Noivado de aliança
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Por Ruth Barros
Anabel nunca conseguiu muito
bem entender gente noiva de aliança. Ok, no primeiro casamento,
faixa dos 20, 30 anos – nem sei mais qual é a idade de casamento,
a longevidade mudou, o IBGE decretou que o brasileiro dura até 72
anos em média, aumento bom de vida que já causa problemas na
Previdência etc., mas em todos? O que deixou a escriba atônita foi
o caso de uma cidadã, de 55 anos, que vai para o quarto casamento.
Detalhe – o noivo é quase 20 anos mais velho e os dois ostentam
vistosa aliança no anular direito.
Meus amados e poucos leitores
podem dizer que é o sonho, que mais vale persistir, que sou
mal-humorada, o que às vezes é bem verdade, mas repetir o modelito
quando nunca deu certo? Sim, porque o caso da moça nem tão moça em
questão é exemplar. Em todos os três casamentos anteriores ela
perdeu tempo e o que é pior, dinheiro – sim, pois quando o encanto
acaba, sobram as contas para pagar, o que ferra mais ainda a
desilusão.
Do último casamento, sobrou,
além do coração partido, um belo processo de ressarcimento. Ela
financiou o delírio agrário do marido, que médico neurologista,
resolveu transformar-se em fazendeiro. Não deu certo, e com o final
do casamento, o falecido resolveu pedir na justiça as consultas que
deixou de dar, as cirurgias que deixou de fazer, enfim, uma espécie
de lucros cessantes. Repetiu-se mais ou menos o final do segundo
casamento, quando o então titular da pasta apropriou-se de todo o
caixa feito pelo casal e transferiu todos os bens comuns para seus
próprios familiares – familiares dele, bem entendido. O primeiro
casamento foi mais light, ela herdou apenas um filho, que criou
pagando todas as despesas, o que de certa forma já foi lucro, pois
pelo menos não foi espoliada.
Por que então tal criatura
resolve assinar um papel pela quarta vez na vida a bordo de uma
vistosa aliança? Acho incompreensível, mas conversando com uma
amiga querida da noiva, que aliás acha que ela está certíssima,
tive algumas pistas. A conferir. Todos os maridos, inclusive a quarta
vítima em potencial, eram homens bem-sucedidos, sem problemas
financeiros. Pelo que pude entender, todos casaram-se de bom grado,
sem tramar golpes do baú nem nada, a noiva, que se diga a seu favor,
é bonita, inteligente, interessante. Teve romances de sonho com
todos eles. Casou-se e virou uma pagadora de promessas não
realizadas, e pagadora mesmo, pois tomou prejuízos sérios. Por que?
Porque ela quer manter o vínculo a qualquer custo. Se a coisa começa
a degringolar, ela parte para comprar o marido, financiar projetos,
enfim, faz qualquer coisa para mantê-lo ao seu lado. Os caras
percebem o enrosco, mesmo porque homem não é bobo nem nada e partem
para a exploração mais deslavada, com aval dela. Quando o saco
estoura, pois essas relações raramente levam a finais felizes, o
estrago já está feito. Em vez de parar, pensar e corrigir a rota, a
criatura investe de novo no velho modelo. Anabel aconselharia que ela
mantenha pelo menos as alianças, pois já que elas são fundamentais
ao quadro, pelo menos que sejam as mesmas, para diminuir pelo menos
um pouco o prejuízo.
Anabel Serranegra também
quer uma vaga de suplente na Câmara Federal para acabar janeiro com
R$ 46 mil em caixa
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Maria
Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou
carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas,
enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou
em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal
da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da
coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela
revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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