Poesia concreta
*
Por Pedro
J. Bondaczuk
O leitor Amauri de Oliveira
pede minha opinião sobre a chamada poesia concreta. Considero essa
forma de expressão válida e útil, como qualquer outra, desde que
utilizada de maneira criativa e pertinente, que venha a transmitir a
mensagem que o poeta pretendeu de sorte a não gerar dúvidas ou
ambiguidades. O que conta, em literatura, não é somente a forma
(embora, óbvio, essa seja importantíssima), mas, sobretudo, o
conteúdo.
Só não concordo com quem
lança mão desse meio de expressão como uma espécie de modismo.
Oponho-me a qualquer tipo de “engessamento” do talento. Este tem
que ser sempre e sempre e sempre livre, para brilhar em todo o seu
esplendor.
Não é a forma,
especificamente, que tende a tornar um poema bom ou ruim. É o
sentimento, a emoção, a sensação que os ensejaram. Nada me
impede, por exemplo, se o tema de que for tratar assim o exigir, que
eu componha versos, digamos, nos moldes parnasianos (ou simbolistas),
com rima métrica e ritmo, se isso enfatizar o conteúdo e
sensibilizar o leitor.
Tenho escrito e reiterado,
vezes sem conta, que poesia, para ter valor, não pode se limitar a
ser lida. Tem, sobretudo, que ser “sentida”. Se o leitor não
sentir absolutamente nada ao ler determinados versos, estes findam
por se tornar ocos e vazios, meras palavras sem sentido ou coerência,
lançadas ao léu, mesmo que formalmente pareçam a oitava maravilha
do mundo.
Tenho lido poemas concretistas
geniais, que me suscitam reflexão e emoção. Mas também, amiúde,
topo com alguns que não dizem coisa com coisa, que não passam de
mero engodo, de pura enganação e que sequer me sugerem algo que
seja coerente e válido.
Repito: um bom poema não
depende apenas da forma com que é expresso (embora esta, se
inadequada, possa estragá-lo irremediavelmente), mas da mensagem que
contém. Esta é que conta e que tornará esse texto imortal.
Entre os chamados concretistas
tenho, claro, como todo bom leitor, minhas preferências. Li poemas
geniais, entre outros, dos irmãos Augusto, Haroldo e Geir Campos e
de Décio Pignatari, apenas para citar os exemplos mais óbvios, que
são, simultaneamente, obras literárias de valor irretorquível e,
ao mesmo tempo, telas de pinturas, com desenhos originais e
criativos, posto que feitos com letras, que seriam assinadas, com
orgulho, por qualquer artista plástico consagrado..
Embora muitos me contestem (e
não dou a mínima para essas contestações), não acredito em
literatura moderna ou arcaica. Há, isto sim, boa literatura e mera
caricatura dela.
A propósito, o poema concreto
que ilustra este texto tem o título “A cegueira revisitada”. Foi
composto em novembro de 2008 por Denise Rangel. Muitos dos amigos,
aos quais o mostrei, detestaram-no. Já eu gostei e achei sumamente
criativo e, portanto, válido. Sugeriu-me alguma coisa. Foi baseado
no filme “Ensaio sobre a cegueira”, inspirado em um texto
celebérrimo, de mesmo nome, de José Saramago.
Já escrevi vários poemas
concretos, mas apenas quando os temas não somente se adequavam a
essa forma de expressão, como, e principalmente, a impunham. Não me
considero, porém, mais moderno apenas por haver recorrido a essa
forma de fazer poesia.
Reitero, a arte genuína e
válida é, e sempre dever ser, absolutamente livre, a salvo de
quaisquer imposições ou limitações, que não sejam, claro,
aquelas naturais, inerentes à atividade literária. Ou seja, a
absolutíssima e intransigente correção gramatical (e vocabular,
lógico), além do bom gosto e da criatividade. No mais... Tudo não
passa de mera “perfumaria”.
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de
Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do
Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções,
foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no
Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios
políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas),
“Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da
Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º
aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53,
página 54. Blog “O Escrevinhador” –
http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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