Anactoria
* Por
Algemon Charles Swinburn
A minha vida tornou-se
amarga com o teu amor; os teus olhos
Cegam-me, as tuas
tranças queimam-me, os teus suspiros profundos
Dividem a minha carne
e o meu espírito com um débil som,
E o meu sangue
fortalece-se, e as minhas veias transbordam.
Peço-te que não
suspires, não fales, não respires;
Deixa que a vida se
reduza a cinzas e sonha que não é a morte.
Queria que o mar nos
tivesse escondido, o fogo
(Terás tu medo disso e
não receias o meu desejo?)
Quebrou os ossos que
branqueiam, a carne que se fende,
E deixa que as nossas
cinzas joeiradas caiam como folhas.
Sinto o teu sangue
contra o meu; a minha dor
Atormenta-te, e os
lábios esmagam os lábios, a veia dilacera a veia.
Que o fruto seja
esmagado sobre o fruto, e a flor sobre a flor,
Que o seio desperte o
seio e ambos ardam uma hora.
Porque hás tu de
seguir um amor sem importância?É o teu
Demasiado fraco para
sustentar estas minhas mãos e estes meus lábios?
Exorto-te a que apenas
por mim, ó tão amada,
Esmagues o amor com
teus belos pés cheios de crueldade,
Exorto-te a que
afastes teus lábios dos dela ou dos lábios dele,
Tão doces, até que
eles sejam mais doces que o meu beijo:
Para que assim eu não
atraia, uma andorinha em vez de uma pomba,
Erotion ou Erinna para
o meu amor.
Quem dera que o meu
amor te matasse; fico saciado
vendo os vivos e de
bom grado te queria morta.
Quem me dera a terra
tivesse o teu corpo como fruto para comer,
E que nenhuma boca a
nãos ser a de uma serpente te achasse doce.
Quem me dera encontrar
maneiras cruéis de mandar matar,
Instrumentos violentos
e um excessivo fluxo de dor;
Atormentar-te com
agonias amorosas e ameaçar
A vida nos teus lábios
e deixá-la aí para doer;
Retirar-te a alma com
agonias demasiado suaves para matar,
Interlúdios
intoleráveis e infinito mal;
Provocar reincidências
e relutância do alento,
Melodias mudas e
trêmulos murmúrios da morte.
Estou cansado de todas
as tuas palavras e da tua estranha afabilidade,
De todas as noites
escaldantes de amor e de todos os seus dias,
E de todos os beijos
interrompidos, salgados como espuma,
Que lábios trêmulos
tornam úmidos com um vinho mais leve,
E olhos mais azuis por
todas aquelas horas escondidas
Que o prazer enche de
lágrimas e alimenta de flores,
Cruel fogo no coração
que principia a penetrá-lo,
Mas deixando uma
brancura de flor manchada à volta de azul;
A pálpebra inferior
ardente,e a superior
Erguida com um sorriso
ou confundida com o amor;
(Fragmento)
(Tradução de Maria de
Lourdes Guimarães)
*
Poeta, dramaturgo, romancista e crítico
inglês da época vitoriana, conhecido pela controvérsia gerada no seu tempo
pelos seus temas sadomasoquistas, lésbicos, fúnebres e anti-religiosos.
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