terça-feira, 20 de setembro de 2016

Reflexo


* Por Eduardo Oliveira Freire


Segurava a mala com força... Mesmo que não tinha muita coisa. Mas Laura sentia orgulho de carregar as fotos dos pais falecidos, da tia que a criou com muita disciplina para ser tornar numa mulher de bem, os livros de pedagogia e a bíblia. Era professora e recebeu uma proposta de emprego para ser governanta. Laura teve um breve arrepio quando chegou à mansão centenária. Mas manteve a postura severa ao se apresentar aos empregados e ao seu futuro aluno, um rapaz de quatorze anos, Antônio.

Laura achou-o estranho, um menino com uma postura de homem maduro. Os primeiros dias foram tranquilos, Antônio parecia ser muito educado. Entretanto, um dia, ele falou sobre a antiga governante que havia se suicidado. Comentou que havia boatos que foi desespero por estar grávida. Laura ao ver os olhos dele não entendeu a malícia em seus olhos. Inclusive, quando disse que a outra só vivia na mansão e nunca a viram com ninguém.

Depois, Antônio lhe deu um livro e lhe fez uma recomendação para ler. Laura só lia livros da área de educação e ao pegar o livro, considerou o título estranho: A VOLTA DO PARAFUSO. Os momentos serenos se transformaram em opressores. Laura à medida que lia o livro percebia que aconteciam situações semelhantes. Tinha a impressão de que a história era um espelho. Ela e a governanta do romance eram a mesma pessoa. Antônio tornava-se cada vez mais estranho e sedutor. Tocava Laura de leve e a olhava fixamente. Questionou-se da mansão ser assombrada, já que quando o sol mudava de posição, a luz e as sombras dos recintos produziam formas melancólicas e opressoras. Pensou no fantasma da antiga governanta e quem a engravidou realmente? Perguntou aos antigos empregados que respondiam com meias palavras e saiam apressados. Uma vez, quando estava no banho, sentiu-se observada. Percebeu um discreto buraco.

Outra ocasião, sentiu alguém a beijá-la na alta madrugada, só viu o vulto a se esconder na esquina do corredor. Será que aconteceu ou foi fruto da sua imaginação? Devorava o livro e, depois de terminar a leitura, concluiu que deveria salvar Antônio, que estava sendo influenciado pela antiga governanta. Decidiu confrontá-lo. Antônio riu dela e a chamou de tola e que tudo era fruto da imaginação de uma solteirona que não conhece nada da vida. Laura decidiu ir embora, tinha a certeza que estava num lugar maldiçoado. Foi ao seu quarto para arrumar suas coisas. De repente, sentiu uma presença e viu um vulto de mulher na janela. Quase gritou, mas manteve a calma.

O táxi que tinha chamado já estava à espera. Dias depois, na casa da tia, viu no noticiário que a mansão pegou fogo inexplicavelmente, matando Antônio que não conseguira fugir. Ficou perplexa e triste por não poder salvar o menino. Quando foi ao seu quarto, encontrou o livro na sua cama.

Não o tinha colocado na mala.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/



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