A infinita curiosidade do homem
A curiosidade humana é infinita e é ela, ao lado da
necessidade, que nos fez ser o que somos. Já enfatizei um sem número de vezes
que, se excetuarmos nossa capacidade de compreensão e de raciocínio,
genericamente chamada de razão, somos um dos animais mais frágeis e desvalidos,
dos tantos que habitam a Terra. Todavia, essa característica única com que
fomos dotados, a de pensar, nos permite superar nossas fraquezas e
vulnerabilidades, sobreviver e, mais do que isso, evoluir em todos os sentidos,
ou quase todos e nos tornarmos senhores da natureza, pelo menos neste pequeno
planeta de um ínfimo sistema planetário de uma estrela de quinta grandeza.
Ainda não evoluímos, todavia, o suficiente para substituir nosso egoísmo latente
e nossos instintos mais primitivos para, em vez de competirmos uns com os outros,
cooperarmos entre nós. Mas... esta é outra história, que requer considerações
mais profundas e demoradas do que as que me proponho as fazer nestas breves e
descompromissadas reflexões.
Entre as tantas questões que espicaçam nossa curiosidade,
certamente a mais intrincada, por motivos compreensíveis, ou seja, pela ausência
de provas cabais que fundamentem as várias teorias que elaboramos, está a das
origens. Está aí a “mãe de todas as ciências”, que é a Filosofia, para
comprovar isso. É ela que nos faz tentar responder o que desconfio que não
tenha resposta, que são as perguntas fundamentais que, volta e meia, tenho
trazido obsessivamente à baila, a exemplo do que milhões e milhões de
pensadores muito mais eruditos, preparados e geniais do que eu já fizeram, fazem e com certeza ainda farão
enquanto nossa espécie existir: O que sou? De onde venho? Para onde vou? Por
que existo? E vai por aí afora.
Não são só estas, óbvio, as questões que homens de todas as
partes e todos os tempos buscam, em vão, responder. É o tal negócio: uma
pergunta puxa outra, e mais outra e mais outra e as indagações se tornam
praticamente infinitas. Teorias e mais teorias são construídas, derrubadas,
substituídas por novas em virtude de algumas descobertas, mas saber, saber de
verdade, sem ter que recorrer a fantasias e especulações, ninguém sabe. Por
exemplo, sobre a origem do homem, as opiniões variam, dependendo da formação e
da atividade de quem opina. Perguntem a um biólogo e ele, certamente, terá sua
posição, com os respectivos argumentos para fundamentá-la. Já a tese do teólogo
será, com toda a certeza, bastante diferente, acompanhada da respectiva
tentativa de fundamentação.
O leigo, por seu turno, desses que “pensam” nem que seja só
um pouquinho (o que nem todos fazem) não apresentará teoria alguma a respeito.
Apoiará, em vez disto, esta ou aquela já existente, de acordo com sua intuição
pessoal, interesse e preferência que nem sempre saberá explicar. Ademais, a
imensa maioria, talvez 90% ou mais dos cerca de 7,3 bilhões de habitantes do
Planeta nunca pensou e dificilmente pensará nisso. Estes limitam-se a viver,
quando não meramente a “sobreviver”. Preocupam-se, apenas, com o trivial, no
entanto essencial, ou seja, com o alimento, abrigo, vestimenta etc.etc,etc. e
com formas de garantir tudo isso no dia a dia. Não pensam, reitero, em propriamente
“viver”, no sentido mais grandioso da vida, explorando ao máximo o potencial de
entendimento com que foram dotados, mas
somente em “sobreviver” como possam, agindo dessa forma não em virtude do
raciocínio, mas somente do puro instinto. Estão certos? Estão errados? Quem sabe?
Quando o homem “surgiu” na Terra? Como se deu esse “surgimento”?
Quando ele ocorreu? O biólogo responderá de uma forma e o teólogo de outra. E
mesmo eles não responderão da mesma maneira que seus companheiros de atividade.
Determinada corrente dirá que foi “assim”, outra responderá que foi “assado”,
cada qual fazendo de sua teoria um dogma, que é o caminho mais inadequado para
a busca da verdade. Nem as religiões se entendem sobre a questão. Os judeus e
os cristãos, por exemplo, dirão que Deus criou o primeiro casal, Adão e Eva, no
ato final do processo de criação do universo, que teria durado apenas sete dias
e teria ocorrido há somente em torno de sete mil anos. Já os budistas terão
outra explicação, o mesmo ocorrendo com hinduístas, bramanistas etc.etc.etc. Quem
está certo? Quem está errado? Como saber? Ninguém sabe e duvido que algum dia
alguém o saiba.
Hoje, por exemplo, a “Ciência”, ou o que se convencionou chamar
como tal, afirma (com certa overdose de empáfia e de arrogância), que o universo
inteiro surgiu há 14,6 bilhões de anos terrestres de um tal de Big Bang. Que o
Sistema Solar, e por conseqüência a Terra, tem por volta de 4,8 bilhões de anos
terrestres e que em cerca de outros 4 bilhões e tanto de anos o Sol esgotará
todo seu potencial de energia e que então será o fim dele e de todos os
planetas que o orbitam. Mas as coisas foram e são mesmo assim? Não são? Como
saber (mas saber de fato e não apenas especular e nem teorizar)? Onde quero
chegar com todo esse meu bla-blá-blá? Que podemos crer em uma ou em outra
tentativa de explicação, mas sem jamais dogmatizar nenhuma delas. Ou seja,
devemos sempre deixar um espaço para a dúvida razoável que, ao contrário do que
os fanáticos apregoam, não significa falta de fé, mas a distinção sábia entre
esta e a mera superstição.
Quem tem tempo, preparo, conhecimento e disposição para
exercer sua capacidade de raciocínio, deve continuar pesquisando, raciocinando,
procurando responder a essas questões que espicaçam nossa curiosidade, sem se
apegar fanaticamente às suas eventuais convicções, achando que elas sejam a “verdade”.
Podem até ser, mas só teremos certeza que são se tivermos provas cabais sobre o
que cremos, o que, ainda, ninguém tem. Terá algum dia? Como saber? Da minha
parte, acredito que não, baseado na pequenez e na efemeridade humanas face à
imensidão do universo. Não faço, contudo, nenhum dogma disso, ciente de que
posso estar completamente errado sobre tudo aquilo em que creio. O que, no entanto,
não me impede de seguir matutando a respeito, pelo menos enquanto tiver
capacidade e lucidez para isso, sem, contudo, fazer proselitismo e nem ser
prosélito de ninguém.
Boa leitura!
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