A
cambalhota de Milad Mohammadi
*
Por Fernanda de Aragão
Eu
poderia vir aqui, explicar através da física, da biomecânica, do
torque, o que foi aquele lance, mas não, aquele lance foi só o
desespero do último minuto, ali, nos acréscimos dado pelo juiz já
no finalzinho do segundo tempo, só isso e ponto.
Não
tem física que se mostre suficiente para explicar aquela bola não
lançada, aquela bola que ameaçou mas não foi, a bola ali, pedindo
uma única chance, as mãos presas, amarradas, o apito do juiz, que é
isso, mano, tá maluco? Solte a bola, porra!
E
no repeteco que imaginamos, que pedimos, que não aconteceu, aquele
lateral cobrado com a força ínfima de uma bola franzina, sem
torque, sem física, sem biomecânica, aquele evidente desperdício
do último lance no último minuto já incluindo os acréscimos do
segundo tempo, puta que pariu, Milad Mohammadi, isso aqui é Copa do
Mundo. Tem que ir até o fim.
Por
que você não terminou a cambalhota? Essa bola com mais força, com
torque, com biomecânica e indo curva e alta para o meio da área, a
cabeçada certeira, o gol de empate, cadê, Mohammadi, a confiança,
a certeza, a destreza, aquele lance espetacular?
Virou
piada, virou meme, poderia ter sido mas não foi, o peso da bola no
corpo, o peso da Copa na bola.
*
Divulgadora
científica e cultural, paulistana pé de lã e escritora. Professora
universitária nas horas de folga. Mestre e doutoranda pela UNICAMP.
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