Meia-noite em Paris
* Por Guilherme Scalzili
Inevitável escala parisiense da série “turística” de Woody Allen, forçado a viajar mais por razões financeiras que propriamente afetivas. Conhecer previamente o enredo pode estragar a primeira reviravolta do roteiro, construída com notável fluidez. Tentarei não revelá-lo.
A homenagem à capital francesa edulcora a camada mais imediata e agradável do filme, com suas belas imagens, os clichês românticos, as moçoilas deslumbrantes. Um pouco além deleitamo-nos com os ótimos atores secundários (não engulo Owen Wilson) e seus engenhosos personagens, principalmente os de Rachel McAdams e Michael Sheen, que fornecem um sutil contraponto simbólico para o conflito principal.
À medida que nos deixamos levar pelos substratos possíveis, no entanto, descortina-se o verdadeiro tema da obra: a nostalgia, o anseio de aprisionar um passado impossível, a insatisfação do indivíduo com o mundo que o rodeia. Gil, o protagonista (cujo romance também aborda a questão), conclui que esta é uma tendência humana, que se repete de geração em geração desde tempos imemoriais. Ninguém nunca está feliz com sua época.
Tudo bem, mas será que o próprio diretor se satisfaz com esse diagnóstico, tão otimista e apaziguador e, enfim, tão alinhado aos insossos relativismos da tal pós-modernidade? Que tipo de futuro tenebroso precisará vitimar o planeta para que seus habitantes vejam neste mundo superficial, amedrontado e autoritário a mesma riqueza cultural, o mesmo espírito inventivo, a mesma irresponsabilidade experimentalista dos anos 1920, ou até da última década do século XIX?
Acho que a homenagem metalingüística ao surrealismo serve como uma piscadela disfarçada que Allen nos dirige para insinuar sua própria resposta ao dilema.
*Jornalista e escritor, autor dos livros “O colar da Carol ta na grama”, “A colina da Providência”, “Pantomima”, “Acrimônia” e “Crisálida”.
* Por Guilherme Scalzili
Inevitável escala parisiense da série “turística” de Woody Allen, forçado a viajar mais por razões financeiras que propriamente afetivas. Conhecer previamente o enredo pode estragar a primeira reviravolta do roteiro, construída com notável fluidez. Tentarei não revelá-lo.
A homenagem à capital francesa edulcora a camada mais imediata e agradável do filme, com suas belas imagens, os clichês românticos, as moçoilas deslumbrantes. Um pouco além deleitamo-nos com os ótimos atores secundários (não engulo Owen Wilson) e seus engenhosos personagens, principalmente os de Rachel McAdams e Michael Sheen, que fornecem um sutil contraponto simbólico para o conflito principal.
À medida que nos deixamos levar pelos substratos possíveis, no entanto, descortina-se o verdadeiro tema da obra: a nostalgia, o anseio de aprisionar um passado impossível, a insatisfação do indivíduo com o mundo que o rodeia. Gil, o protagonista (cujo romance também aborda a questão), conclui que esta é uma tendência humana, que se repete de geração em geração desde tempos imemoriais. Ninguém nunca está feliz com sua época.
Tudo bem, mas será que o próprio diretor se satisfaz com esse diagnóstico, tão otimista e apaziguador e, enfim, tão alinhado aos insossos relativismos da tal pós-modernidade? Que tipo de futuro tenebroso precisará vitimar o planeta para que seus habitantes vejam neste mundo superficial, amedrontado e autoritário a mesma riqueza cultural, o mesmo espírito inventivo, a mesma irresponsabilidade experimentalista dos anos 1920, ou até da última década do século XIX?
Acho que a homenagem metalingüística ao surrealismo serve como uma piscadela disfarçada que Allen nos dirige para insinuar sua própria resposta ao dilema.
*Jornalista e escritor, autor dos livros “O colar da Carol ta na grama”, “A colina da Providência”, “Pantomima”, “Acrimônia” e “Crisálida”.
Excelente análise do filme. Concordo, plenamente, com todas as suas colocações. Parabéns.
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