Eles juram que (isso) existe
* Por José Paulo Lanyi
É uma casa, em um bairro afastado de São Paulo. Pouco sei, conto o que me foi relatado. As palavras se entrecortam, como as imagens que me foram salpicadas na mente. Fragmentam-se e constroem-se ao sabor da curiosidade.
Quem esteve lá teve que voltar sempre. Não se abandona um lugar assim.
Começou com uma descoberta, dessas que emergem do inconsciente e mudam a vida das pessoas. Poucos creram que pudesse dar certo. O sagrado e o profano, o joio e o trigo, o excelso e o abjeto, tudo, no mesmo lugar, sem que se consiga voltar atrás.
No início, eram apenas 13 seres. Dito assim: seres. Nada se perde. Nada se relega. Nada ficará pelos cantos. Lá os homens e as mulheres são detalhes da Natureza. Esta, por seu turno, detalha-se pelas mãos, pelos pés e pela epiglote de todos eles. Tudo se conjuga e se desfaz. E todos se surpreendem, sem ao menos saber como aquilo pode mesmo funcionar.
Eram 13. Agora, mais de cem. Era casa. Agora, quase um sítio do impossível.
Freiras e garimpeiros, elefantes e britadeiras. Minerais africanos. Trigo e arroz com casca. Atores. Sem freiras não há minerais. Sem britadeira afogam-se os elefantes. Sem arte não se come a farofa . Tudo depende de tudo. Desde que haja visitas.
Sem visita, não há casa, nem sítio. Não houve nenhum dia, nem um minuto em que a grande roleta tenha parado de girar. É um instrumento que beira o portal e registra a entrada e a saída.
O dia se confunde com a noite no grande campo, uma espécie de ginásio com cortinas que tremulam provocadas pelo vento. As cortinas não estão ali por acaso. Substituem-se, porém, como não o fazem as Nações. Todos sentem muito, mas sabem o que é necessário: nenhuma visita poderia perdoá-los. Substituem-nas, impiedosamente.
Este é um esboço do ininteligível. Um quebra-cabeça sem peças. Um punhado de reticências. Como um sonho e as suas verdades encobertas.
Mas a casa existe. Os seres respiram-se, agora, em um bairro afastado de São Paulo.
Reluto, é verdade...
Eu reluto.
(*) Jornalista, escritor e dramaturgo, autor do romance "Calixto-Azar de Quem Votou em Mim", do romance cênico (gênero que criou) "Deus me Disse que não Existe" e da peça "Quando Dorme o Vilarejo" (Prêmio Vladimir Herzog). Trabalha com o músico paulistano Flávio Villar Fernandes, com quem compôs a sinfonia Atlântica.
* Por José Paulo Lanyi
É uma casa, em um bairro afastado de São Paulo. Pouco sei, conto o que me foi relatado. As palavras se entrecortam, como as imagens que me foram salpicadas na mente. Fragmentam-se e constroem-se ao sabor da curiosidade.
Quem esteve lá teve que voltar sempre. Não se abandona um lugar assim.
Começou com uma descoberta, dessas que emergem do inconsciente e mudam a vida das pessoas. Poucos creram que pudesse dar certo. O sagrado e o profano, o joio e o trigo, o excelso e o abjeto, tudo, no mesmo lugar, sem que se consiga voltar atrás.
No início, eram apenas 13 seres. Dito assim: seres. Nada se perde. Nada se relega. Nada ficará pelos cantos. Lá os homens e as mulheres são detalhes da Natureza. Esta, por seu turno, detalha-se pelas mãos, pelos pés e pela epiglote de todos eles. Tudo se conjuga e se desfaz. E todos se surpreendem, sem ao menos saber como aquilo pode mesmo funcionar.
Eram 13. Agora, mais de cem. Era casa. Agora, quase um sítio do impossível.
Freiras e garimpeiros, elefantes e britadeiras. Minerais africanos. Trigo e arroz com casca. Atores. Sem freiras não há minerais. Sem britadeira afogam-se os elefantes. Sem arte não se come a farofa . Tudo depende de tudo. Desde que haja visitas.
Sem visita, não há casa, nem sítio. Não houve nenhum dia, nem um minuto em que a grande roleta tenha parado de girar. É um instrumento que beira o portal e registra a entrada e a saída.
O dia se confunde com a noite no grande campo, uma espécie de ginásio com cortinas que tremulam provocadas pelo vento. As cortinas não estão ali por acaso. Substituem-se, porém, como não o fazem as Nações. Todos sentem muito, mas sabem o que é necessário: nenhuma visita poderia perdoá-los. Substituem-nas, impiedosamente.
Este é um esboço do ininteligível. Um quebra-cabeça sem peças. Um punhado de reticências. Como um sonho e as suas verdades encobertas.
Mas a casa existe. Os seres respiram-se, agora, em um bairro afastado de São Paulo.
Reluto, é verdade...
Eu reluto.
(*) Jornalista, escritor e dramaturgo, autor do romance "Calixto-Azar de Quem Votou em Mim", do romance cênico (gênero que criou) "Deus me Disse que não Existe" e da peça "Quando Dorme o Vilarejo" (Prêmio Vladimir Herzog). Trabalha com o músico paulistano Flávio Villar Fernandes, com quem compôs a sinfonia Atlântica.
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