Questão de status
A
posição que as pessoas ocupam num determinado contexto social (ou
profissional) é denominada, genericamente, de “status”. Já os
componentes dos vários grupos com identidade de ideias, objetivos
e/ou situações, inserem-se no que se convencionou chamar de
“classes”. Estas distinguem-se, umas das outras, por uma série
de características, como a atividade exercida por seus membros, a
renda que ostentam, a origem familiar etc.
Numa
democracia que se preze, por exemplo, alguém que nasceu numa família
pobre tem chances (pelo menos em tese) de ascender a uma categoria
superior à de seus pais e de chegar, até, ao topo da pirâmide
social. Isso seria possível ou por sua capacidade inata, ou por seu
talento, ou por seu esforço, ou pelas oportunidades que tem, entre
outros fatores. Na prática, porém, essa ascensão, notadamente em
sociedades mais atrasadas, não é tão comum e se constitui, mesmo,
em raridade. O indivíduo pode, em contrapartida, também decair, o
que, por sinal, é muito mais comum.
Desde
que se formaram os primeiros grupos primitivos, em geral compostos
por pessoas com laços comuns de sangue, na pré-história, os
indivíduos procuraram, até instintivamente, juntar-se aos que
tivessem gostos parecidos, ideias semelhantes e histórias, tradições
e objetivos comuns. As classes surgiram, portanto, espontaneamente,
sob o ideal da liberdade, igualdade e fraternidade.
Ocorre
que os homens nunca foram iguais: nem física, nem mental e nem
psicologicamente. Os mais aptos e, sobretudo, os mais fortes logo se
destacaram e se impuseram. Assumiram liderança até natural e não
tardou para que impusessem, em geral pela força bruta, suas
preferências e desejos. Emergiram as chamadas “elites”.
As
classes se dividiram, se multiplicaram, se consolidaram e, em algumas
sociedades, até se cristalizaram, transformando-se em castas (por
exemplo, como acontece na Índia, que se modernizou em diversos
aspectos, menos neste) que se tornaram não só vitalícias, mas
hereditárias. Acentuou-se a exploração do homem pelo homem, do
fraco pelo forte, do ignorante pelo esclarecido.
Há
determinados símbolos externos que caracterizam o status que alguém
ostenta na sociedade em que vive. Estes, na maioria dos casos, são
de caráter material, baseados, quase sempre (as exceções são
raríssimas) no ter, em vez do ser. As ostentações mais comuns são,
por exemplo, um luxuoso carro do ano (de preferência importado), o
tipo de moradia em que a pessoa mora, o bairro em que reside, a
cidade, o Estado e o País que integra, o tamanho da sua conta
bancária etc. Mas há outros, como a escola em que estuda, a
profissão que exerce e até como se diverte.
Tudo
isso que citei aplica-se, também, a escritores. Alguns – e os
motivos são os mais variados possíveis, e quase todos subjetivos –
gozam de melhor status do que outros. Seus lançamentos de livros
repercutem mais na imprensa, os críticos ficam mais atentos ao que
escreveram, os leitores predispõem-se a esperar deles maior
qualidade e eles são candidatos naturais, diria naturalíssimos,
quase que automáticos, aos vários prêmios literários existentes
mundo afora, notadamente o mais cobiçado de todos, aquele que
confere maior notoriedade ao ganhador: o Nobel de Literatura. Isso
significa que sejam melhores do que os outros? Às vezes sim. Mas nem
sempre.
Há
escritores cujos livros você lê e não entende a razão da sua fama
e da sua popularidade. Seus estilos são cansativos e empolados, suas
ideias são repetitivas, seus enredos inverossímeis, mas... ainda
assim, vendem livros aos borbotões. São louvados pela crítica e
alçados à condição de paradigmas.
No
polo oposto estão escritores não raro até geniais, com cujos
livros você só topa casualmente, porquanto contam com pouca ou
nenhuma divulgação, e que se mantêm obscuros. Nunca ganham o
centro do palco. Prêmios? Nem pensar! Ficam relegados aos
bastidores, isso quando ficam. Por que isso acontece? Não tenho
explicação. Creio que ninguém a tenha. Embora possa comprovar,
caso preciso, que isso existe mesmo e mais, que é muito mais comum
do que se pensa.
O
que esses escritores badalados têm, e os desconhecidos não, é
maior prestígio. Sequer entro no mérito se merecido ou não. Via de
regra, são os que melhor se comunicam, os que divulgam muito bem o
que fazem e que, por isso, se dão bem. Óbvio que têm méritos
literários, mesmo que não tantos quantos lhes atribuem e que lhes
conferem tamanho prestígio. Ou seja, ostentam status mais elevado do
que seus parceiros de atividade, muitas vezes até mais talentosos e
hábeis na escrita, porém obscuros.
Quanto
maior e mais amplo for o contato entre indivíduos e grupos, maiores
são suas possibilidades de, senão ascender socialmente (ou em
termos de status), pelo menos melhorar suas condições de vida. O
isolamento, por seu turno, tende a manter a situação sempre igual e
a perpetuar a posição que as pessoas têm até nos seus
descendentes. E tudo isso vale, reitero, igualmente, para escritores,
que é o que interessa abordar neste espaço, voltado à Literatura.
Nas
grandes cidades há mais oportunidades de crescimento – a despeito
de mais riscos, determinados pela violência e criminalidade,
decorrentes, em grande parte, da miséria – daí o acelerado
processo de urbanização pelo que o mundo passa. Hoje, por exemplo,
dois terços dos mais de 7 bilhões de habitantes do Planeta vivem em
cidades. E o processo de concentração populacional segue se
acelerando, ameaçando transformar toda a Terra numa única,
gigantesca e caótica Babel. Pensem nisso.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
O sucesso, a fama e o status vêm de um conjunto de habilidades, inclusive promocionais, mas a mais importante que é a escrita, pode não ser a melhor do mundo, mas a criação tem de ser. Ou ainda outra característica qualquer, que leva ao destaque. Sorte e casualidade também contam. No final, um conjunto de fatores levam a entronização do escritor.
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