As borboletas de Mário Quintana
* Por Urda Alice Klueger
"(...) O segredo é não correr atrás das borboletas ... é cuidar do jardim para que elas venham até você" (Mário Quintana)
É Outono no Sul do Mundo. Estou numa ilha ancorada no Oceano Atlântico, e uma cigana tenta me vender tapetinhos que não quero, que nada têm a ver comigo. Como não vou querer mesmo, imagino que ela vá me amaldiçoar quando se for, como as ciganas fazem muitas vezes. Não creio em maldições de ciganas - creio, sim, na bênção leve que vem das asas das borboletas.
Tenho um mundo povoado de borboletas, não importa aonde ande, mas parece que aqui nesta Ilha, em dias de Outono e céu azul, as borboletas fiquem mais visíveis. É como se elas revoluteassem à minha volta, lindas e coloridas, e cada uma me trouxesse uma prenda, uma alegria. Talvez porquê elas pensem que esta ilha é um navio que vai singrando mares tão desconhecidos quanto os de Goneville - mas como elas podem pensar tal coisa se este é um mar de Sol e Outono, e não o Mar das Brumas?
Disse Quintana que o segredo é não correr atrás das borboletas, e penso: Quintana viveu a menos de 500 quilômetros daqui. Poderia ir até à terra onde ele viveu, remando numa canoa. Talvez nem precisasse remar, talvez surgissem grandes borboletas que, voando, puxassem a minha canoa como os cavalos puxam as carruagens. Não seria a mesma coisa que correr atrás das borboletas - elas me levariam a reboque por vontade própria até lá na terra onde havia um poeta que escreveu um regulamento de vida para que elas e os humanos se entendessem direito.
As borboletas neste dia de Outono, nesta Ilha! Elas me circundam e me encantam, e recendem à maresia! Talvez haja tantas aqui porque descobri o segredo de Quintana, e trato de cuidar do jardim para que elas um dia venham pousar, caso quiserem. E se nunca pousarem? Obedeço a Quintana, não corro atrás delas! Se nunca pousarem, vou saber que a vida valeu a pena, porque elas sempre estão por perto, e ainda mais por este dia nesta Ilha, quando, confundidas, elas não distinguem muito bem se isto é Ilha ou Navio, e indiferente a ciganas e suas maldições, me abençoam por todos os lados, leves, coloridas, luminosas e mágicas, quase como se fossem feitas de eflúvios de perfume de tangerinas, e são tão parecidas com o meu amor!
* Por Urda Alice Klueger
"(...) O segredo é não correr atrás das borboletas ... é cuidar do jardim para que elas venham até você" (Mário Quintana)
É Outono no Sul do Mundo. Estou numa ilha ancorada no Oceano Atlântico, e uma cigana tenta me vender tapetinhos que não quero, que nada têm a ver comigo. Como não vou querer mesmo, imagino que ela vá me amaldiçoar quando se for, como as ciganas fazem muitas vezes. Não creio em maldições de ciganas - creio, sim, na bênção leve que vem das asas das borboletas.
Tenho um mundo povoado de borboletas, não importa aonde ande, mas parece que aqui nesta Ilha, em dias de Outono e céu azul, as borboletas fiquem mais visíveis. É como se elas revoluteassem à minha volta, lindas e coloridas, e cada uma me trouxesse uma prenda, uma alegria. Talvez porquê elas pensem que esta ilha é um navio que vai singrando mares tão desconhecidos quanto os de Goneville - mas como elas podem pensar tal coisa se este é um mar de Sol e Outono, e não o Mar das Brumas?
Disse Quintana que o segredo é não correr atrás das borboletas, e penso: Quintana viveu a menos de 500 quilômetros daqui. Poderia ir até à terra onde ele viveu, remando numa canoa. Talvez nem precisasse remar, talvez surgissem grandes borboletas que, voando, puxassem a minha canoa como os cavalos puxam as carruagens. Não seria a mesma coisa que correr atrás das borboletas - elas me levariam a reboque por vontade própria até lá na terra onde havia um poeta que escreveu um regulamento de vida para que elas e os humanos se entendessem direito.
As borboletas neste dia de Outono, nesta Ilha! Elas me circundam e me encantam, e recendem à maresia! Talvez haja tantas aqui porque descobri o segredo de Quintana, e trato de cuidar do jardim para que elas um dia venham pousar, caso quiserem. E se nunca pousarem? Obedeço a Quintana, não corro atrás delas! Se nunca pousarem, vou saber que a vida valeu a pena, porque elas sempre estão por perto, e ainda mais por este dia nesta Ilha, quando, confundidas, elas não distinguem muito bem se isto é Ilha ou Navio, e indiferente a ciganas e suas maldições, me abençoam por todos os lados, leves, coloridas, luminosas e mágicas, quase como se fossem feitas de eflúvios de perfume de tangerinas, e são tão parecidas com o meu amor!
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
Já corri muito atrás de borboletas para caçá-las com um puçá e espetá-las com um alfinete numa folha de isopor. Crueldade inútil, pois dias depois as asas se soltavam. Opondo ao poeta, hoje o meu jardim está repleto de borboletas. O jardim está belo de flores e insetos, mas eu não estou feliz. Deve ser isso que quis dizer Mário Quintana. Urda, você me encanta!
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