“Nenhum poeta é cavalo de corrida”
“O poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico”. Esta tirada genial é de um dos mais criativos e brilhantes poetas brasileiros de todos os tempos – que, aliás, não gostava de ser classificado dessa forma – Mário Quintana, que morreu, em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre, aos 87 anos de idade.
Seus amigos definiam-no como um boêmio, não no sentido pejorativo do termo, mas como um homem que olhava a vida com ternura e com humor. Era um mestre da fina ironia, da tirada inteligente e carregada de lirismo, das definições inusitadas.
Certa feita perguntaram-lhe quem ele achava que era o maior poeta do País. Sem titubear, respondeu: “Deixe disso. Nenhum poeta é cavalo de corrida para ser obrigado a chegar em primeiro lugar”.
Quintana era assim: Simpático, bonachão, modesto, descomprometido tanto em termos de literatura, quanto em sua vida pessoal. Admirado, amado, até idolatrado, principalmente pelos jovens, não perdia a compostura. “Escrever...Mas por quê?/Por vaidade, está visto.../Pura vaidade, escrever!/Pegar da pena...Olhai, que graça terá isto/se já se sabe tudo o que se vai dizer...”, ironizou no poema “Da preocupação de escrever”.
Amava a vida, à qual encarava com muita ternura e ironia, saboreando-a como uma aventura digna de ser enfrentada, a despeito das injustiças, da miséria, da insensatez e dos horrores. “Dias maravilhosos em que os jornais/vêm cheios de poesia.../e do lábio do amigo/brotam palavras de eterno encanto...//Dias mágicos.../em que os burgueses espiam/através das vidraças dos escritórios/a graça gratuita das nuvens”, diz Quintana, no poema “O Milagre”.
Sua imagem, para os que o admiravam e amavam, estará sempre associada à palavra “alegria”. Por um feliz acaso, nasceu na cidade de Alegrete (em 29 de julho de 1906) e morreu em Porto Alegre. Parte de sua poesia foi escrita de modo não-convencional, em prosa, em forma de citações, carregadas de lirismo, mas sem a distribuição em versos.
“E, quando morto de mesmice, te vier a nostalgia de climas e costumes exóticos, de jornais impressos em misteriosos caracteres, de curiosas beberagens, de roupas de estranho corte e colorido, lembre-se que para alguém nós somos os antípodas; um remoto, inacreditável povo do outro lado do mundo, quase do outro lado da vida – uma gente de se ficar olhando, olhando, pasmado...Nós, os antípodas, somos assim”, escreveu em “Do inédito”.
“O que mais me comove, em música, são essas notas soltas – pobres notas únicas – que do teclado arranca o afinador de pianos”, observou em “Meu trecho predileto”. “Amar é mudar a alma de casa”, sentenciou em “Carreto”.
Não dá para falar em morte quando se trata de alguém que sempre foi um amante inveterado da vida. Quintana não morreu: ficou encantado e mudou sua alma de casa, para o coração dos que sempre o admiraram.
Tragédia? Nem pensar! Afinal, foi o próprio poeta quem constatou: “Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma. Tudo agora está suspenso. E sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas! Não se sabe... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca...Outras vezes, senta uma mosca e desaba uma cidade”.
Boa leitura.
O Editor
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
“O poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico”. Esta tirada genial é de um dos mais criativos e brilhantes poetas brasileiros de todos os tempos – que, aliás, não gostava de ser classificado dessa forma – Mário Quintana, que morreu, em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre, aos 87 anos de idade.
Seus amigos definiam-no como um boêmio, não no sentido pejorativo do termo, mas como um homem que olhava a vida com ternura e com humor. Era um mestre da fina ironia, da tirada inteligente e carregada de lirismo, das definições inusitadas.
Certa feita perguntaram-lhe quem ele achava que era o maior poeta do País. Sem titubear, respondeu: “Deixe disso. Nenhum poeta é cavalo de corrida para ser obrigado a chegar em primeiro lugar”.
Quintana era assim: Simpático, bonachão, modesto, descomprometido tanto em termos de literatura, quanto em sua vida pessoal. Admirado, amado, até idolatrado, principalmente pelos jovens, não perdia a compostura. “Escrever...Mas por quê?/Por vaidade, está visto.../Pura vaidade, escrever!/Pegar da pena...Olhai, que graça terá isto/se já se sabe tudo o que se vai dizer...”, ironizou no poema “Da preocupação de escrever”.
Amava a vida, à qual encarava com muita ternura e ironia, saboreando-a como uma aventura digna de ser enfrentada, a despeito das injustiças, da miséria, da insensatez e dos horrores. “Dias maravilhosos em que os jornais/vêm cheios de poesia.../e do lábio do amigo/brotam palavras de eterno encanto...//Dias mágicos.../em que os burgueses espiam/através das vidraças dos escritórios/a graça gratuita das nuvens”, diz Quintana, no poema “O Milagre”.
Sua imagem, para os que o admiravam e amavam, estará sempre associada à palavra “alegria”. Por um feliz acaso, nasceu na cidade de Alegrete (em 29 de julho de 1906) e morreu em Porto Alegre. Parte de sua poesia foi escrita de modo não-convencional, em prosa, em forma de citações, carregadas de lirismo, mas sem a distribuição em versos.
“E, quando morto de mesmice, te vier a nostalgia de climas e costumes exóticos, de jornais impressos em misteriosos caracteres, de curiosas beberagens, de roupas de estranho corte e colorido, lembre-se que para alguém nós somos os antípodas; um remoto, inacreditável povo do outro lado do mundo, quase do outro lado da vida – uma gente de se ficar olhando, olhando, pasmado...Nós, os antípodas, somos assim”, escreveu em “Do inédito”.
“O que mais me comove, em música, são essas notas soltas – pobres notas únicas – que do teclado arranca o afinador de pianos”, observou em “Meu trecho predileto”. “Amar é mudar a alma de casa”, sentenciou em “Carreto”.
Não dá para falar em morte quando se trata de alguém que sempre foi um amante inveterado da vida. Quintana não morreu: ficou encantado e mudou sua alma de casa, para o coração dos que sempre o admiraram.
Tragédia? Nem pensar! Afinal, foi o próprio poeta quem constatou: “Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma. Tudo agora está suspenso. E sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas! Não se sabe... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca...Outras vezes, senta uma mosca e desaba uma cidade”.
Boa leitura.
O Editor
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Quintana fincou morada no meu coração de menina
ResponderExcluirque apaixonada se deixou arrebatar.
Abraços
A Mara, há uma semana, não vem conseguindo postar comentários. Reproduzo o que ela me enviou por e-mail:
ResponderExcluirAchei as reflexões boas para explicar a velhice, dar sentido a vida, estimulando a produção e o prazer. Vamos lendo e exergando um monte de gente, uns felizes, ou pelo menos sentindo-se bem, e outros desesperados.É bom não desistirmos nunca dessa busca.
Pedro, você fez uma muito boa apresentação de Quintana. Digna de circular entre estudantes e pessoas em geral.
ResponderExcluirO engraçado de tudo é que conheci Quintana como tradutor, dos bons, antes de saber que ele era poeta. Eu, antípoda em Pernambuco, somente vi Quintana pela primeira vez como tradutor de Marcel Proust.
Depois, como homem de humor fino. Conta-se dele que uma vez, por distração, ao fazer uma visita a um amigo, sentou-se em cima do gato da casa, que dormia num sofá. Alertado pelos miados, deu um pulo: "Opa, eu pensei que estivesse em cima de um chapéu".
A doçura do editorial de hoje ficou na medida exata do lirismo de Mário Quintana. Que maravilhas, de lá - o poeta-, e de cá - você,Pedro!
ResponderExcluirCá estou de volta, após mudar de navegador.
Obrigada, Pedro, pela boa-vontade.
Fazia tempo que eu comparecia ao teu blogue, mas foi com grande alegria que constatei o quanto tuas reflexões merecem ser lidas. Aos lê-las me dei conta que ainda existe inteligência na bloguesfera, Parabéns, JAIR.
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