quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010




Difícil talento - IX

Por Gustavo do Carmo

Houve uma alegria coletiva naquele clube. Sorrisos por todos os lados, mas cada um com um significado diferente. Expectativa da parte de Jamílson, que teve a esperança de descobrir mais um reforço para o time do qual é auxiliar técnico. Felicidade de Breno que estava realizando, sim, o sonho de ser jogador profissional, que tinha desde menino, ao contrário do que havia dito antes, mas as dificuldades da vida o levaram para ser motorista de ônibus. Alívio para Severino que vê finalmente o primo emplacar algum talento e não sujar o seu nome como funcionário do clube. E Agostino, claro, ia conseguir o que tanto queria desde que chegou ao Rio: revelar um talento.

Depois do teste tático, Breno foi convidado para participar do coletivo com o elenco profissional, atuando no time dos reservas. Agostino queria assistir mas precisou ir para o trabalho, deixando o clube, prometendo voltar no dia seguinte para confirmar se ele foi ou não aprovado e, talvez, ver o primeiro talento que conseguiu indicar assinar contrato e ganhar uma comissão. Severino também precisou voltar para a sua função de contínuo.

Depois do trabalho, Agostino ligou para Breno, perguntando se ele foi aprovado.
— E aí cara? Como foi no coletivo? Foi contratado?
— Passei no teste. Joguei no time profissional reserva. Ganhamos o coletivo, fiz três gols de cabeça. Mas ainda vou fazer os exames médicos para assinar o contrato.
— Então você já está contratado. Com certeza vai passar.
— Quem sabe? Mas estou um pouco pessimista. Eu tive um problema cardíaco quando criança. Não sei se vão me aprovar.
— Claro que vão. Você vai tirar isso de letra. Vamos sair para comemorar?
— Olha, não dá. Além de não querer comemorar antes da hora eu vou fazer plantão hoje na empresa.
— Tudo bem. A gente combina outro dia então.
— Ok. É até bom a gente discutir isso. A comissão que você quer, entre outras coisas. De qualquer forma quero te agradecer por tudo que está fazendo por mim.
— Não precisa agradecer. Eu estou aqui neste mundo para isso. Para descobrir talentos. Não tive muita sorte com algumas pessoas, mas você será o verdadeiro talento.

Depois de outras futilidades os dois se despediram do telefone. Não imaginavam que seria a última conversa entre os dois. Horas depois, Breno embarcava para o que acreditava ser mais uma viagem de trabalho de muitas.

* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores



Um comentário:

  1. E aí?

    Não vai me dizer que o menino
    vai ter um treco?
    Que saga essa do Agostino...
    Vou esperar né.
    Beijos

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