Nelson
Rodrigues, o anjo pornográfico.
* Por
Evelyne Furtado
"Sou
um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci
menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha
ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico”.
Nélson Rodrigues.
As palavras acima
revelam o homem Nelson Rodrigues por ele mesmo. Anos depois Ruy Castro deu o
título de Anjo Pornográfico à biografia do genial dramaturgo e delicioso
cronista pernambucano.
A minha iniciação aos
livros deu-se à margem de Nelson Rodrigues. Sabia que o dramaturgo era
considerado maldito, louco por futebol e só.
Assisti a
"Vestido de Noiva" na tv, ainda adolescente. Confesso que achei muito
estranho os sentimentos entre as duas irmãs e a tentativa de assassinato de
Alaide, a noiva. Na verdade achei um horror!
Nelson era isso. Ele
tirava todos os sentimentos "feios" debaixo do tapete e os jogava na
cara da sociedade hipócrita. Sendo ele próprio um moralista, o que só depois
descobri.
Na década de 90, Ruy
Castro reuniu e publicou as crônicas de Nelson Rodrigues em alguns volumes. Foi
paixão à primeira vista: o primeiro que li, me atraiu e me levou a mergulhar no
universo "rodrigueano".
Cronista ousado,
falava do Rio de Janeiro e dos seus habitantes, de política, de futebol e de
amor. Brincava com alguns protagonistas da cena nacional como José Dirceu, na
época um lindo líder estudantil, Otto Lara Rezende, seu amigo a quem ofereceu a
peça "Bonitinha mais Ordinária", com Chico Buarque e com o
intelectual católico, Alceu Amoroso Lima.
De todos os volumes, o
mais bonito na minha opinião é A Menina sem Estrelas, onde Nelson ternamente
fala de sua filhinha, que nasceu cega.
Foi em "O Anjo
Pornográfico", de Ruy Castro, todavia, que finalmente cheguei perto de
entender Nelson Rodrigues, o menino que nasceu em Recife e veio com a família
para o Rio, onde o seu pai lançou um jornal sensacionalista.
O homem Nelson
Rodrigues foi visitado pela tragédia desde muito cedo. Quando tinha 17 anos
perdeu um irmão assassinado e logo depois o pai. Teve tuberculose e viu outro
irmão morrer dessa doença na época incurável.
Ainda perdeu Mário
Filho, seu irmão que deu o nome ao Maracanã e toda a família de outro irmão,
soterrada numa enchente no Rio de Janeiro.
Nelson reagiu à vida
como pôde. Sua dor era vingada utilizando a hipocrisia da própria sociedade;
chocando-a. Com lentes de aumento ele mostrava os desvios próprios dos seres
humanos e matava a todos de constrangimento.
Eu conheci, amei e
compreendi Nelson Rodrigues após a sua morte. No fundo um ressentido, um
moralista, um menino assustado.
Ao mesmo tempo era um
homem extremamente amoroso e romântico que dizia “que o verdadeiro amor não se
assoa", exaltando a dor da cunhada, que chorava a perda do marido e não
assoava o nariz.
*
Poetisa e cronista de Natal/RN.
Eu ainda não compreendi Nelson Rodrigues. Li O Anjo Pornográfico, de Ruy Castro e Véu de Noiva, a peça Teatral de Nelson. Vi todos os filmes que foram feitos, e também coisas da televisão. Ele sempre gerou Ibope e polêmica, ainda hoje. Deve ser por que foi bom e criou algo novo.
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