Marcos
e Antonio Carlos
*
Por Urda Alice Klueger
É-me
bastante triste saber do falecimento de Antônio Carlos Konder Reis,
irmão do grande poeta Marcos Konder Reis, de família vizinha aos
meus pais durante largo tempo, lá em Armação do Itapocoroy, onde
Antônio Carlos decidiu que fosse sua moradia definitiva nos seus
tempos de aposentadoria. É como se se fechasse um ciclo da minha
vida.
Naqueles
tempos em que eu adolescia e era jovem, Antônio Carlos estava muito
ocupado com a política; mas seu irmão Marcos , doce anjo que
transpirava poesia, tornou-se meu amigo naqueles tempos em que
acontecia o movimento hippie, amizade essa que venceu as décadas e
durou 35 anos – nas férias de julho e de fim de ano, lá na
Armação do Itapocoroy – nas outras partes do ano, de forma
epistolar, numa maravilhosa coleção de cartas que espelham esse
espaço de tempo e que, por medo de que pudessem se perder mais
tarde, quando eu também partisse, doei à Fundação Cultural de
Itajaí já neste milênio, depois da partida de Marcos.
O
grande poeta foi-se silenciosamente, no dia errado, a 2 de setembro
de 2001, quando o mundo só queria saber do atentado nas torres
gêmeas, e demorei diversos dias para saber da sua morte. Pompéia, a
irmã de ambos, foi quem me contou, já tardiamente, os detalhes
daquela partida no meio do alvoroço em que estava o mundo.
Pode parecer estranho eu estar a falar do Marcos quando acabamos de perder Antônio Carlos – é que, no meu íntimo, seus nomes estão entrelaçados e vai ser muito triste, um dia, voltar àquela Armação e ver as duas casas vazias…
É como se a juventude tivesse partido para sempre.
Enseada
de Brito, 13 de junho de 2018
*
Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela
UFPR, autora de vinte e cinco livros (o 25º lançado em maio de
2018), entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições),
“No tempo das tangerinas” (12 edições) e “No tempo da Magia”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário