sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A morte dos pássaros



O mundo vive, há já certo tempo, a apavorante expectativa de um desastre catastrófico, de conseqüências imprevisíveis, que tendem a ser muito mais graves do que o tsunami da Ásia, de dezembro de 2004; o terremoto do Paquistão, de 2005; o furacão Katrina, que quase varreu do mapa a cidade norte-americana de Nova Orleans, enfim, de todos os desastres naturais ou provocados pelo homem dos últimos (alguns dizem que de todos) os tempos.

A ameaça não vem do espaço, de um possível choque de algum gigantesco meteorito, ou de um cometa, com a Terra. Nem da possibilidade, sempre presente, da explosão de algum artefato nuclear, dos milhares que estão estocados nos arsenais dos detentores dessas armas, acidental ou intencional. Muito menos da ocorrência de algum acidente em uma das centenas de usinas atômicas existentes no mundo – algumas mal-conservadas, arcaicas e com normas de segurança ultrapassadas – como o ocorrido em Chernobyll, em 1985, que espalhou terror e morte na Ucrânia, então território da extinta União Soviética.

A ameaça em questão não provém, igualmente, do aquecimento global, do derretimento das geleiras dos pólos (a maior delas, situada na Patagônia, Sul da Argentina, sofreu, há dez anos, um gigantesco desmoronamento), que quando ocorrer, tende a destruir centenas de pequenas, médias e grandes cidades litorâneas e, até mesmo, países inteiros.

O “vilão” que vem tirando o sono das autoridades nos últimos tempos, e mobilizando pesquisadores dos mais diferentes lugares, é pequeno, minúsculo demais, microscópico, quase invisível até nos mais potentes microscópios eletrônicos, cujo diâmetro é oito mil vezes menor que o de um fio de cabelo. Mas seu potencial destrutivo... É aterrorizante! Refiro-me ao H5N1, o vírus da gripe aviária, que tende, conforme garantem especialistas, caso sofra mutação que o torne transmissível de pessoa a pessoa, a produzir uma pandemia que, caso seja configurada, seria incontrolável, com os recursos que a Medicina dispõe hoje.

Quem fez essa sombria previsão, há já algum tempo (em 2005), e garantiu, até, que a catástrofe iria ocorrer de fato e em poucos meses (claro que não precisou quantos, mas graças a Deus errou nisso), foi o ainda hoje diretor do Centro de Pesquisa sobre Doenças Infecciosas dos EUA e professor da Escola de Medicina da Universidade de Minnesota, Michael Ostherholm. Como se vê, não foi um maluco qualquer, atormentado por visões apocalípticas, pregando que os homens se arrependam dos seus pecados para não serem destruídos pela ira divina, que fez esse dramático alerta. Foi um cientista de peso, que sabe (presume-se) o que diz.

Outros especialistas afirmaram na ocasião que a pandemia iria acontecer em no máximo 18 meses, e que, provavelmente, iria matar em torno de 50 milhões de pessoas! Até o momento, esta catástrofe não ocorreu, mas isso não garante que não possa acontecer. Até pode e sem qualquer aviso prévio! Assustador, não é mesmo? As estimativas eram de que o vírus (cujo nome deriva das proteínas que o formam, com a letra “H” significando “hemaglutinina”, a “N”, “neuraminidase” e os números, a quantidade de moléculas de cada uma delas) chegaria ao Brasil, o mais tardar, até setembro de 2006. Se chegou (e creio que sim) não fez os estragos potenciais que poderia ter feito. Mas... nunca se sabe. Que Deusm pois, nos ajude e faça com que nenhuma previsão apocalíptica como essa se concretize!

Na tentativa de impedir o avanço da gripe aviária, relativamente frustrada, mais de 100 milhões de aves foram sacrificadas, notadamente frangos, sobretudo na Ásia, mas não só lá. Fosse mantido esse ritmo original, elas seriam os primeiros seres vivos da nossa era a serem extintos por completo, como teria ocorrido com os dinossauros e todos os outros grandes sáurios, há 65 milhões de anos, mas por razões diferentes das atuais. Ou seja, em virtude do choque de um gigantesco meteorito, ou de um cometa, com a Terra.

Interessante é que, em 10 de julho de 1965, há quase 41 anos dessa manifestação aguda da gripe aviária, escrevi um soneto, que até hoje me intriga, descrevendo situação parecida com essa. Desconheço o que o motivou. Simplesmente comecei a escrever e saiu isso aí, que intitulei de “A morte dos pássaros”:

“Morreram pássaros! Cessou poesia!
O mundo inteiro se tornou silente...
A catástrofe deu-se de repente
tornando a Terra árida e vazia...

A vida cessou...Nada mais existe!
Nem os meus versos isentos de metro.
Eu não existo! Sou simples espectro
imóvel, inútil, vazio e triste!

Desde o Brasil ao longínquo Laos,
da alta Sibéria até a Argentina
e desde os Alpes à região andina

nas negras sombras todos se perderam!
Tudo vazio... Pássaros morreram...!
Cessou a poesia...! Já reina o caos!”

Seria premonição? Seria mero acaso? Seria delírio? Não sei. Tomara que não seja nada disso.  O que será que me motivou a escrever estes versos, que hoje soam proféticos, embora, convenhamos, sem nenhum valor literário? É arrepiante! Felizmente, por enquanto, não ocorreu a propalada mutação do vírus H5N1 e o contágio do vírus se dá, somente, por contato direto com as aves contaminadas.

Tomara que todos os especialistas estejam errados, que o agente patogênico seja erradicado da Terra antes de se tornar um mutante e que a morte dos pássaros não passe de um delírio de um poeta, normalmente equilibrado, mas que pode ter sido vítima de uma dessas fantasias absurdas, frutos de medos secretos, mas sem a mínima possibilidade de ocorrer. Tomara!!!


Boa leitura!


O Editor.

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Um comentário:

  1. Gostei do delírio e da análise dele, além do motivo para a publicação do poema.

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