O
bom marido repentino
*
Por Gustavo do Carmo
O
casamento deles estava à beira do abismo. Faltava dar um passo à
frente: o divórcio. Adelaide não aguentava mais a folga do marido
Agenor. Ele não trabalhava. Perdera o emprego por causa da crise
econômica. O jornal onde trabalhava fechou a editoria de automóveis.
E nem pretendia procurar outro emprego.
Ficava
o dia inteiro em casa, vendo televisão e acessando a internet até
de madrugada, sem ajudá-la na cozinha. Além de tudo isso, ele era
frio com ela e quando o convidava para sair, dizia que não estava a
fim. Mas dava umas saídas suspeitas, que para Adelaide, era para
encontrar com a amante.
De
um dia para o outro, Agenor mudou o seu tratamento com a esposa.
Começou a dar-lhe flores e presentes. Não artigos para a casa, mas
perfumes, lingeries e bijuterias, pois ainda não tinha dinheiro para
comprar joias. Tornou-se mais romântico. Também passou a fazer
dieta e a malhar. Um dia, convidou-a para sair. Foram a um boteco,
mas era um bom recomeço. Terminaram a noite na cama.
Mesmo
assim, Adelaide ficou ainda mais desconfiada. Para ela, quando um
homem muda o tratamento assim, de repente, é porque tem outra mulher
na jogada e ele está querendo disfarçar. E sua mãe fez questão de
reforçar esta suspeita.
Apesar
de ser odiado pela sogra, Agenor começou a agradar Dona Ademildes
também. Passou a visitá-la todos os domingos, lhe deu uma imagem de
Santa Rita de presente e passou a acompanhá-la todos os domingos à
missa. Dona Ademilde mudou de opinião em relação ao genro.
Passado
um mês, Adelaide descobriu que estava grávida do primeiro filho. Na
hora de contar a novidade para o marido, decidiu questioná-lo.
—
Gê,
eu tenho que dar uma notícia e te perguntar uma coisa.
—
Fala,
amor.
—
Em
primeiro lugar, eu estou grávida.
Agenor
abraçou forte a esposa, beijou a sua barriga e começou a chorar
feito criança. Esperou o marido se acalmar para enfim perguntar:
—
Querido,
eu estou muito feliz por estar grávida e pela sua mudança repentina
como marido. Eu só queria saber porquê.
—
Eu
realmente estava de saco cheio de você. Só que eu percebi que dar
presentes e me tornar um marido melhor iria sair mais barato do que a
papelada. Eu arrumei um emprego, mas mesmo assim ainda não tenho
dinheiro.
—
Seu
cachorro, desgraçado! Então saiba que eu que vou pedir o divórcio.
Eu arrumei um namorado rico e é ele quem vai pagar. E o filho é
dele.
*
Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração.
Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de
São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos”.
Bookess
- http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/ e
PerSe
-http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310
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