamente para intelectuais pós-doutorados.

L – Você tem algum apelido? Qual? Fica irritado quando o chamam assim?

GC – Sempre fui chamado de Gugu e nunca me incomodei, apesar do tom debochado de alguns. Mas um apelido que eu odiava era o do sobrenome de um professor química do segundo grau que era considerado feio e chato, motivo pelo qual criaram este apelido para mim, que na época usava óculos "fundo de garrafa".

L – Fale um pouco dos seus planos imediatos. E quais são os de longo prazo?

GC – Trabalhar como jornalista antes que chegue a idade de eu precisar me aposentar. De longo prazo, é claro, viver da minha literatura e vender direitos dos meus contos para cinema, teatro e televisão. Claro que viver da minha literatura não significa me enriquecer, mas pelo menos manter o meu atual padrão modesto de vida.

L – Há alguma pergunta que não foi feita e que você gostaria que houvesse sido? Qual?

GC – Não. Você já fez bastante. Gostaria de ter sido um homem sem déficit de atenção e transtorno de ansiedade social, além de mais maduro para a minha idade. Pois foi exatamente isso que me atrapalhou na vida. Se eu não tivesse esses pequenos distúrbios psicológicos eu acho que eu seria mais bem-sucedido e feliz.

L – Por favor, faça suas considerações finais, enviando sua mensagem pessoal aos participantes do Literário.

GC – Que o Literário volte a ocupar um espaço em um grande portal da internet. E que os participantes do blog, incluindo eu e você (risos) sejam descobertos pela grande mídia. Boa sorte a nós.

5 comentários:

  1. O Déficit de Atenção é muito prejudicial em todos os sentidos, desde os estudos, até a questão profissional e afetiva. Fica sempre a impressão de que poderia ter feito melhor, e assim acontece a baixa auto-estima. Por outro lado, a atenção sem um único foco, que é o caso, acaba por gerar criações em várias áreas. Assim vejo esse "problema". Gostei de conhecê-lo mais Gustavo. Sorte para você!

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  2. Sincero até os "ossos".
    Gustavo que a sua jornada seja permeada
    pelo sucesso.
    Foi um prazer te conhecer.
    Beijos

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  3. Olá, Gustavo! Muito interessante sua entevista, muito sincera. Também passei dos 30, não me firmei como jornalista e tenho certeza de que não somos os únicos, a profissão é muito, muitíssimo competitiva ( como tantaas outras...)O deficit de atenção prejudica, mas acredito que um adulto possa minimizar esses efeitos de várias formas. Estou lendo um livro exatamente sobre o tema, da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva: Mente Inquietas: TDAH: Desatenção, Huperatividade e Impulsividade. Ainda creio na possibilidade de compensar o déficit com um superavit! Abraço!

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  4. Entrevista linda, Gustavo.Você se mostra tão verdadeiro que em alguns momentos tive a impressão de que você estava aqui na sala, conversando comigo. Você é uma pessoa muito bonita. Parabéns!
    Beijo

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  5. Obrigado ao Pedro pelo espaço e oportunidade de poder manifestar minhas sinceras opiniões e às meninas pelos comentários.

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