segunda-feira, 25 de julho de 2011







O piano

* Por Talis Andrade

Uma natureza morta
e o avô
pendurados quadros
na parede da sala
em que ficava o piano
Escura sala
retiro de minha mãe
que tocava de ouvido
valsas e tangos

Me deixava levar
pelo encantamento
as mãos de minha mãe
deslizando sobre o teclado
pássaros correndo
por um campo de neve

Algumas vezes
minha mãe
permanecia sentada
sem tocar

Nunca percebi
se notava
a minha presença
Estava sempre
de costas para mim

O silêncio doía
Como eu poderia perceber
se chorava
Como eu poderia perceber
se permanecia
de costas para mim


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).

Um comentário:

  1. Resgatei nessa poesia lembranças de minha mãe
    que me ensinou a fazer bruxinhas... quando ela espetava o dedo nas agulhas aproveitava para chorar suas mágoas sem despertar nossa atenção.
    Obrigado
    Abraços

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