quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A infinita curiosidade do homem



A curiosidade humana é infinita e é ela, ao lado da necessidade, que nos fez ser o que somos. Já enfatizei um sem número de vezes que, se excetuarmos nossa capacidade de compreensão e de raciocínio, genericamente chamada de razão, somos um dos animais mais frágeis e desvalidos, dos tantos que habitam a Terra. Todavia, essa característica única com que fomos dotados, a de pensar, nos permite superar nossas fraquezas e vulnerabilidades, sobreviver e, mais do que isso, evoluir em todos os sentidos, ou quase todos e nos tornarmos senhores da natureza, pelo menos neste pequeno planeta de um ínfimo sistema planetário de uma estrela de quinta grandeza. Ainda não evoluímos, todavia, o suficiente para substituir nosso egoísmo latente e nossos instintos mais primitivos   para, em vez de competirmos uns com os outros, cooperarmos entre nós. Mas... esta é outra história, que requer considerações mais profundas e demoradas do que as que me proponho as fazer nestas breves e descompromissadas reflexões.

Entre as tantas questões que espicaçam nossa curiosidade, certamente a mais intrincada, por motivos compreensíveis, ou seja, pela ausência de provas cabais que fundamentem as várias teorias que elaboramos, está a das origens. Está aí a “mãe de todas as ciências”, que é a Filosofia, para comprovar isso. É ela que nos faz tentar responder o que desconfio que não tenha resposta, que são as perguntas fundamentais que, volta e meia, tenho trazido obsessivamente à baila, a exemplo do que milhões e milhões de pensadores muito mais eruditos, preparados e geniais do que eu  já fizeram, fazem e com certeza ainda farão enquanto nossa espécie existir: O que sou? De onde venho? Para onde vou? Por que existo? E vai por aí afora.

Não são só estas, óbvio, as questões que homens de todas as partes e todos os tempos buscam, em vão, responder. É o tal negócio: uma pergunta puxa outra, e mais outra e mais outra e as indagações se tornam praticamente infinitas. Teorias e mais teorias são construídas, derrubadas, substituídas por novas em virtude de algumas descobertas, mas saber, saber de verdade, sem ter que recorrer a fantasias e especulações, ninguém sabe. Por exemplo, sobre a origem do homem, as opiniões variam, dependendo da formação e da atividade de quem opina. Perguntem a um biólogo e ele, certamente, terá sua posição, com os respectivos argumentos para fundamentá-la. Já a tese do teólogo será, com toda a certeza, bastante diferente, acompanhada da respectiva tentativa de fundamentação.

O leigo, por seu turno, desses que “pensam” nem que seja só um pouquinho (o que nem todos fazem) não apresentará teoria alguma a respeito. Apoiará, em vez disto, esta ou aquela já existente, de acordo com sua intuição pessoal, interesse e preferência que nem sempre saberá explicar. Ademais, a imensa maioria, talvez 90% ou mais dos cerca de 7,3 bilhões de habitantes do Planeta nunca pensou e dificilmente pensará nisso. Estes limitam-se a viver, quando não meramente a “sobreviver”. Preocupam-se, apenas, com o trivial, no entanto essencial, ou seja, com o alimento, abrigo, vestimenta etc.etc,etc. e com formas de garantir tudo isso no dia a dia. Não pensam, reitero, em propriamente “viver”, no sentido mais grandioso da vida, explorando ao máximo o potencial de entendimento com que  foram dotados, mas somente em “sobreviver” como possam, agindo dessa forma não em virtude do raciocínio, mas somente do puro instinto. Estão certos? Estão errados? Quem sabe?

Quando o homem “surgiu” na Terra? Como se deu esse “surgimento”? Quando ele ocorreu? O biólogo responderá de uma forma e o teólogo de outra. E mesmo eles não responderão da mesma maneira que seus companheiros de atividade. Determinada corrente dirá que foi “assim”, outra responderá que foi “assado”, cada qual fazendo de sua teoria um dogma, que é o caminho mais inadequado para a busca da verdade. Nem as religiões se entendem sobre a questão. Os judeus e os cristãos, por exemplo, dirão que Deus criou o primeiro casal, Adão e Eva, no ato final do processo de criação do universo, que teria durado apenas sete dias e teria ocorrido há somente em torno de sete mil anos. Já os budistas terão outra explicação, o mesmo ocorrendo com hinduístas, bramanistas etc.etc.etc. Quem está certo? Quem está errado? Como saber? Ninguém sabe e duvido que algum dia alguém o saiba.

Hoje, por exemplo, a “Ciência”, ou o que se convencionou chamar como tal, afirma (com certa overdose de empáfia e de arrogância), que o universo inteiro surgiu há 14,6 bilhões de anos terrestres de um tal de Big Bang. Que o Sistema Solar, e por conseqüência a Terra, tem por volta de 4,8 bilhões de anos terrestres e que em cerca de outros 4 bilhões e tanto de anos o Sol esgotará todo seu potencial de energia e que então será o fim dele e de todos os planetas que o orbitam. Mas as coisas foram e são mesmo assim? Não são? Como saber (mas saber de fato e não apenas especular e nem teorizar)? Onde quero chegar com todo esse meu bla-blá-blá? Que podemos crer em uma ou em outra tentativa de explicação, mas sem jamais dogmatizar nenhuma delas. Ou seja, devemos sempre deixar um espaço para a dúvida razoável que, ao contrário do que os fanáticos apregoam, não significa falta de fé, mas a distinção sábia entre esta e a mera superstição.

Quem tem tempo, preparo, conhecimento e disposição para exercer sua capacidade de raciocínio, deve continuar pesquisando, raciocinando, procurando responder a essas questões que espicaçam nossa curiosidade, sem se apegar fanaticamente às suas eventuais convicções, achando que elas sejam a “verdade”. Podem até ser, mas só teremos certeza que são se tivermos provas cabais sobre o que cremos, o que, ainda, ninguém tem. Terá algum dia? Como saber? Da minha parte, acredito que não, baseado na pequenez e na efemeridade humanas face à imensidão do universo. Não faço, contudo, nenhum dogma disso, ciente de que posso estar completamente errado sobre tudo aquilo em que creio. O que, no entanto, não me impede de seguir matutando a respeito, pelo menos enquanto tiver capacidade e lucidez para isso, sem, contudo, fazer proselitismo e nem ser prosélito de ninguém.

Boa leitura!

O Editor.

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