O
último a sair apague a luz
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Por Marcelo Sguassábia
Tudo
bem, só que o interruptor não funciona e é preciso entrar com um
protocolo na concessionária de energia para solicitar uma
averiguação, ainda a ser agendada, a fim de determinar a real causa
do problema.
Há
apenas três (e não quatro) parafusos fixando o espelho do
interruptor na parede – um forte indício para que se cogite crime
de apropriação indébita. Suspeitas recaem ainda sobre um certo
ex-presidente, que teria se apoderado do referido parafuso semanas
antes de deixar o Palácio, escondendo-o em um sítio no interior de
São Paulo.
A
esquerda argumenta que apagar a luz é ato arbitrário, de natureza
unilateral, não condizente com a moderna democracia que o país vem
se esforçando por consolidar nos últimos anos.
A
direita rebate de forma veemente a insinuação, afirmando que o
problema de mau contato apresentado pelo aparelho se deve à
polarização provocada pelas alas mais radicais dos socialistas,
fazendo com que o polo positivo e o negativo entrem em curto,
causando um apagão ao mesmo tempo energético e ideológico.
Já
o Centro aponta para uma solução conciliadora do tipo “dimmer
deslizante”, para que a transição entre a escuridão e a
iluminação a plena carga se dê de forma suave e gradativa, sem
traumas para a coletividade e preservando nossos mais caros e
autênticos valores institucionais.
Há,
entretanto, uma forte corrente apartidária que sustenta não ser
possível apagar algo que há muito não está mais aceso, já que o
país demonstra crescente inadimplência não só no que diz respeito
às suas demandas energéticas, mas também nas contas públicas de
gás, água e telefone.
A
verdade é que um apagar geral de luzes produzirá uma nação
vulnerável em suas fronteiras e em sua soberania. Nisso concordam
todos os analistas políticos e econômicos. A literal penumbra
resultante dará ensejo para que milhões de cidadãos cubanos e
venezuelanos abandonem seus paraísos de origem, pensando que ao
agirem assim estarão retribuindo o bem que nosso “pai dos pobres”
fez a Chavez e a Fidel em outros e nebulosos tempos.
Note-se
ainda que uma ONG, de notória tendência esquerdista, já tem
engatilhado um instrumento jurídico contestando semanticamente a
frase “O último a sair apague a luz”. Argumentam os referidos
trotskistas de que o termo “último” é segregacionista e
discriminatório, por incumbir a uma única pessoa – no caso, a
última a abandonar o recinto – uma tarefa que seria de todos.
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Marcelo
Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Talvez fosse assim, mas há controvérsias.
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