terça-feira, 26 de julho de 2011













Meu querido Honoré

* Por Evelyne Furtado

Levo meus dias a pensar em ti. Desde que o sol me desperta até que a noite leve-me de novo a sonhar meu pensamento atravessa fronteiras e chega à ti em Paris.
Há quanto tempo não vemos? Sei que contas meses, dias e horas. Eu prefiro sonhar, pois do contrário morreria de tua ausência em meu corpo; em meu coração.
São tantas as barreiras que nos separam caríssimo amado. As primeiras encontram-se aqui onde moro e sabes bem como me é difícil suportá-las.
Preocupei-me tanto com a falta de notícias. Fui tão feliz ao receber as últimas. Honrastes aquela dívida que tanto o afligia. Nunca mais se deixe levar por esses algozes. Sabes que comigo podes contar.
Quero de tudo o proteger, porém sinto-me impotente. Que pode fazer uma mulher como eu enclausurada nesse castelo distante e tendo com carcereiro o próprio marido?
Sinta meu coração em tuas mãos, todas as vezes que tentarem te fazer mal, meu doce amor. Tens paciência com vossa mãe. Ela não tem culpa por não saber te amar, como eu o amo.
Continuas escrevendo. Teus folhetins me encantam. Teus personagens vivem ao meu redor. Sou tua mulher de trinta, embora já tenha mais idade do que ela. Muito maior é o meu amor.
Sem sua tua presença converso com Lucien, conforto Eugenie e sofro com o Pai Goriot.
Acredito que a tua obra atravessará os anos. Quiçá, séculos. Pois são todos, os teus escritos, retratos dos corações humanos, que nunca mudam. E piso em Paris quando te leio, muitos entrarão na cidade por suas mãos.
Quem sabe um dia sejam todas as tuas linhas unidas em uma obra vasta e prestigiada. Pareceu-me muito bom, quando em tom de brincadeira falastes na Comédia Humana.
Escrever, depois de me amar é o que tu fazes melhor. Não sei quando nos veremos outra vez, mas quero tê-lo em meus braços logo e para sempre Nosso contrato será de amor e não de interesses.
Por enquanto, sofro e lembro do ardor dos teus olhos em minha pele.
Cuida-te, se sentires algo chamas o Doutor Bianchon.
Lembranças a Henrique e a Miguel D'ajuda
A ti o meu amor eterno.

Evelyne Hankas.

Carta inspirada na história de amor vivida entre o romancista francês Honoré de Balzac e a Condessa Evelyne de Hanskas.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

3 comentários:

  1. Não só os nomes são coincidentes. Você, Evelyne, também o ama - literariamente. Bela carta. Um beijo pra você.

    ResponderExcluir
  2. Verdade, Marcelo. Gosto demais! Obrigada, meu amigo. Beijos

    ResponderExcluir
  3. Belas cartas de amor como esta foram bem possíveis. Teria seu pai se inspirado em Balzac para lhe escolher o nome? E se fez isso, fez muito bem.

    ResponderExcluir