Verdade inconveniente
* Por Pedro J. Bondaczuk
O homem, se quiser legar um mundo melhor às gerações futuras, deve interferir positivamente no meio ambiente, preservando o mais que possa os delicados e frágeis ecossistemas. Precisa respeitar as leis da natureza, que regem a sua própria existência. Hoje a Terra corre o iminente risco do chamado "efeito-estufa", perigoso aquecimento planetário, capaz de provocar uma catástrofe de dimensões imprevisíveis para todos os seres vivos.
O Planeta, se isso acontecer, tem condições de se regenerar. A vida? Jamais! A natureza "se defende" dos depredadores e o ser humano é o seu elo mais frágil, embora não se dê conta dessa realidade. Rios e mais rios, do mundo todo, estão sendo transformados em autênticas cloacas a céu aberto. Os mares? Nem se fala!
Toneladas de enxofre, centenas de vezes superiores à quantidade que teria varrido do mapa as cidades bíblicas de Sodoma e Gomorra, junto ao Mar Morto, são lançadas diariamente na atmosfera. Os aerossóis, sabidamente nocivos à preservação da camada de ozônio (que nos protege dos mortíferos raios cósmicos), continuam sendo usados indiscriminadamente, sem que ninguém se preocupe em proibir, ou sequer limitar, sua utilização. E outras dezenas, quiçá milhares, de agressões são cometidas diariamente, em todas as regiões da Terra, à natureza. Ninguém parece se preocupar seriamente com isso. E não é por falta de aviso.
Assisti, dia desses, ao documentário narrado e coordenado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore – que se tornou um dos mais ferrenhos ativistas em defesa do meio ambiente, tanto que ganhou, com justiça, o Prêmio Nobel da Paz – intitulado “Verdade inconveniente”. Fiquei estarrecido com o que vi e ouvi. Sabia que já há inequívocos sinais de anúncio de catástrofe, mas nem desconfiava que a situação fosse de tamanha gravidade.
O documentário conta com a direção do cineasta David Guggenheim e mostra, entre outras coisas, o acelerado derretimento das geleiras, tanto no Pólo Norte, quanto no Sul. Esse alerta vem se somar a um documento divulgado pelas Nações Unidas, elaborado por um grupo dos mais eminentes cientistas, dando conta que a situação pode já ser irreversível. Trata-se, reitero, de tragédia anunciada e que, ainda assim, não sensibilizou ainda quem tem o poder de deter essa estúpida e suicida agressão à natureza.
Espécies inteiras de animais e plantas estão desaparecendo para sempre e outras estão fatalmente com seus dias contados. É a vida que está em perigo e que pede socorro! Os homens estão literalmente "matando" o único planeta do nosso Sistema Solar que possui esse fenômeno maravilhoso, chamado vida. E tudo em troca do quê? Em nome de algo vago e mutante, denominado de "progresso".
Inúmeras regiões estão passando por processos contínuos de desertificação, fazendo com que o mundo, a cada dia, mais se encolha e se restrinja. O estoque mundial de alimentos baixou perigosamente e não foi, como alguns cínicos querem dar a entender, por causa do uso de extensas áreas de terra para a plantação de cana-de-açúcar, com vistas à produção de biocombustíveis. As causas são outras e eles sabem quais são.
Florestas inteiras desaparecem, anualmente, para dar lugar, na maioria das vezes, a simples pastos. É verdade que a questão tem merecido crescente espaço na imprensa. Ao traçar este ligeiro esboço da estupidez humana, surge, mais do que depressa, a pergunta: será que vale a pena desequilibrar a natureza apenas para que a nossa locomoção, por exemplo, seja mais rápida?
É lícito que nos arrisquemos a morrer sufocados, só para que possamos andar elegantemente trajados? É vantajoso trocarmos nossos rios por mais açúcar ou os peixes dos nossos mares por mais petróleo? E chamamos a isso de "progresso"!!!
Teria sido a natureza criada em função exclusiva do homem, como tantos apregoam? Estaria a nossa espécie capacitada a agredi-la impunemente ou a alterá-la ao seu bel-prazer sem nenhuma conseqüência? A resposta óbvia é: “não” (embora muitos insensatos não se dêem conta).
O pintor francês, Eugène Delacroix, registrou a seguinte observação a propósito em seus “Diários”: “O homem domina a natureza e é por ela dominado. Só ele lhe resiste e ao mesmo tempo ultrapassa as suas leis, amplia o seu poderio graças à sua vontade e atividade. Afirmar, no entanto, que o mundo foi criado para o homem é algo que está longe de ser evidente. Tudo o que o homem constrói é, como ele, efêmero: o tempo derruba os edifícios, atulha os canais, apaga o saber – e até o nome das nações”.
A natureza tanto pode ser mãe benigna, nutriz e protetora, quanto feroz e implacável assassina, dependendo da forma com que a tratarmos. Suas leis são rígidas, duras e imutáveis e nós é que temos que nos adaptar a ela, nunca o contrário. Se formos sábios e respeitarmos suas normas, ela será fonte inesgotável de vida e de satisfações. Contudo, se a agredirmos e tentarmos domá-la, certamente nos daremos mal (como já estamos nos dando).
Seremos imolados em seu altar, como um animal qualquer, sem dó e nem piedade. É uma lição que o homem já deveria ter aprendido, na sucessão de gerações, mas que parece ainda não ter se dado conta. Olavo Bilac escreveu, a respeito, estes belíssimos versos: “Ó natureza! Ó mãe piedosa e pura!/Ó cruel, implacável assassina!/Mão que o veneno e o bálsamo propina/e aos sorrisos as lágrimas mistura!”. Mandam, tanto a sabedoria quanto a prudência e o bom-senso, que façamos dessa natureza todo-poderosa nossa fiel aliada, jamais a feroz e implacável adversária. Portanto, mãos à obra! Não há mais tempo a perder!!!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
* Por Pedro J. Bondaczuk
O homem, se quiser legar um mundo melhor às gerações futuras, deve interferir positivamente no meio ambiente, preservando o mais que possa os delicados e frágeis ecossistemas. Precisa respeitar as leis da natureza, que regem a sua própria existência. Hoje a Terra corre o iminente risco do chamado "efeito-estufa", perigoso aquecimento planetário, capaz de provocar uma catástrofe de dimensões imprevisíveis para todos os seres vivos.
O Planeta, se isso acontecer, tem condições de se regenerar. A vida? Jamais! A natureza "se defende" dos depredadores e o ser humano é o seu elo mais frágil, embora não se dê conta dessa realidade. Rios e mais rios, do mundo todo, estão sendo transformados em autênticas cloacas a céu aberto. Os mares? Nem se fala!
Toneladas de enxofre, centenas de vezes superiores à quantidade que teria varrido do mapa as cidades bíblicas de Sodoma e Gomorra, junto ao Mar Morto, são lançadas diariamente na atmosfera. Os aerossóis, sabidamente nocivos à preservação da camada de ozônio (que nos protege dos mortíferos raios cósmicos), continuam sendo usados indiscriminadamente, sem que ninguém se preocupe em proibir, ou sequer limitar, sua utilização. E outras dezenas, quiçá milhares, de agressões são cometidas diariamente, em todas as regiões da Terra, à natureza. Ninguém parece se preocupar seriamente com isso. E não é por falta de aviso.
Assisti, dia desses, ao documentário narrado e coordenado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore – que se tornou um dos mais ferrenhos ativistas em defesa do meio ambiente, tanto que ganhou, com justiça, o Prêmio Nobel da Paz – intitulado “Verdade inconveniente”. Fiquei estarrecido com o que vi e ouvi. Sabia que já há inequívocos sinais de anúncio de catástrofe, mas nem desconfiava que a situação fosse de tamanha gravidade.
O documentário conta com a direção do cineasta David Guggenheim e mostra, entre outras coisas, o acelerado derretimento das geleiras, tanto no Pólo Norte, quanto no Sul. Esse alerta vem se somar a um documento divulgado pelas Nações Unidas, elaborado por um grupo dos mais eminentes cientistas, dando conta que a situação pode já ser irreversível. Trata-se, reitero, de tragédia anunciada e que, ainda assim, não sensibilizou ainda quem tem o poder de deter essa estúpida e suicida agressão à natureza.
Espécies inteiras de animais e plantas estão desaparecendo para sempre e outras estão fatalmente com seus dias contados. É a vida que está em perigo e que pede socorro! Os homens estão literalmente "matando" o único planeta do nosso Sistema Solar que possui esse fenômeno maravilhoso, chamado vida. E tudo em troca do quê? Em nome de algo vago e mutante, denominado de "progresso".
Inúmeras regiões estão passando por processos contínuos de desertificação, fazendo com que o mundo, a cada dia, mais se encolha e se restrinja. O estoque mundial de alimentos baixou perigosamente e não foi, como alguns cínicos querem dar a entender, por causa do uso de extensas áreas de terra para a plantação de cana-de-açúcar, com vistas à produção de biocombustíveis. As causas são outras e eles sabem quais são.
Florestas inteiras desaparecem, anualmente, para dar lugar, na maioria das vezes, a simples pastos. É verdade que a questão tem merecido crescente espaço na imprensa. Ao traçar este ligeiro esboço da estupidez humana, surge, mais do que depressa, a pergunta: será que vale a pena desequilibrar a natureza apenas para que a nossa locomoção, por exemplo, seja mais rápida?
É lícito que nos arrisquemos a morrer sufocados, só para que possamos andar elegantemente trajados? É vantajoso trocarmos nossos rios por mais açúcar ou os peixes dos nossos mares por mais petróleo? E chamamos a isso de "progresso"!!!
Teria sido a natureza criada em função exclusiva do homem, como tantos apregoam? Estaria a nossa espécie capacitada a agredi-la impunemente ou a alterá-la ao seu bel-prazer sem nenhuma conseqüência? A resposta óbvia é: “não” (embora muitos insensatos não se dêem conta).
O pintor francês, Eugène Delacroix, registrou a seguinte observação a propósito em seus “Diários”: “O homem domina a natureza e é por ela dominado. Só ele lhe resiste e ao mesmo tempo ultrapassa as suas leis, amplia o seu poderio graças à sua vontade e atividade. Afirmar, no entanto, que o mundo foi criado para o homem é algo que está longe de ser evidente. Tudo o que o homem constrói é, como ele, efêmero: o tempo derruba os edifícios, atulha os canais, apaga o saber – e até o nome das nações”.
A natureza tanto pode ser mãe benigna, nutriz e protetora, quanto feroz e implacável assassina, dependendo da forma com que a tratarmos. Suas leis são rígidas, duras e imutáveis e nós é que temos que nos adaptar a ela, nunca o contrário. Se formos sábios e respeitarmos suas normas, ela será fonte inesgotável de vida e de satisfações. Contudo, se a agredirmos e tentarmos domá-la, certamente nos daremos mal (como já estamos nos dando).
Seremos imolados em seu altar, como um animal qualquer, sem dó e nem piedade. É uma lição que o homem já deveria ter aprendido, na sucessão de gerações, mas que parece ainda não ter se dado conta. Olavo Bilac escreveu, a respeito, estes belíssimos versos: “Ó natureza! Ó mãe piedosa e pura!/Ó cruel, implacável assassina!/Mão que o veneno e o bálsamo propina/e aos sorrisos as lágrimas mistura!”. Mandam, tanto a sabedoria quanto a prudência e o bom-senso, que façamos dessa natureza todo-poderosa nossa fiel aliada, jamais a feroz e implacável adversária. Portanto, mãos à obra! Não há mais tempo a perder!!!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Desanimamos de fazer algo em prol da natureza tamanha é a sanha destruidora de todos nós, inclusive quem lhe diz isso. Somos ávidos pelo conforto e não queremos abrir mão dele. O tal progresso que você diz é um bálsamo para as nossas dores e queremos mais. Vê a história dos sacos plásticos? Não queremos nem ver as fotos. Há dois anos não trago sacos do supermercado. Uso sacolas retornáveis. Sinto-me poderosa em fazer isso e ao mesmo tempo infeliz. Somos predadores e depredatores, como nos chama, ou ainda pior do que isso.
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