terça-feira, 20 de setembro de 2016

Um dia feliz na Granja

* Por Carlos Bozzo Junior


De todos os perigos que rondam o viajante que sai de São Paulo em busca de um lugar para passar o sábado - ou o domingo - pertinho da capital, um deles é não querer voltar. Isso acontece com muita gente que vai, por exemplo, à Granja Viana. Espalhando-se por áreas das cidades vizinhas de Cotia e Carapicuíba, a Granja poderia passar como um distrito verde de São Paulo, já que grande parte de seus moradores trabalha na metrópole. A região tem seu principal acesso pela Avenida São Camilo, no quilômetro 24 da Rodovia Raposo Tavares, pouco depois do Rodoanel. Para os iniciantes, uma informação relevante: não há pedágio no caminho.

Nos anos 1940, a área era uma grande fazenda, ou granja, como se dizia, de leite, propriedade do empresário Niso Vianna. Mais para a frente, nos anos 1980, paulistanos passaram a ocupá-la, vivendo em propriedades imensas, impensáveis para os padrões e valores da capital. De maneira espontânea, a Granja tornou-se uma antítese ao estilo de vida da metrópole. Em vez do fast-food delivery, almoço de família; a substituir o playground raramente visitado do prédio, quintais cheios de árvores e cães labradores.

Mas não é preciso ter um desses amigos latifundiários na Granja para desfrutar da região. Ela está repleta, por exemplo, de novidades gastronômicas, muitas delas bastante acessíveis. É o caso do recentíssimo Xin Hua, com bufê de pratos chineses e japoneses ao preço fixo de R$ 28,90 (no almoço de terça a sexta), e do Don Camillo, de cozinha cantineira. Na Granja há ainda A Tal da Pizza, uma pizzaria estrelada pelo GUIA BRASIL onde o cliente pega a própria bebida na geladeira, o Félix Bistrot, restaurante francês que ocupa uma bela casa com piscina, e, entre outras especialidades, churrascarias e restaurantes vegetarianos.

Pais com filhos pequenos têm a região entre as "favoritas" de seu GPS ou coisa que o valha. É que lá ficam não uma mas logo três dessas minifazendas onde a meninada tem contato com animais, ordenha vacas, corre atrás de pavões. Uma delas é a Cia. dos Bichos, que mantém também emas e jegues, além de uma casa de pau a pique com cozinha típica, aberta, onde os grandes tomam café passado em coador de pano e os pequenos preparam pães ou biscoitos no forno a lenha. A ordenha da vaca - hit do parque - é acompanhada por uma encenação didática e bem-humorada dos monitores. A Bichomania, que tem ainda quatis e macacos-prego em seu elenco, e o Pet Zoo, com seus coelhos e ovelhinhas, são outras opções, já bem mais próximas do centro de Cotia. Mais "holística" é a Floresta dos Unicórnios, uma área particular imensa do industrial Michel Haradom que é utilizada para atividades de conservação e difusão de ensinamentos de sustentabilidade. O Ibama manda para lá animais vítimas de comércio ilegal e maus-tratos, e a Floresta os reabilita. É possível ver parte desses cerca de 5 mil bichos por trás de enormes viveiros. A população de pavões - uns 700 - se reproduziu ali. Aos fins de semana, há oficinas e palestras, mas é preciso agendar antes de ir. Em março, os proprietários celebravam o nascimento de um filhote de veado.

Crianças um pouco mais crescidas vão enlouquecer com outra atração da região, o Kartódromo Internacional Granja Viana. Frequentado pelos pilotos Rubinho Barrichello, Felipe Massa e Tony Kanaan, entre outros, ele é tocado por Felipe Giaffone, ex-piloto da Indy americana e atual da Fórmula Truck brasileira (a dos caminhões). Em seu kartódromo só se vai à pista, de 1 140 metros e ao ar livre, com equipamento de segurança (capacete, luva, macacão).

Como nas competições oficiais de automobilismo, há uma tomada de tempo para definir o "grid" de largada, de cinco minutos. A prova dura de 20 a 25 minutos. Rogerio Vieira de Alencar, 34 anos, analista de sistemas, conheceu o kartódromo com os amigos e resolveu trazer depois a mulher. "Vim correr com uns amigos e me apaixonei. É um programa divertido, antiestresse mas com muita segurança", diz. "Dá para passar um dia bem feliz". Os carros não excedem os 85 quilômetros por hora, mas, como o kart é muito baixo, a sensação de velocidade é poderosa.

A Granja andou recentemente pelas páginas dos jornais por causa de um grande lançamento que ocupará uma de suas últimas áreas verdes, inclusive com remanescentes de Mata Atlântica, o Alphaville Granja Viana. Estima-se que já foram abatidos 28 campos de futebol de mata. O Movimento em Defesa da Granja Viana (MDGV), que se reúne justamente na Floresta dos Unicórnios, foi à Justiça contra o empreendimento, que englobará uma Área de Preservação Permanente (APP), terá as casas sem muro no estilo de Alphaville e trará, com certeza, mais congestionamentos à principal via da Granja, a Avenida São Camilo. O projeto, somado à estreia do trecho sul do Rodoanel, que vai aproximar a região à Zona Sul de São Paulo e ao litoral, é também um dos fatores do encarecimento dos terrenos por lá. Se você considerava mesmo o risco de não voltar de sua visita à Granja, eis uma notícia para, quem sabe, tranquilizá-lo.


* Crítico musical

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