Reflexo
* Por
Eduardo Oliveira Freire
Segurava a mala com
força... Mesmo que não tinha muita coisa. Mas Laura sentia orgulho de carregar
as fotos dos pais falecidos, da tia que a criou com muita disciplina para ser
tornar numa mulher de bem, os livros de pedagogia e a bíblia. Era professora e
recebeu uma proposta de emprego para ser governanta. Laura teve um breve
arrepio quando chegou à mansão centenária. Mas manteve a postura severa ao se
apresentar aos empregados e ao seu futuro aluno, um rapaz de quatorze anos,
Antônio.
Laura achou-o
estranho, um menino com uma postura de homem maduro. Os primeiros dias foram
tranquilos, Antônio parecia ser muito educado. Entretanto, um dia, ele falou
sobre a antiga governante que havia se suicidado. Comentou que havia boatos que
foi desespero por estar grávida. Laura ao ver os olhos dele não entendeu a
malícia em seus olhos. Inclusive, quando disse que a outra só vivia na mansão e
nunca a viram com ninguém.
Depois, Antônio lhe
deu um livro e lhe fez uma recomendação para ler. Laura só lia livros da área
de educação e ao pegar o livro, considerou o título estranho: A VOLTA DO
PARAFUSO. Os momentos serenos se transformaram em opressores. Laura à medida
que lia o livro percebia que aconteciam situações semelhantes. Tinha a
impressão de que a história era um espelho. Ela e a governanta do romance eram
a mesma pessoa. Antônio tornava-se cada vez mais estranho e sedutor. Tocava
Laura de leve e a olhava fixamente. Questionou-se da mansão ser assombrada, já
que quando o sol mudava de posição, a luz e as sombras dos recintos produziam
formas melancólicas e opressoras. Pensou no fantasma da antiga governanta e
quem a engravidou realmente? Perguntou aos antigos empregados que respondiam com
meias palavras e saiam apressados. Uma vez, quando estava no banho, sentiu-se
observada. Percebeu um discreto buraco.
Outra ocasião, sentiu
alguém a beijá-la na alta madrugada, só viu o vulto a se esconder na esquina do
corredor. Será que aconteceu ou foi fruto da sua imaginação? Devorava o livro
e, depois de terminar a leitura, concluiu que deveria salvar Antônio, que
estava sendo influenciado pela antiga governanta. Decidiu confrontá-lo. Antônio
riu dela e a chamou de tola e que tudo era fruto da imaginação de uma
solteirona que não conhece nada da vida. Laura decidiu ir embora, tinha a certeza
que estava num lugar maldiçoado. Foi ao seu quarto para arrumar suas coisas. De
repente, sentiu uma presença e viu um vulto de mulher na janela. Quase gritou,
mas manteve a calma.
O táxi que tinha
chamado já estava à espera. Dias depois, na casa da tia, viu no noticiário que
a mansão pegou fogo inexplicavelmente, matando Antônio que não conseguira
fugir. Ficou perplexa e triste por não poder salvar o menino. Quando foi ao seu
quarto, encontrou o livro na sua cama.
Não o tinha colocado
na mala.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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