Sol novo a cada dia
A
maioria das pessoas (umas mais, outras menos) tem a insensatez de, ou se
preocupar demais com o futuro – esse tempo vago, que ainda não aconteceu (e
para muitos, não vai acontecer jamais) – ou com o passado –, que não pode mais
ser modificado –, embora alguns dos erros cometidos (não todos) possam,
eventualmente, ser reparados.
Ficamos
aflitos, por exemplo (não sem razão, convenhamos), quando estamos desempregados
e somos impedidos, dessa forma,. de fazer o que mais gostamos e/ou mais
sabemos. Fora, evidentemente, a frustração de não poder prover nosso sustento e
o da nossa família. É uma situação, infelizmente, bastante comum nessa época
dita de globalização econômica, a que a maioria das pessoas está cada vez mais
sujeita. Um dos efeitos mais perversos do desemprego, talvez maior do que o
econômico, é a queda, quando não a supressão da auto-estima.
Mais
prudente e prático, porém, em vez de nos entregarmos à aflição, à indolência e
ao desespero, é arregaçarmos as mangas e partirmos para a luta. É buscarmos
soluções, se não definitivas, pelo menos emergenciais. É persistirmos,
persistirmos e persistirmos, teimosa e reiteradamente, sempre, sem descanso e
sem desânimo face aos percalços e obstáculos desse dia, ou do vindouro, ou de
outros tantos do porvir. Amanhã tudo pode ser diferente, talvez com a
providencial ajuda do acaso. O que temos a fazer é revermos a estratégia e
mudá-la, quando ela se mostrar ou improdutiva, ou então inconveniente para a
conquista dos nossos objetivos.
Há
quem insista em ficar refém do passado, como se a vida houvesse acabado, tanto
diante de algum fracasso, como se tudo estivesse irremediavelmente perdido;
quanto face ao sucesso, julgando que sua cota de contribuição à sociedade já
esteja cumprida e não haja mais nada a fazer. As duas situações são
equivocadas. A luta do homem, as suas obrigações e obras, só terminam com a
morte. E esta (felizmente) não sabemos como, onde e principalmente quando vai
acontecer. Tanto pode ser várias décadas
à frente, quanto no segundo seguinte.
Nossa obrigação só expira com nosso último suspiro.
Quem
age dessa forma omissa, e até covarde (e não são poucos), deixa de viver
plenamente as alegrias do presente. Perde a preciosa chance (talvez a última,
talvez a única) de tentar mudar (para melhor, evidentemente) uma realidade
adversa, ou nem sempre (quase nunca?) de acordo com as expectativas. Cada novo
dia, porém, é uma oportunidade que a vida nos dá.
É
uma possibilidade – iminente ou remota, não importa –, de tentarmos realizar os
nossos projetos, de concretizarmos o nosso adormecido e inexplorado potencial,
de surpreendermos o mundo e de, assim, mudarmos situações que nos sejam, ou
pelo menos pareçam, negativas. Afinal, as aparências vivem a nos pregar peças e
a enganar nossos sentidos (até mesmo o nosso intelecto).
Jorge
Luís Borges indaga, com pertinência, a propósito: “Que é o nosso passado, senão
uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar
o passado?”. Sim, que diferença existe? Em termos práticos, nenhuma!
Fernando
Pessoa, por seu turno, em sua “Ode de Ricardo Reis – I”, nos dá a “fórmula de
grandeza”:
“Para ser
grande, sê inteiro: nada
teu exagera ou
exclui.
Sê todo em cada
coisa.
Põe quanto és
no mínimo que
fazes.
Assim em cada
lago a lua toda
brilha, porque
alta vive”.
Integridade!
Este é o segredo dos vencedores! Claro que, sendo íntegros, não temos nunca a
certeza da vitória! Nunca se tem! Mas, “escondendo-nos” no passado, ou nos
limitando a “sonhar” com o futuro, podemos estar certos de uma coisa: o
fracasso será fatal!
Erich-Marie Remarque acentua, na boca
de uma personagem, em seu romance “O Obelisco Negro”: “Morremos um pouco cada
dia, mas cada dia também já vivemos um pouco mais”. E Morris West nos lembra,
no livro “O Verão do Lobo Vermelho”: “...É assim que as coisas mais importantes
acontecem em nossas vidas. Seguimos através de raciocínios, fantasias, medos,
frustrações, vastos e desolados hectares de tempo em que nada se faz. Então, um
belo dia, o médico chega e diz que estamos morrendo ou a moça vem e diz que
está grávida ou que a bolsa caiu de repente e estamos pobres ou um avião cai do
céu e nós morremos e temos de comparecer a julgamento sem os nossos
apontamentos”.
A imprevisibilidade, destaque-se, é a
marca registrada da vida. O que não podemos e muito menos devemos é desanimar,
ou, o que é pior, nos entregar à indolência. Afinal, um sol novo nasce a cada
dia...
Boa leitura!
O Editor.
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"Um copo vazio está cheio de ar". É o mesmo que “Morremos um pouco cada dia, mas cada dia também já vivemos um pouco mais”. Melhor adquirir um ponto de vista mais otimista, o que não é o meu caso.
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