Pensamento em comunidade
O
escritor é uma usina de ideias, ou pelo menos tem que ser, caso
pretenda sustentar essa condição. Um dos seus maiores dramas,
todavia, é quando se senta junto da sua mesa de trabalho, diante de
uma folha de papel em branco, ou, o que é mais comum nesta era da
informática, à frente da telinha do computador, mas não sabe o que
escrever. Isso acontece. E ocorre com muito maior frequência do que
o leigo possa imaginar.
Às
vezes, nem é falta de assunto. Não raro, o problema decorre
exatamente por causa inversa a essa, ou seja, excesso de temas que se
atropelam na mente do atônito redator, sem que este se decida por
um. Boa parte das pessoas com as quais converso a respeito confessa
que, em dias como esse, simplesmente desiste de escrever e vai fazer
outra coisa.
E
se o sujeito não pode adiar? Se tem compromisso com algum jornal, ou
editora, ou seja lá com, quem for, de entregar o texto, pronto e
revisado, naquele mesmo dia e tem poucas horas, ou nem isso, para
cumprir a tarefa? Nesse caso, a crônica, artigo ou seja lá o que
for têm que ser arrancados a fórceps. É o momento em que bate a
insegurança. O redator opta por determinado assunto, mesmo achando
que não o pesquisou o suficiente para não cometer erros de
informação, respira fundo e põe mãos à obra, mesmo a
contragosto.
A
insegurança é a maior inimiga do escritor. Trata-se de conversa
mole, dessas para boi dormir, a afirmação de alguns que, na hora
que estão escrevendo, não estão nem aí para quem vai ler. Estão!
Sempre estão! E esta é sua fonte de angústia. Não se dão conta
de que, aquele texto que julgam vazio e sem paixão, e que não
gostam quando dão por concluído, mas mesmo assim encaminham ao
jornal, ou sabe-se lá para quem com o qual se comprometeu, é
exatamente o que tende a agradar mais o leitor. É certo que isso nem
sempre acontece. Mas, comigo, ocorre com tamanha frequência, que até
já considero uma espécie de regra.
Frustro-me,
a todo o momento, com textos que elaboro com o máximo esmero,
rigorosamente corretos em todos os aspectos, originais e criativos,
que aprecio tanto a ponto de duvidar que fui eu que o produzi, e que,
no entanto, merecem inúmeros reparos dos seus destinatários ou,
pior, passam batidos, como se sequer tivessem sido escritos Isso é
de doer! Como em tudo na vida, em literatura, também, há gostos
para tudo.
Quanto
a essa história de alguns, que garantem que quando estão
escrevendo, não se preocupam nem um pouco com quem vai ler, é pura
balela. Como não se preocupar?! Escrevemos sempre para os outros e
não para o próprio deleite. Textos particulares, que não são
voltados a olhares indiscretos, existem, sim, mas em bilhetes para a
esposa ou empregada, em registros em nossos diários e coisas desse
tipo. Mas os literários... ora, ora, ora, nenhum escritor é tão
maluco a ponto de fazer literatura para si, e só para si! Isso não
faz o menor sentido.
O
filósofo Emmanuel Kant me dá razão, nesse aspecto (como se ainda
fosse necessário buscar apoio tão ilustre para uma constatação
tão óbvia). Escreveu: “Para onde iriam nossos pensamentos e qual
seria sua justeza se não pudéssemos pensar de algum modo em
comunidade com os outros; a quem comunicaríamos nossas reflexões,
assim como eles informariam de suas ideias?”. Pois é, essa é a
lógica. Esse é o objetivo da literatura, ou seja, o de “pensar em
comunidade”.
Por
tudo isso é que fico decepcionado (para não dizer furioso), quando
escrevo textos que me dão trabalho imenso de pesquisa e de revisão,
posto-os neste espaço, que como o próprio nome diz, é voltado,
exclusivamente, à Literatura, e ninguém dá a mínima para eles. E
quando reclamo dessa omissão, ainda há quem interprete minha
reclamação como “surto exacerbado de vaidade”. Vaidoso eu sou,
de fato, como ademais todo intelectual, e por extensão todo
escritor, também o é. Mas o que me decepciona e irrita é a perda
dessa preciosa oportunidade de “pensar em comunidade”, mencionada
por Kant. E, pior, isso acontece num espaço que eu criei e que me dá
tanto trabalho para manter.
Se
pessoas cultas e com grande facilidade de expressão tratam a
literatura com tamanho descaso e desdém, o que esperar da massa
inculta e ignara? Podemos nos queixar do baixo índice de leitura do
brasileiro se damos nossa parcela de contribuição nesse descaso,
nesse desleixo, nesse relaxo cultural? Será que não estamos
passando aquela mensagem subliminar do “faça o que falo, mas não
o que faço?”.
Este
espaço foi idealizado para ser interativo. À medida que deixa de
ter essa interatividade, perde, até mesmo, a razão de existir.
Exibir por exibir meus textos é coisa que, posso fazer em outros
lugares com muito mais vantagens e menos trabalho do que aqui. Por
isso renovo o apelo (mesmo ciente de pregar no deserto) para que os
“participantes” deste espaço o sejam de fato. Ou seja,
participem, ora bolas!
Ninguém
está aqui buscando a fama, que é tremenda enganação e que frustra
os que apostam nela. Aliás, Hannah Arendt escreveu a propósito:
“Nada mais efêmero em nosso mundo, nada de mais precário que esta
forma de conquista conferida pelo renome. Nada ocorre com tanta
rapidez e facilidade do que o esquecimento”. Para sermos de vez
esquecidos basta reles piscar de olhos. É só deixarmos de aparecer
por certo tempo, ou de escrever, ou de nos comunicarmos, para que em
três tempos esqueçam da nossa existência. Que tal pensarmos com
maior frequência em comunidade? Afinal, este é o objetivo primário
de todos os tipos de comunicação, entre os quais, óbvio, a
literatura.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Quem vive no mundo da música e da literatura tem relação com a luta patriótica, como nos versos da canção de Vandré.
ResponderExcluirDirijo-me, como escritor e poeta independente, aos grupos virtuais do mundo inteiro, que acessam as redes sociais (facebook, etc) com tanta facilidade para dizer tanta besteira, que nos irrita e que com um simples “kkkkk/hehehe... já acham que podem dizer que gostam de ler. Para poder dizer que sou escritor, por exemplo, eu tenho um blog (Fiteiro Cultural), sem condições de postar! Motivo: retiraram o nome "Nova Postagem"!!! Tenho trabalhos publicados em vários sites, tenho 13 títulos publicados (todas edições esgotadas)e dois inéditos para os que gostam de não ler!!!