Desencontros
* Por Marleuza Machado
A vida não cansa de nos pregar peças. Em cada enquina, em cada encruzilhada há uma decisão a ser tomada em relação a que rumo seguir. Muitas vezes a caminhada segue tranquila e de repente lá está ela, a temida dúvida, a nos encarar de frente, colocando em cheque a capacidade de escolha do ser humano.
Nas questões de afetividade, as escolhas ocorrem cotidianamente e alguns acontecimentos que as precipitam são até curiosos. São comuns os encontros no momento errado com a pessoa certa. Muitas vezes traçamos planos para nossa vida afetiva, crentes que a realidade permanecerá a mesma e de repente acontece a surpresa que nos obriga a mudar de planos ou abdicar de alguém que há muito desejávamos conhecer, mas que só nos deu a chance de concretizar o encontro, na hora exata em que não cabe nesses planos.
Já ouvi frases do tipo: "Onde você estava há 10 anos atrás"?, ou "se eu não fosse casado, você seria a pessoa ideal como parceira de vida", ou ainda "Não posso lhe fazer promessas porque no próximo carnaval irei para Salvador com um grupo de amigos e isso será problema caso estejamos namorando" (!!!). Por várias vezes cheguei atrasada à estação, quando não havia mais bilhetes e o trem partiu sob meu olhar melancólico, como de uma criança que vê sua pipa tão desejada, confeccionada com esmero, ter sua linha torada, se perdendo no ar, sem que nada pudesse fazer. E com aquele nó apertando o peito, na certeza que alguém observava seu percurso e se apossaria dela, assim que tocasse qualquer superfície alcançável.
Sei que também fui motivos de desencantos na vida de muitos que desejaram-me por companheira em momentos inoportunos e impossíveis, mas nem por isso me consolo. Não senti suas dores, suas perdas. Talvez consigam digerir melhor esse bolo. Numa conclusão preliminar, penso que a procura pelo amor esbarra-se num senhor implacável denominado destino, que traça nossos rumos sem que tenhamos chance de determinar o momento ideal de um encontro. Por outro lado, quando ele abre a guarda e permite escolhas, construímos uma barreira com base no egoísmo - que em tempos modernos se disfarça sob a alcunha leve da "individualidade". Ao permitir que o "eu" assuma maior importância que o "nós", caminhamos para uma realidade onde os relacionamentos casuais assumem uma proporção assustadora em contraste com seres humanos cada dia mais carentes e solitários. Esses indivíduos que se procuram, na maioria das vezes encontram-se frente-a-frente, todavia, não se enxergam.
Será que poderei concluir, seguramente, que o poder de escolha não passa de um engodo do destino que já tem escrito o enredo de nossas vidas e funciona como um cruel manipulador, onde somos apenas meros atores que seguem fielmente a sinopse pré-definida?
• Poetisa e jornalista
* Por Marleuza Machado
A vida não cansa de nos pregar peças. Em cada enquina, em cada encruzilhada há uma decisão a ser tomada em relação a que rumo seguir. Muitas vezes a caminhada segue tranquila e de repente lá está ela, a temida dúvida, a nos encarar de frente, colocando em cheque a capacidade de escolha do ser humano.
Nas questões de afetividade, as escolhas ocorrem cotidianamente e alguns acontecimentos que as precipitam são até curiosos. São comuns os encontros no momento errado com a pessoa certa. Muitas vezes traçamos planos para nossa vida afetiva, crentes que a realidade permanecerá a mesma e de repente acontece a surpresa que nos obriga a mudar de planos ou abdicar de alguém que há muito desejávamos conhecer, mas que só nos deu a chance de concretizar o encontro, na hora exata em que não cabe nesses planos.
Já ouvi frases do tipo: "Onde você estava há 10 anos atrás"?, ou "se eu não fosse casado, você seria a pessoa ideal como parceira de vida", ou ainda "Não posso lhe fazer promessas porque no próximo carnaval irei para Salvador com um grupo de amigos e isso será problema caso estejamos namorando" (!!!). Por várias vezes cheguei atrasada à estação, quando não havia mais bilhetes e o trem partiu sob meu olhar melancólico, como de uma criança que vê sua pipa tão desejada, confeccionada com esmero, ter sua linha torada, se perdendo no ar, sem que nada pudesse fazer. E com aquele nó apertando o peito, na certeza que alguém observava seu percurso e se apossaria dela, assim que tocasse qualquer superfície alcançável.
Sei que também fui motivos de desencantos na vida de muitos que desejaram-me por companheira em momentos inoportunos e impossíveis, mas nem por isso me consolo. Não senti suas dores, suas perdas. Talvez consigam digerir melhor esse bolo. Numa conclusão preliminar, penso que a procura pelo amor esbarra-se num senhor implacável denominado destino, que traça nossos rumos sem que tenhamos chance de determinar o momento ideal de um encontro. Por outro lado, quando ele abre a guarda e permite escolhas, construímos uma barreira com base no egoísmo - que em tempos modernos se disfarça sob a alcunha leve da "individualidade". Ao permitir que o "eu" assuma maior importância que o "nós", caminhamos para uma realidade onde os relacionamentos casuais assumem uma proporção assustadora em contraste com seres humanos cada dia mais carentes e solitários. Esses indivíduos que se procuram, na maioria das vezes encontram-se frente-a-frente, todavia, não se enxergam.
Será que poderei concluir, seguramente, que o poder de escolha não passa de um engodo do destino que já tem escrito o enredo de nossas vidas e funciona como um cruel manipulador, onde somos apenas meros atores que seguem fielmente a sinopse pré-definida?
• Poetisa e jornalista
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