Como
é que se escreve?
*
Por Xênia Antunes
É
pressuposto que quem livre pensa, livre escreve. Se eu não
quisesse ser entendida pelos compatriotas escreveria em grego, para
os gregos. Mas escrevo para brasileiros e para quem mais possa
entender a língua portuguesa ou traduzi-la. Atribuir-me
uma linguagem panfletária, como querem uns e outros leitores,
é destinar chuva para a horta errada. Em se tratando de desmandos
políticos, corrupções, injustiças e tantas iniquidades, não
carece de engomar a linguagem: pra mau entendedor a palavra inteira,
e não a metade, nem a entrelinha. E, felizmente, tenho memória de
elefante, e um elefante incomoda muita gente.
Não
é meu objetivo dourar pílulas nem escrever por linhas tortas ou
seguir manuais de mass
media em
se tratando, repito, de expor minha opinião (crimepensar?) sobre um
governo eleito com a melhor boa vontade da maioria de todos nós para
cumprir as promessas nas quais a maioria de nós acreditamos, e que
foram, literalmente, para o brejo.
Antes
uma “linguagem panfletária” que assume o que diz, antes a
denúncia em alto e bom som, antes a memória de elefante e a
cobrança direta que a enfermidade intelectual, política, moral e
cultural que emudece, ensurdece e cega os rebanhos.
Ou
com que boas e delicadas palavras diz-se que o governo do PT foi
desleal para com seus eleitores ao chafurdar em cumplicidades e
torpezas com partidos e políticos qe sempre condenou?
Com
que belas letras diz-se que o governo da esperança-que-venceu-o-medo
não quer mais companheiros, e sim comparsas sem escrúpulos
que determinem a perpetuação do status quo que é esta sociedade
injusta, desigual e miserável em que vive a maioria do povo
brasileiro?
Com
que licença poética diz-se que um governo eleito para mudar a cara
do Brasil joga com os mesmos dados viciados de todos os outros
governos corruptos, entreguistas e elitistas que forjaram-nos ser uma
nação de graves, extensas e vergonhosas mazelas sociais?
Com
que metáforas diz-se que o atual governo irrompeu de uma votação
majoritária para executar com a mão esquerda a mesma pena de
condenação do povo brasileiro à exclusão social, à miséria, à
usurpação dos direitos e à injustiça, tal como o fizeram as mãos
direitas, enluvadas ou não, dos governos anteriores?
Com
que palavras se chama um governo de corrupto? De muito corrupto?
Descaradamente corrupto?
Atentem,
pois, para a perfeita compreensão dos meus endereços na web quando
digitarem o www etc e tal e poupem as pilhas das sirenes das
patrulhas ideológicas da esquerdinha vulgar petista.
Em
se tratando – repito mais uma vez – de expor a minha
opinião, assinada e responsável, a respeito desse governo do PT que
aí está, clientelista e servil, pouco espetacular mas bastante
sensacionalista, nada melhor do que recorrer ao slogan da popular
caneta BIC: é
assim que se escreve.
Pelo
menos eu, que sou como os elefantes e não ando em trilha de coelhos.
* Poetisa, jornalista,
artista plástica e fotógrafa de Brasília. Autora do livro
“Exercícios de Amor e Ódio”.
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