Jandira
* Por
Fábio Maia e Silva
“Como você vai embora
hoje?” Esta era a frase matadora de Jandira, tida como a predadora insaciável
do Bixiga. Não que Jandira tivesse o costume de viajar à Polônia para caçar
ursos na selva, mas sim uma predadora no sentido de conquistar todo homem que
ela julgasse atraente. No que diz respeito ao jogo da sedução, Jandira não
brincava em serviço e sempre abatia suas presas.
Sua frase marcante foi
dada pelo fato de ser a única que possuía carro. Jandira era mais velha, já
trabalhava e tinha dinheiro enquanto a preocupação de nós, homens, era apenas
brincar de bater bafo ou jogar bola no quintal da Dona Elza. Quando tínhamos
alguma festa para ir, dependíamos sempre de alguma carona para voltar pra casa,
e Jandira era uma opção iminente – apesar do suspense que circulava sobre o que
poderia acontecer no carro no trajeto da volta.
Ela já havia abatido
quase todos nós. O Ricardo foi o primeiro. Garoto inocente, sempre brincalhão,
tinha um belo físico pelo qual Jandira sempre comentava. Não deu outra: na
quermesse do bairro, Ricardo sumiu trinta minutos antes do final da festa. No
dia seguinte, descobrimos tudo o que tinha acontecido: Jandira o havia atacado
como um tubarão ataca uma foca. Jandira de fato não brincava em serviço.
Ficamos todos apreensivos. Qualquer um de nós poderia ser o próximo. Não
podíamos mais escutar as palavras “embora” e “hoje” na mesma frase sem ter um
pequeno ataque de pânico.
Felizmente minha vez
nunca chegou. Até hoje refletimos sobre o que poderia ser o causador daquele
frenesi que atiçava Jandira a tentar conquistar todos os garotos do bairro.
Solidão? Carência? Medo de dirigir sozinha à noite? Seja o que for, o engraçado
é perceber como algumas coisas na vida nunca mudam, e depois de me deparar com
Jandira em uma festa, anos depois, sua primeira frase ao vir me cumprimentar,
foi: “Tá crescidinho, hein? Já sabe como vai embora hoje?”
*
Jornalista
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