sábado, 8 de setembro de 2018

Noivado de aliança - Ruth Barros


Noivado de aliança


* Por Ruth Barros


Anabel nunca conseguiu muito bem entender gente noiva de aliança. Ok, no primeiro casamento, faixa dos 20, 30 anos – nem sei mais qual é a idade de casamento, a longevidade mudou, o IBGE decretou que o brasileiro dura até 72 anos em média, aumento bom de vida que já causa problemas na Previdência etc., mas em todos? O que deixou a escriba atônita foi o caso de uma cidadã, de 55 anos, que vai para o quarto casamento. Detalhe – o noivo é quase 20 anos mais velho e os dois ostentam vistosa aliança no anular direito.

Meus amados e poucos leitores podem dizer que é o sonho, que mais vale persistir, que sou mal-humorada, o que às vezes é bem verdade, mas repetir o modelito quando nunca deu certo? Sim, porque o caso da moça nem tão moça em questão é exemplar. Em todos os três casamentos anteriores ela perdeu tempo e o que é pior, dinheiro – sim, pois quando o encanto acaba, sobram as contas para pagar, o que ferra mais ainda a desilusão.

Do último casamento, sobrou, além do coração partido, um belo processo de ressarcimento. Ela financiou o delírio agrário do marido, que médico neurologista, resolveu transformar-se em fazendeiro. Não deu certo, e com o final do casamento, o falecido resolveu pedir na justiça as consultas que deixou de dar, as cirurgias que deixou de fazer, enfim, uma espécie de lucros cessantes. Repetiu-se mais ou menos o final do segundo casamento, quando o então titular da pasta apropriou-se de todo o caixa feito pelo casal e transferiu todos os bens comuns para seus próprios familiares – familiares dele, bem entendido. O primeiro casamento foi mais light, ela herdou apenas um filho, que criou pagando todas as despesas, o que de certa forma já foi lucro, pois pelo menos não foi espoliada.

Por que então tal criatura resolve assinar um papel pela quarta vez na vida a bordo de uma vistosa aliança? Acho incompreensível, mas conversando com uma amiga querida da noiva, que aliás acha que ela está certíssima, tive algumas pistas. A conferir. Todos os maridos, inclusive a quarta vítima em potencial, eram homens bem-sucedidos, sem problemas financeiros. Pelo que pude entender, todos casaram-se de bom grado, sem tramar golpes do baú nem nada, a noiva, que se diga a seu favor, é bonita, inteligente, interessante. Teve romances de sonho com todos eles. Casou-se e virou uma pagadora de promessas não realizadas, e pagadora mesmo, pois tomou prejuízos sérios. Por que? Porque ela quer manter o vínculo a qualquer custo. Se a coisa começa a degringolar, ela parte para comprar o marido, financiar projetos, enfim, faz qualquer coisa para mantê-lo ao seu lado. Os caras percebem o enrosco, mesmo porque homem não é bobo nem nada e partem para a exploração mais deslavada, com aval dela. Quando o saco estoura, pois essas relações raramente levam a finais felizes, o estrago já está feito. Em vez de parar, pensar e corrigir a rota, a criatura investe de novo no velho modelo. Anabel aconselharia que ela mantenha pelo menos as alianças, pois já que elas são fundamentais ao quadro, pelo menos que sejam as mesmas, para diminuir pelo menos um pouco o prejuízo.

Anabel Serranegra também quer uma vaga de suplente na Câmara Federal para acabar janeiro com R$ 46 mil em caixa

* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.



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