sábado, 24 de setembro de 2016

Anactoria


* Por Algemon Charles Swinburn


A minha vida tornou-se amarga com o teu amor; os teus olhos
Cegam-me, as tuas tranças queimam-me, os teus suspiros profundos
Dividem a minha carne e o meu espírito com um débil som,
E o meu sangue fortalece-se, e as minhas veias transbordam.
Peço-te que não suspires, não fales, não respires;
Deixa que a vida se reduza a cinzas e sonha que não é a morte.
Queria que o mar nos tivesse escondido, o fogo
(Terás tu medo disso e não receias o meu desejo?)
Quebrou os ossos que branqueiam, a carne que se fende,
E deixa que as nossas cinzas joeiradas caiam como folhas.
Sinto o teu sangue contra o meu; a minha dor
Atormenta-te, e os lábios esmagam os lábios, a veia dilacera a veia.
Que o fruto seja esmagado sobre o fruto, e a flor sobre a flor,
Que o seio desperte o seio e ambos ardam uma hora.
Porque hás tu de seguir um amor sem importância?É o teu
Demasiado fraco para sustentar estas minhas mãos e estes meus lábios?
Exorto-te a que apenas por mim, ó tão amada,
Esmagues o amor com teus belos pés cheios de crueldade,
Exorto-te a que afastes teus lábios dos dela ou dos lábios dele,
Tão doces, até que eles sejam mais doces que o meu beijo:
Para que assim eu não atraia, uma andorinha em vez de uma pomba,
Erotion ou Erinna para o meu amor.
Quem dera que o meu amor te matasse; fico saciado
vendo os vivos e de bom grado te queria morta.
Quem me dera a terra tivesse o teu corpo como fruto para comer,
E que nenhuma boca a nãos ser a de uma serpente te achasse doce.
Quem me dera encontrar maneiras cruéis de mandar matar,
Instrumentos violentos e um excessivo fluxo de dor;
Atormentar-te com agonias amorosas e ameaçar
A vida nos teus lábios e deixá-la aí para doer;
Retirar-te a alma com agonias demasiado suaves para matar,
Interlúdios intoleráveis e infinito mal;
Provocar reincidências e relutância do alento,
Melodias mudas e trêmulos murmúrios da morte.
Estou cansado de todas as tuas palavras e da tua estranha afabilidade,
De todas as noites escaldantes de amor e de todos os seus dias,
E de todos os beijos interrompidos, salgados como espuma,
Que lábios trêmulos tornam úmidos com um vinho mais leve,
E olhos mais azuis por todas aquelas horas escondidas
Que o prazer enche de lágrimas e alimenta de flores,
Cruel fogo no coração que principia a penetrá-lo,
Mas deixando uma brancura de flor manchada à volta de azul;
A pálpebra inferior ardente,e a superior
Erguida com um sorriso ou confundida com o amor;

(Fragmento)

(Tradução de Maria de Lourdes Guimarães)


*  Poeta, dramaturgo, romancista e crítico inglês da época vitoriana, conhecido pela controvérsia gerada no seu tempo pelos seus temas sadomasoquistas, lésbicos, fúnebres e anti-religiosos. 

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