Quando o erro pode ser
didático
O
sonho das pessoas ativas, dos sujeitos dinâmicos, criadores e que se
dedicam, de corpo e alma, à produção (material e/ou artística e
intelectual) é o da perfeição de suas obras. Há quem seja
perfeccionista por natureza e que sofra face à mínima imperfeição
no que faz, mesmo que não notada por ninguém. Esse fazer, refazer,
tornar a fazer, emendar, burilar, melhorar etc. chega, em casos
extremos, às raias da obsessão. E é errado esse comportamento?
Claro que não. Só que não se recomenda que se descambe para tal
exagero. Afinal, como já diziam sábios no passado, “a virtude
está sempre no meio”.
Convivemos,
no dia a dia, com erros de todos os tipos e tamanhos, nossos e dos
outros, e nos afligimos com os que cometemos e nos irritamos com os
alheios. Há casos em que achamos que essas falhas são irreparáveis.
Nunca são! Alguns, porém, negam que erraram, mesmo quando é para
lá de evidente que cometeram algum equívoco. Pagam um preço por
essa irresponsabilidade: caem em ridículo. Outros admitem, mas se
esquecem dos erros, como se não os houvessem cometido. Com isso, só
os multiplicam. Há, porém, os que são sábios: extraem
ensinamentos das suas falhas e as corrigem. Tiram preciosas lições,
que lhes permitem não errar novamente e fazer o que lhes cabe cada
vez melhor. Nossos erros, porém, não devem nos afligir. Até
porque, tendem a ser sumamente didáticos se soubermos lidar com
eles. E, ademais, só erra que faz alguma coisa, quem arrisca, atua,
constrói e não é omisso.
Podemos
(e devemos) ser sábios para transformar pequenos erros em maiúsculos
acertos. A atitude correta, nesses casos, é o que John Maxwell
observou, com pertinência: “Um homem deve ser grande o suficiente
para admitir seus erros, esperto demais para tirar proveito deles e
forte o bastante para corrigi-los”. Não é fácil? Claro que não!
Mas é eficaz. Por mais que a busquemos (e devemos, de fato, buscar),
a nós, humanos, frágeis e falíveis, é vedada a perfeição. Por
mais completo que nos pareça um trabalho, manual ou intelectual,
sempre haverá alguma coisa a ser burilada, revisada, corrigida e
melhorada.
Esse
exercício de correção de obras, de ideias e até mesmo de rumos,
deve se transformar em hábito, para que jamais o que fizermos ou
pensarmos se torne envelhecido, defasado ou ultrapassado.
Principalmente nos relacionamentos, mesmo que pareçam perfeitos,
convém fazer periódicos reparos. Isaac Bashevis Singer, ganhador do
Prêmio Nobel de Literatura de 1978, confessou: “Corrigir é tudo o
que faço o tempo todo. Sem isso não haveria literatura ou
civilização. Mesmo o amor às vezes precisa disso”. Eu diria, de
minha parte, que “principalmente o amor” requer constante
correção. Afinal, é como uma bela, porém, frágil flor: só
manterá seu viço, sua beleza e sua vida, se for constantemente
regada, adubada e podada.
Reitero,
trilhões de vezes se for preciso, que só não erra nunca quem não
faz nada e passa a vida como parasita, explorando o esforço de quem
tenta melhorar o mundo, sem contribuir em nada para o bem-estar
próprio e da comunidade. A vida não comporta espectadores, mas
requer agentes, tanto para praticar os atos mais simples, quanto para
as obras mais complexas, que exigem preparo e esforço. Nada é mais
condenável do que a preguiça, o comodismo e, principalmente, a
omissão. É preferível errar uma, duas, dez, cem, mil vezes, do que
nunca cometer erros, por jamais tentar fazer o que quer que seja. Só
que é necessário corrigir o mesmo tanto de vezes aquilo em que se
falhou.
Nenhuma
obra verdadeiramente valiosa, que sobreviva ao tempo e ao
esquecimento, pode ser produzida se não colocarmos nela alma,
talento e paixão. As grandes realizações são frutos de crença,
empenho, vontade, persistência e de tamanha convicção, a ponto de
deitarmos “chispas pelos olhos”. Nesse intenso empenho, todavia,
sempre estaremos sujeitos a errar, por maiores que sejam nosso
treinamento, perícia e conhecimento de causa. Devemos estar
preparados para isso e para efetuar, claro, a devida correção. Mas
precisamos encarar a empreitada sem excessivos temores. Um certo
medinho todos temos (aquele clássico friozinho na barriga),
principalmente face aos grandes desafios. Ele, porém, não pode e
nem deve nos deter e paralisar.
Quem
teme se expor, por medo de fracasso, frustra-se, invariavelmente, e
dessa frustração resulta intenso sofrimento, mental, que tende a se
transformar em físico. Da minha parte, prefiro pecar por excesso a
me omitir. Estou disposto, na busca dos meus ideais, a tentar, tentar
e tentar, insistente e incansavelmente, até alcançar o objetivo.
Mesmo que errando a cada passo, mas disposto a sempre consertar o que
errar. Boa parte das pessoas talentosas, todavia, não age assim.
Como
editor, trabalho em uma função em que o erro é meu maior inimigo.
Sempre que cometo algum (e por mais que tente, erro bastante, porque
executo grande volume de trabalho), sofro muito. Sinto-me humilhado,
abatido, envergonhado e tenho que administrar (e me livrar de) uma
sensação de impotência e de desânimo. Confesso, no entanto, que
as coisas que mais sei e que executo com maior perfeição, aprendi a
fazer e a acertar errando. Estou consciente que, por maior que seja
meu empenho (e creiam, é imenso), cometerei ainda muitos erros, não
apenas ao longo da carreira profissional, mas da vida. Vou errar no
amor, nos relacionamentos sociais e profissionais, nas escolhas, nas
decisões, na avaliação das amizades etc.etc.etc. E sofrerei com
isso. Pudera, sou humano.
Saberei,
no entanto (e espero saber mesmo), pedir perdão quando ofender
alguém, perdoar quando ofendido, reconciliar-me com quem brigar,
evitar celeumas desnecessárias, mas aprender, e aprender muito, se e
quando cometer esses erros. Há, todavia, um equívoco que considero
bastante grave, embora comum, e que certamente não cometerei: o de
achar que os amigos têm que se entender, sempre, e em tudo, sem
nenhuma divergência. Não é bem assim. Amigos também divergem,
discutem e brigam, sem que a amizade seja abalada, comprometida, ou
sequer arranhada. A esse respeito, George Eliot observou: “Talvez
as melhores amizades sejam aquelas em que haja muita discussão,
muita disputa e, mesmo assim, muito afeto”. Comprovei, inúmeras
vezes, isso na prática. Amizade que não resiste a um simples
desentendimento? Estou fora! Sequer merece esse nome.
Boa
leitura!
O
Editor
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Erramos até quando tentamos acertar. Na dúvida se herói ou heróis tinham perdido o acento, entrei num site que me fez errar, afirmando que os acentos tinham caído. Ainda bem que você corrigiu os erros e me salvou. Obrigada.
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