domingo, 18 de setembro de 2016

Momentos de felicidade

A capacidade de ter (e de expressar) gratidão é uma das características das pessoas felizes. Elas nunca se consideram credoras da ajuda e da consideração dos que as cercam. E sabem ser gratas aos parentes, pelo carinho; aos cônjuges, pelo amor; e aos amigos, pela amizade manifestada. Victor Hugo constatou, em um de seus livros, que “os infelizes são ingratos”. E arremata: “a ingratidão faz parte da infelicidade deles”.

Temos tantos e tão variados motivos de gratidão bastando, para identificá-los, olharmos atentamente ao nosso redor. Devemos ser gratos aos nossos pais pela oportunidade da vida e pelos desvelos na nossa criação e pelos princípios que nos transmitiram, e à natureza, por nos proporcionar todos os recursos que asseguram nossa sobrevivência. Agindo assim, já teremos dado um grande passo para sermos felizes. Afinal, a felicidade não se acha por aí, mas se conquista, com sensibilidade e sabedoria. E com reconhecimento das coisas boas que nos acontecem e com a conseqüente gratidão, por termos esse privilégio.

Um dos maiores pecados que uma pessoa pode cometer, se não o maior de todos, é o de não ser feliz. É o de alimentar rancores, inveja, cobiça e egoísmo, em detrimento dos sentimentos nobres, das emoções sadias e dos atos de grandeza. A felicidade, ao contrário do que muitos pensam, não consiste na posse de bens materiais e nem na companhia de pessoas que os sirvam e bajulem. Estes até podem contribuir para que sejamos felizes, mas, sozinhos, não nos proporcionam essa desejada bem-aventurança. A felicidade não é nada concreto, visível ou palpável, mas um conceito, uma postura, um comportamento.

Há pessoas que a deixam de usufruir, por não a saberem sequer identificar, quanto mais valorizar o que de bom a vida lhes proporciona. Contam, por exemplo, com uma família unida e amorosa; são cercadas de afeto de múltiplos amigos por todos os lados, mas não sabem dar valor a esse magno privilégio, alheias ao fato de que a maioria não conta com essa bênção. Apostam na infelicidade e findam por, de fato, serem infelizes. Devemos ser pródigos em agradecimentos e parcimoniosos em reclamações. Caso contrário...Seremos  rematados tolos de chutar nossa felicidade para um lugar em que jamais a conseguiremos alcançar.

Ninguém, em lugar algum, é feliz o tempo todo. Isso não existe. Sempre haverá uma preocupação, uma angústia, um contratempo, um desgosto qualquer, pequeno ou grande, para nos atormentar. Isso, contudo, não pode influir em nosso humor, não pelo menos por muito tempo. A felicidade é constituída de “momentos”, mais ou menos duradouros, de acordo com nossas ações e, também, da nossa percepção. Um deles, por exemplo, é quando passamos por um desses campinhos improvisados de futebol do bairro e uma bola sobra, redondinha, pererecando, para nós. Mesmo engravatados, com a pasta 007 à mão e os sapatos de cromo alemão tolhendo os movimentos, conseguimos dominá-la, fazer duas ou três embaixadas sem que ela nos escape ou caia no chão, e endereçá-la, certeiramente, de volta à molecada, sob aplausos admirados (ou mesmo galhofeiros, não importa) dos meninos. Nesses instantes, nos sentimos, secretamente, o próprio Neymar a entortar os zagueiros adversários numa final da Copa da Uefa.

Outro momento de felicidade (pelo menos para mim) é quando passo o dia com meu neto e retorno, sem vergonha ou sem censura, à infância, revivendo, nele, os inocentes sonhos infantis que um dia acalentei. Outro, é quando de manhã, aos primeiros raios de sol, sigo em direção da padaria, para comprar leite e pão, com passo lento e preguiçoso, cumprimentando, à esquerda e à direita, vizinhos, conhecidos, amigos ou, principalmente, estranhos e recebo, em retribuição, um sorriso. Outro, ainda, é quando me dou conta de que praticamente cumpri com todas as obrigações que a vida me impôs, de que criei (e bem) meus quatro filhos, mas que ainda tenho saúde e disposição para usufruir as coisas boas que há no mundo. E há milhares e milhares de outros momentos, tantos que até me fogem da memória, em que sou grato por tudo o que tenho e pelo que sou, e em que estou em paz comigo mesmo. 

Um dos desafios mais árduos e, no entanto, mais compensadores, é o de aprender a lidar com frustrações de toda a sorte em nosso cotidiano e evitar que elas se transformem em crônicos aborrecimentos. Para o bem da nossa saúde física e mental, e para o bem-estar dos que nos cercam e que conosco convivem, devemos manter sempre constante o nosso bom-humor, sem permitir que qualquer incidente, seja de que tamanho ou natureza for, o comprometa e arruíne. Devemos ter em mente a sábia observação do filósofo Ralph Waldo Emerson: “Para cada minuto que você se aborrece perde sessenta segundos de felicidade”. Não parece, mas se trata de perda irreparável. Há pessoas que perdem não apenas um minuto, mas horas sem fim, dias, meses, anos, quando não a vida toda, acalentando mágoas, chateações e desejos de vingança, abdicando da possibilidade de serem felizes. Vale a pena abrir mão de tanto por tão pouco? Claro que não!

Há um mundo a ser conquistado, que desafia o nosso talento e a nossa competência. Para isso, porém, o medo de se expor tem que ser, necessariamente, deixado de lado. Objetivos claros e definidos precisam ser traçados (e seguidos rigorosamente). O resto... Bem, o resto é colocarmos no empreendimento tudo de nós. É aliar ação à emoção, técnica ao sentimento, conhecimento ao amor pelo que se faz.

Há tempos, ouvi, de alguém, uma citação, cujo autor desconheço, e que nunca mais me saiu do pensamento, que diz: “Quando nascemos, todos ao nosso redor riem e apenas nós choramos. Vivamos uma vida de tal sorte que, ao morrermos, todos chorem nossa partida e somente nós possamos sorrir, com a certeza do dever cumprido”. Isto é o que entendo por “ser feliz”. O resto? Bem, o resto.não conta. Isto sim é viver com alegria e entusiasmo. Ou, simplesmente, é viver!

Boa leitura!

O Editor.

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