A vida facebookizada
* Por Mara Narciso
O sol brilha, o céu está azul, e muita gente não se importa com isso. Toda a vida delas, com suas emoções e sentimentos estão de alguma forma envoltas pelo halo claro da tela do computador. Os jovens são maioria, porque os mais velhos custaram a se render a tecnologia. Criou-se o mito de que os não jovens têm dificuldade para compreender as linguagens digitais, e penam para absorver as novidades. Não é bem assim.
Para reforçar essa ideia, é lugar comum dizer que o jovem utiliza a tecnologia de forma natural por ter nascido num meio mais avançado. É preconceito. Os mais velhos sabem que a tecnologia da informação chegou para fazer o mundo funcionar melhor. Então buscam inteirar-se dos fatos. O que era engraçado, como por exemplo, “eu não sei nem ligar um computador”, passou a ser declaração de incapacidade. Da mesma forma que algumas pessoas evitam situações em que se mostrem analfabetas, os não iniciados no mundo digital procuram entender essa linguagem para não ficar no isolamento.
Do outro lado, há os excessos e as armadilhas da informática do bem. As comunidades do Orkut tinham toda a interação necessária aos incipientes internautas. A lápide negra com o nome do site, que corre a internet já diz o que se pensa agora dessa importante rede social, que naquele tempo era referida como site de relacionamento.
Os viciados em internet mudaram seus domínios para o Facebook. Acordam no site e dormem no site. Comem online, fazem negócios, amigos e namorados por lá. O domínio das redes sociais sobre as pessoas toma rumo ignorado, mas é grande o bastante para gerar, se não preocupação, boa ocupação. Que os pesquisadores se ocupem disso.
A rede social sabe a força que tem, abusa dos comerciais, ganha novos adeptos, e entende os humanos como presas influenciáveis e viciáveis. As possibilidades de interação são infinitas, surgindo novas formas de capturar, influenciar, viciar e por que não dizer, de escravizar.
Os estudiosos têm na rede uma imensidão de possibilidades para pesquisas. Há outras formas de lidar com o desconhecido, novas normas de boa educação, criadas pelas redes, que vão tecendo sua teia, enredando, envolvendo e trazendo situações novas. As pessoas querem falar e ser ouvidas, ou melhor, querem escrever e ser lidas. Há novas maneiras de se expor, de mostrar pontos de vista, de defender causas, numa razão desconhecida pelos próprios mentores dos sites.
As redes ampliam os contatos, num imenso leque de ideias e possibilidades de comércio de serviços e produtos. É uma cadeia em que se vê e se mostra o tempo todo. Até que ponto se escolhe e até que ponto se é escolhido? As novas ferramentas fazem mais e mais pessoas dependentes dessa troca internáutica. Quem tem medo das novidades? Alguém tem receio de conhecer as próprias fraquezas? Ser livre é poder ser lido, seguido e comentado? E você? Acontece de se sentir desajustado quando não está em frente ao computador? O que é bom e o que é nocivo?
Os recursos do Facebook tornam os usuários dependentes do mundo virtual e para isso seus idealizadores ampliam as comodidades, na certeza de obter mais escravos amarrados a rede. Alguns não concordarão, acharão exagero e dirão que boa parcela dos internautas é livre para entrar e sair. Certo, mas em quantas horas estão livres e em quantas estão aprisionados?
Os aplicativos a disposição dos “facebookianos” estão repletos de intenções escravagistas. Os estudiosos conseguirão explicar os novos comportamentos sociais? Quando a dependência se torna um problema? Poucos admitirão ultrapassarem os limites razoáveis. Entra em cena a psiquiatria e seus tratamentos descondicionadores. A invasão das novas tecnologias afasta os que estão ao lado do viciado, enquanto os que estão longe, no tempo e no espaço, chegam junto e ocupam seus lugares na tela do computador: uma pasta com textos, fotos e outras referências sobre ela no mundo virtual.
Estas reflexões mostram meu pensamento em voz alta, sem juízo de valor. Aos estudiosos, que estudem e façam suas interpretações oportunas. Aqui, apenas relato a minha visão de internauta há quase 12 anos. Vejo que muitas pessoas não existem fora da tela. Isso é intrigante. Estão ou não estão felizes? Façam as suas apostas, senhores.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-
* Por Mara Narciso
O sol brilha, o céu está azul, e muita gente não se importa com isso. Toda a vida delas, com suas emoções e sentimentos estão de alguma forma envoltas pelo halo claro da tela do computador. Os jovens são maioria, porque os mais velhos custaram a se render a tecnologia. Criou-se o mito de que os não jovens têm dificuldade para compreender as linguagens digitais, e penam para absorver as novidades. Não é bem assim.
Para reforçar essa ideia, é lugar comum dizer que o jovem utiliza a tecnologia de forma natural por ter nascido num meio mais avançado. É preconceito. Os mais velhos sabem que a tecnologia da informação chegou para fazer o mundo funcionar melhor. Então buscam inteirar-se dos fatos. O que era engraçado, como por exemplo, “eu não sei nem ligar um computador”, passou a ser declaração de incapacidade. Da mesma forma que algumas pessoas evitam situações em que se mostrem analfabetas, os não iniciados no mundo digital procuram entender essa linguagem para não ficar no isolamento.
Do outro lado, há os excessos e as armadilhas da informática do bem. As comunidades do Orkut tinham toda a interação necessária aos incipientes internautas. A lápide negra com o nome do site, que corre a internet já diz o que se pensa agora dessa importante rede social, que naquele tempo era referida como site de relacionamento.
Os viciados em internet mudaram seus domínios para o Facebook. Acordam no site e dormem no site. Comem online, fazem negócios, amigos e namorados por lá. O domínio das redes sociais sobre as pessoas toma rumo ignorado, mas é grande o bastante para gerar, se não preocupação, boa ocupação. Que os pesquisadores se ocupem disso.
A rede social sabe a força que tem, abusa dos comerciais, ganha novos adeptos, e entende os humanos como presas influenciáveis e viciáveis. As possibilidades de interação são infinitas, surgindo novas formas de capturar, influenciar, viciar e por que não dizer, de escravizar.
Os estudiosos têm na rede uma imensidão de possibilidades para pesquisas. Há outras formas de lidar com o desconhecido, novas normas de boa educação, criadas pelas redes, que vão tecendo sua teia, enredando, envolvendo e trazendo situações novas. As pessoas querem falar e ser ouvidas, ou melhor, querem escrever e ser lidas. Há novas maneiras de se expor, de mostrar pontos de vista, de defender causas, numa razão desconhecida pelos próprios mentores dos sites.
As redes ampliam os contatos, num imenso leque de ideias e possibilidades de comércio de serviços e produtos. É uma cadeia em que se vê e se mostra o tempo todo. Até que ponto se escolhe e até que ponto se é escolhido? As novas ferramentas fazem mais e mais pessoas dependentes dessa troca internáutica. Quem tem medo das novidades? Alguém tem receio de conhecer as próprias fraquezas? Ser livre é poder ser lido, seguido e comentado? E você? Acontece de se sentir desajustado quando não está em frente ao computador? O que é bom e o que é nocivo?
Os recursos do Facebook tornam os usuários dependentes do mundo virtual e para isso seus idealizadores ampliam as comodidades, na certeza de obter mais escravos amarrados a rede. Alguns não concordarão, acharão exagero e dirão que boa parcela dos internautas é livre para entrar e sair. Certo, mas em quantas horas estão livres e em quantas estão aprisionados?
Os aplicativos a disposição dos “facebookianos” estão repletos de intenções escravagistas. Os estudiosos conseguirão explicar os novos comportamentos sociais? Quando a dependência se torna um problema? Poucos admitirão ultrapassarem os limites razoáveis. Entra em cena a psiquiatria e seus tratamentos descondicionadores. A invasão das novas tecnologias afasta os que estão ao lado do viciado, enquanto os que estão longe, no tempo e no espaço, chegam junto e ocupam seus lugares na tela do computador: uma pasta com textos, fotos e outras referências sobre ela no mundo virtual.
Estas reflexões mostram meu pensamento em voz alta, sem juízo de valor. Aos estudiosos, que estudem e façam suas interpretações oportunas. Aqui, apenas relato a minha visão de internauta há quase 12 anos. Vejo que muitas pessoas não existem fora da tela. Isso é intrigante. Estão ou não estão felizes? Façam as suas apostas, senhores.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-
Marcelo Pirajá Sguassábia
ResponderExcluirOi, Mara. A vida está mesmo facebookizada: tive que vir ao facebook pra comentar seu texto! (os comments do Literário estão com problemas). Gostei demais. Ou, em facebookiano: curti! Abraços.
Obrigada, Marcelo, pelo esforço.
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