Sou raiz
* Por Cora Coralina
Sou raiz, e vou caminhando
sobre as minhas raízes tribais.
Velhas jardineiras do passado...
Condutores e cobradores, vós me levastes de mistura
com os pequenos e iletrados, pobres e remendados...
Destes-me o nível dos humildes em tantas lições de vida.
Passante das estradas rodageiras, boiadeiros e comissários,
aqui fala a velha rapsoda.
Escuto na distância o sonho augusto do berrante que marca
e o compasso das manadas que vão pelas estradas.
O mugido, o berro, o chamado da querência, a aguada,
o barreiro salitrado, a solta, o curral, a porteira,
a tronqueira, o cocho, o moirão, a salga, o ferro de marcar,
rubro, esbraseado. A castração impiedosa.
Eu sou a gleba e nada mais pretendo ser.
Mulher primária, roceira, operária, afeita à cozinha,
ao curral, ao coalho, ao barreleiro, ao tacho.
Seguro sempre nas mãos cansadas a velha candeia
de azeite valetudinária e vitalícia do passado.
Viajei nas velhas e valentes jardineiras
do interior roceiro, suas estradas de terra,
lameiros e atoleiros, seus heróicos e anônimos condutores
e cobradores, práticos, sabidos daqueles motores desgastados,
molas e latarias rangentes.
Santos milagreiros eram eles. Onde estarão?
Viajei de par com os humildes que tanto me ensinaram.
Viajantes das velhas jardineiras, meus vizinhos das estradas viajeiras...
Meus trabalhadores: Manoel Rosa, José Dias, Paulo, Manoel,
João, Mato Grosso, plantadores e enxadeiros, meus vizinhos sitiantes,
onde andarão eles?
Andradina, Castilho, Jaboticabal, comissários e boiadeiros, tangerinos,
esta página é de todos vocês.
Fala de longe a velha rapsoda.
• Cora Coralina é o pseudônimo da poetisa Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que publicou oito livros, sendo que o primeiro foi publicado quando tinha 75 anos de idade.
Sou raiz, e vou caminhando
sobre as minhas raízes tribais.
Velhas jardineiras do passado...
Condutores e cobradores, vós me levastes de mistura
com os pequenos e iletrados, pobres e remendados...
Destes-me o nível dos humildes em tantas lições de vida.
Passante das estradas rodageiras, boiadeiros e comissários,
aqui fala a velha rapsoda.
Escuto na distância o sonho augusto do berrante que marca
e o compasso das manadas que vão pelas estradas.
O mugido, o berro, o chamado da querência, a aguada,
o barreiro salitrado, a solta, o curral, a porteira,
a tronqueira, o cocho, o moirão, a salga, o ferro de marcar,
rubro, esbraseado. A castração impiedosa.
Eu sou a gleba e nada mais pretendo ser.
Mulher primária, roceira, operária, afeita à cozinha,
ao curral, ao coalho, ao barreleiro, ao tacho.
Seguro sempre nas mãos cansadas a velha candeia
de azeite valetudinária e vitalícia do passado.
Viajei nas velhas e valentes jardineiras
do interior roceiro, suas estradas de terra,
lameiros e atoleiros, seus heróicos e anônimos condutores
e cobradores, práticos, sabidos daqueles motores desgastados,
molas e latarias rangentes.
Santos milagreiros eram eles. Onde estarão?
Viajei de par com os humildes que tanto me ensinaram.
Viajantes das velhas jardineiras, meus vizinhos das estradas viajeiras...
Meus trabalhadores: Manoel Rosa, José Dias, Paulo, Manoel,
João, Mato Grosso, plantadores e enxadeiros, meus vizinhos sitiantes,
onde andarão eles?
Andradina, Castilho, Jaboticabal, comissários e boiadeiros, tangerinos,
esta página é de todos vocês.
Fala de longe a velha rapsoda.
• Cora Coralina é o pseudônimo da poetisa Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que publicou oito livros, sendo que o primeiro foi publicado quando tinha 75 anos de idade.
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