Karnal
ensina errado o imperativo
categórico
categórico
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Por Paulo Ghiraldelli Jr.
Não
sirvo para patrão. Nem para chefe. Por uma razão simples: não sei
mandar e odeio corrigir. Dou o exemplo, ensino, mas mandar e ficar
corrigindo não é meu forte. Quando estava na universidade, ensinava
dez vezes o mesmo aluno. Mas quando tinha de corrigi-lo no sentido de
dizer para ele que estava errado no que eu já havia ensinado dez
vezes, eu me aborrecia. Não é difícil se aborrecer com o aluno
burro que se pensa sabido – o sabichão da turma.
O que vou escrever aqui e agora é uma tortura. Vou corrigir o Karnal, professor de história e palestrante de autoajuda. Afinal, autoajuda pode ser bobagem, mas não pode ser algo que ensine errado. Aí já é demais! Karnal não sabe o que é o imperativo categórico, mas quer falar sobre. Ele acha que pode falar de ética, de Kant, mas não pode. Ele não estudou, não tem formação para tal, embora se fosse um pouco inteligente perceberia que não sabe.
Ele
disse que os animais se movem por imperativo categórico, por
exemplo, a fome. Ele imagina que a palavra “categórico” seja
algo de grande força. É de grande força, mas justamente por não
se referir a nada empírico. Imperativo categórico é algo do âmbito
da liberdade, exatamente o que o animal não tem. Vem como uma lei
lógica pela qual os humanos, com consciência, podem optar. Optam
sem qualquer motivo empírico para tal. Imperativo categórico: age
segundo uma máxima que pode ser tomada como a máxima de todos
(Kant). Por exemplo: não mentir. Se eu minto pelo bem de alguém,
isso é algo que posso fazer, por motivos variados; mas não devo
assim fazer para ser ético, e não por qualquer outra coisa senão
pelo fato de que a máxima “mentir em favor da humanidade” não
pode ser universalizada. Ela cria uma contradição; ela geraria a
própria indistinção entre mentira e verdade e inviabilizaria a
comunicação. Nenhum motivo empírico (fome, pena, dó, paixão,
amizade, utilidade, esperteza, dinheiro) entra aí para me proibir de
“mentir em favor da humanidade” (mentir para esconder meu amigo
ladrão); o que entra para me proibir de “mentir em favor da
humanidade” é simplesmente o fato de que não posso universalizar
tal procedimento como uma máxima. Imperativo categórico, portanto,
está fora do campo da sensibilidade, do empírico, do mundo causal,
e se situa fora do “reino da necessidade” para hospedar-se no
“reino da liberdade”.
Qualquer
manual de filosofia do ensino médio ensina isso que Karnal não
sabe. Ele não fez direito não só a faculdade, mas o ensino médio.
Por
que Karnal erra? Por má formação mas, também, por se achar
sabidão. Ele não leu Kant, não estudou. Qualquer garoto de colégio
sabe o imperativo categórico. Mas Karnal se acha tão bom que ele
leu a palavra “categórico” e imaginou que poderia falar dela.
Não percebeu que filosofia é um assunto técnico. E eis que
inventou que a fome no animal é um imperativo categórico. Ou seja,
animais para ele não têm ética, ora, mas já que seguem um
imperativo categórico, então, deveríamos alertá-lo, são os
animais que têm ética! Acho que se eu disse isso a ele, nada
adiantaria, não perceberia a ironia.
O
mais triste disso tudo é saber que tipos como o Karnal, se lerem
esse meu puxão de orelha, não vão parar de dar palestras e voltar
a estudar. Não, vão continuar fazendo o serviço porco, pegando
dinheiro de gente que não sabe que está aprendendo errado. É muito
ruim que o Brasil esteja assim, muito mesmo. Antes, quem cometia
esses erros eram os autodidatas, agora, é professor universitário!
Putz! Como chegamos nisso?!
Parabéns! Adorei cada linha!
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