quinta-feira, 28 de junho de 2018

Como é que se escreve? - Xênia Antunes


Como é que se escreve?


* Por Xênia Antunes


É  pressuposto que quem livre pensa, livre escreve.  Se eu não quisesse ser entendida pelos compatriotas escreveria em grego, para os gregos. Mas escrevo para brasileiros e para quem mais possa entender a língua portuguesa ou traduzi-la.   Atribuir-me uma linguagem panfletária, como querem uns e outros leitores,  é destinar chuva para a horta errada. Em se tratando de desmandos políticos, corrupções, injustiças e tantas iniquidades, não carece de engomar a linguagem: pra mau entendedor a palavra inteira, e não a metade, nem a entrelinha. E, felizmente, tenho memória de elefante, e um elefante incomoda muita gente.

Não é meu objetivo dourar pílulas nem escrever por linhas tortas ou seguir  manuais de mass media em se tratando, repito, de expor minha opinião (crimepensar?) sobre um governo eleito com a melhor boa vontade da maioria de todos nós para cumprir as promessas nas quais a maioria de nós acreditamos, e que foram, literalmente, para o brejo.

Antes uma “linguagem panfletária” que assume o que diz, antes a denúncia em alto e bom som, antes a memória de elefante e a cobrança direta que a enfermidade intelectual, política, moral e cultural que emudece, ensurdece e cega os rebanhos.

Ou com que boas e delicadas palavras diz-se que o governo do PT foi desleal para com seus eleitores ao chafurdar em cumplicidades e torpezas com partidos e políticos qe sempre condenou?

Com que belas letras diz-se que o governo da esperança-que-venceu-o-medo não quer mais companheiros, e  sim comparsas sem escrúpulos que determinem a perpetuação do status quo que é esta sociedade injusta, desigual e miserável em que vive a  maioria do povo brasileiro?

Com que licença poética diz-se que um governo eleito para mudar a cara do Brasil joga com os mesmos dados viciados de todos os outros governos corruptos, entreguistas e elitistas que forjaram-nos ser uma nação de graves, extensas e vergonhosas mazelas sociais?

Com que metáforas diz-se que o atual governo irrompeu de uma votação majoritária para executar com a mão esquerda a mesma pena de condenação do povo brasileiro à exclusão social, à miséria, à usurpação dos direitos e à injustiça, tal como o fizeram as mãos direitas, enluvadas ou não, dos governos anteriores?

Com que palavras se chama um governo de corrupto? De muito corrupto? Descaradamente corrupto?

Atentem, pois, para a perfeita compreensão dos meus endereços na web quando digitarem o www etc e tal e poupem as pilhas das sirenes das patrulhas ideológicas da esquerdinha vulgar petista.

Em se tratando – repito mais uma vez –  de expor a minha opinião, assinada e responsável, a respeito desse governo do PT que aí está, clientelista e servil, pouco espetacular mas bastante sensacionalista, nada melhor do que recorrer ao slogan da popular caneta BIC: é assim que se escreve.
Pelo menos eu, que sou como os elefantes e não ando em trilha de coelhos.

* Poetisa, jornalista, artista plástica e fotógrafa de Brasília. Autora do livro “Exercícios de Amor e Ódio”.


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