quinta-feira, 28 de junho de 2018

Poesia concreta - Pedro J. Bondaczuk


Poesia concreta


* Por Pedro J. Bondaczuk


O leitor Amauri de Oliveira pede minha opinião sobre a chamada poesia concreta. Considero essa forma de expressão válida e útil, como qualquer outra, desde que utilizada de maneira criativa e pertinente, que venha a transmitir a mensagem que o poeta pretendeu de sorte a não gerar dúvidas ou ambiguidades. O que conta, em literatura, não é somente a forma (embora, óbvio, essa seja importantíssima), mas, sobretudo, o conteúdo.

Só não concordo com quem lança mão desse meio de expressão como uma espécie de modismo. Oponho-me a qualquer tipo de “engessamento” do talento. Este tem que ser sempre e sempre e sempre livre, para brilhar em todo o seu esplendor.

Não é a forma, especificamente, que tende a tornar um poema bom ou ruim. É o sentimento, a emoção, a sensação que os ensejaram. Nada me impede, por exemplo, se o tema de que for tratar assim o exigir, que eu componha versos, digamos, nos moldes parnasianos (ou simbolistas), com rima métrica e ritmo, se isso enfatizar o conteúdo e sensibilizar o leitor.

Tenho escrito e reiterado, vezes sem conta, que poesia, para ter valor, não pode se limitar a ser lida. Tem, sobretudo, que ser “sentida”. Se o leitor não sentir absolutamente nada ao ler determinados versos, estes findam por se tornar ocos e vazios, meras palavras sem sentido ou coerência, lançadas ao léu, mesmo que formalmente pareçam a oitava maravilha do mundo.

Tenho lido poemas concretistas geniais, que me suscitam reflexão e emoção. Mas também, amiúde, topo com alguns que não dizem coisa com coisa, que não passam de mero engodo, de pura enganação e que sequer me sugerem algo que seja coerente e válido.

Repito: um bom poema não depende apenas da forma com que é expresso (embora esta, se inadequada, possa estragá-lo irremediavelmente), mas da mensagem que contém. Esta é que conta e que tornará esse texto imortal.

Entre os chamados concretistas tenho, claro, como todo bom leitor, minhas preferências. Li poemas geniais, entre outros, dos irmãos Augusto, Haroldo e Geir Campos e de Décio Pignatari, apenas para citar os exemplos mais óbvios, que são, simultaneamente, obras literárias de valor irretorquível e, ao mesmo tempo, telas de pinturas, com desenhos originais e criativos, posto que feitos com letras, que seriam assinadas, com orgulho, por qualquer artista plástico consagrado..

Embora muitos me contestem (e não dou a mínima para essas contestações), não acredito em literatura moderna ou arcaica. Há, isto sim, boa literatura e mera caricatura dela.

A propósito, o poema concreto que ilustra este texto tem o título “A cegueira revisitada”. Foi composto em novembro de 2008 por Denise Rangel. Muitos dos amigos, aos quais o mostrei, detestaram-no. Já eu gostei e achei sumamente criativo e, portanto, válido. Sugeriu-me alguma coisa. Foi baseado no filme “Ensaio sobre a cegueira”, inspirado em um texto celebérrimo, de mesmo nome, de José Saramago.

Já escrevi vários poemas concretos, mas apenas quando os temas não somente se adequavam a essa forma de expressão, como, e principalmente, a impunham. Não me considero, porém, mais moderno apenas por haver recorrido a essa forma de fazer poesia.

Reitero, a arte genuína e válida é, e sempre dever ser, absolutamente livre, a salvo de quaisquer imposições ou limitações, que não sejam, claro, aquelas naturais, inerentes à atividade literária. Ou seja, a absolutíssima e intransigente correção gramatical (e vocabular, lógico), além do bom gosto e da criatividade. No mais... Tudo não passa de mera “perfumaria”.



* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk



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