quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Como você consegue fazer tudo isso?


* Por Mara Narciso


Alguém responde: é dom! Não é tudo. É preciso talento, esforço e coragem. Os grandes desenvolveram aptidões e habilidades. E quando duas almas talentosas se encontram, no caso, os cantores deste show, Leila Brito e Aristonio Canela, acontece o big bang, uma explosão que não para de se expandir. Coisa de conjunções astrais.

A platéia nem imagina o que será aquele teatro-musical. Faz parte das comemorações do Jubileu de Ouro da Academia Montesclarense de Letras - registrada sem hífen.  Dos 40 imortais da Academia cinquentenária, catorze estão no Centro Cultural Hermes de Paula. São eles Maria Luiza Teles, Wanderlino Arruda, Glorinha Mameluque, Raquel Mendonça, Dário Cotrim, Ivana Rebello, Zoraide Davi, Dorislene Araújo, Amelina Chaves, Juvenal Durães, Ruth Veloso, Edson Andrade, Lola Chaves, e Aristonio Canela, que está concentrado, pois atuará em minutos.

Luzes apagadas, o show começa. No fundo do palco uma tela mostra um mar revolto em tempestade e trovões estrondam, criando uma atmosfera de apreensão. Então, vinda do fundo do auditório, indo na direção do palco, uma voz cavernosa reverbera versos em tom apocalíptico. Luz sobre ela. É um homem centenário. Não, não é um homem, é o Tempo, veste uma túnica branca e tem imensos barba e cabelos brancos. Sobe ao tablado, lê coisas numa Bíblia. Fala sobre a passagem dele próprio, e então some entre as cortinas, arrastando em sandálias sua eternidade, toda ela apoiada num bastão tortuoso.

“Feitiço do Tempo”, uma criação de Aristonio Canela tem como verso de capa “Venha ver, viajante, a veia da vida vibrar”. Os cantores/atores são Leila Brito e o autor, médico do trabalho e ortopedista, imortal da Academia homenageada, músico, cantor e compositor, é gente de muitos talentos, como já se verá. Ele fez as melodias, letras, textos e concepções de arranjos do show. Durante uma hora o casal se reveza no palco, algumas vezes, aparecendo em dupla, mostrando música e figurinos de tempos idos, mas pouco distantes, com ênfase na moda hippie.

Leila Brito, a cantora protagonista, formada em Artes-música, pela Unimontes, é educadora musical, multipremiada, tem 28 anos de carreira e, eclética, canta do popular regional ao erudito. Faz tudo com a voz, sobe, desce, avança, grita, sussurra, interpreta, faz a platéia subir junto com ela, numa atuação de diva, mais uma vez. Seu talento pode ocupar qualquer palco, e já atuou com brilho em muitos deles, Brasil afora, levando, habilmente, o público embalado pelo seu canto. Voz imensa, dentro de um corpo pequeno, é chamada pelo compositor, mais de uma vez de rouxinol. E é tudo isso. Destaque para os agudos no refrão “quem disse que o amor não pode ser eterno? Quem disse que não pode haver primavera no inverno?” As composições carregadas de lirismo encontram empenho e força na interpretação de Aristonio Canela. O público hipnotizado comporta-se como se acompanhasse o flautista de Hamelin. O cantar de ambos é um convite de siga-me.

Saulo Leoni, o pianista internacional que assina a direção musical e os arranjos, toca todas as músicas e ainda segura os intervalos das trocas rápidas com grande categoria. O dueto do piano com o acordeom de Wanderson Almeida (som e iluminação) faz vibrar até o subsolo. Para o número dos anos 1960 surgem em cena o baterista Arielson Pogian, o saxofonista Felipe Frascarole, um vestido de bolinhas, e um ar retro.  A manifestação artística segue harmoniosa durante uma hora de prazer, sendo finalizada com breves palavras da presidente da entidade, Maria Luiza Teles, e a subida ao palco de nove acadêmicos.

Todos merecem sentir aquilo daí, algo que nos foi dado, distribuído generosamente, para os nossos aplausos e pedidos de bis. Não tão poucos, nós, os privilegiados.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   


2 comentários:

  1. Muito bom, Mara. Falando em Montes Claros, penso sua cidade está de parabéns pela posse da filha ilustra, Carmen Lúcia, na Presidência do STF. Particularmente, acho que ela fará uma ótima gestão. Abraços!

    ResponderExcluir
  2. Sim, Marcelo. Estamos orgulhosos dela ter chegado lá. Obrigada pelo comentário e lembrança.

    ResponderExcluir