Mais uma do Mauro Mota
* Por
José Calvino
A boemia sempre está
associada a um bar. Aqui no Recife existiu um bar chamado Savoy. Pelo Bar Savoy
passaram quase todos intelectuais e figuras proeminentes da região, conforme o
excelente livro chamado Bar Savoy, de autoria de Ediberto Coutinho.
Os poetas Carlos Pena
Filho e Mauro Mota o freqüentavam quase diariamente. O livro contém muitas
quadrinhas de Mauro Mota, chistosas e engraçadas, endereçadas aos colegas, nem
sempre de natureza muito amena.
Mauro Mota
bacharelou-se em Direito, mas dedicou-se mesmo ao jornalismo e ao magistério.
Era catedrático de Geografia, na então Escola Normal. Grandes mestres passaram
por lá e um deles foi Waldemar Valente, professor, médico (se orgulhava de ter
sido o primeiro médico pernambucano a aplicar a penicilina), antropólogo e
escritor.
Mauro e Waldemar eram
muito amigos, mesmo assim Waldemar não estava imune às brincadeiras do amigo,
como esta que EC conta: Consta que chegou ao porto do Recife um navio de guerra
da Marinha britânica. Um grande acontecimento para época. As rádios e jornais
se engalanaram com o atracamento.
Um belo dia, Waldemar
Valente recebe um estranho telefonema na Escola Normal, logo após uma aula. A
pessoa que telefonava, num português macarrônico era o Capitão Felipe Graham,
pertencente ao comando da nave da Marinha Real inglesa.
Esse Capitão se disse
logo neto de Maria Graham, inglesa notável que vivera no Recife por ocasião da
Revolução Republicana de 1817 e sobre a qual Waldemar havia publicado um livro
muito louvado pela melhor crítica. O Capitão foi duro: “O senhor escreveu um
livro infamante sobre minha avó, Maria Graham. Quero aproveitar o momento em
que me encontro no Recife para uma desforra pessoal. O senhor não é valente?
Proponho um duelo”.
Waldemar mal podia
respirar e teve duas saídas geniais: disse que o Capitão não conhecia a língua
portuguesa e por isso julgava mal o livro; e em segundo lugar alegou que as
leis brasileiras proibiam o duelo. O Capitão não aceitou a explicação. Estava
decidido a tudo. Era uma questão de honra.
Com o sobrenome
Valente, não teve outro jeito, a não ser marcar o duelo. Seria próximo ao Savoy
e à banca “O Globo”, do jornalista José do Patrocínio. O professor Sylvio
Rabello disse logo que era um trote. E, ao que dizem, bom número de professores
lá se encontrava.
Final da estória, o
Capitão não compareceu. A pontualidade britânica estava desmoralizada. Passados
dez, vinte minutos, nada do árdego oficial.
Waldemar,
exuberantemente, disse:
- O Capitão teve medo
de mim.
Do Bar Savoy surge
então Mauro Mota, risonho, logo dizendo:
- Waldemar, o Capitão
sou eu.
*Escritor,
poeta e teatrólogo pernambucano.Vejam e sigam Fiteiro Cultural: Um blog cheio
de observações e reminiscências – http://josecalvino.blogspot.com/
A falha na pontualidade britânica foi um indicativo de que se tratava de um brasileiro. Boa, muito boa!
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