
O acidente e a fé
* Seu Pedro
Ao me recordar de um acidente que me aconteceu, e que fez seis anos em dezembro passado, pressinto que apenas uma minoria está preparada para enxergar Deus, e conversar com ele, nos momentos de aflições. Primeiro devo esclarecer que, em minha ótica, enxergar vai além da simples visão. Um cego pode enxergar além do que lhe dizem, bem como para conversar não se necessitam palavras saídas da boca. Um surdo-mudo pode manter longa conversação por sinais. E creio que não existam sinais mais indicadores dos que os de Deus.
Dirigia, após um dia e meio acordado. Somadas, as horas deviam ser trinta e seis. Ao meu lado, no banco traseiro, vinha minha filha Samantha, naquele tempo com seis anos, completados três dias antes. Paramos a quarenta quilômetros de casa e comemos uma deliciosa pizza. Terminado o lanche, de novo ganhamos a estrada. Eu, rigoroso, mantinha a menina de cinto e no banco traseiro, onde ela vinha abraçada a uma enorme bola que no acidente estourou. Era uma dessas vendidas em dias de festa. Vínhamos de Brumado em direção a Guanambi. Foi em Caetité nossa parada. Veloz, como sempre, lá ia eu, ultrapassando os demais veículos, até que o sono, mais rápido que eu, me pegou.
Quatro tombadas e lá estava eu, no meio de um matagal, de bumbum para o alto, preso entre a direção e o teto, que virou assoalho, enquanto a minha filha, que minutos antes me pediu, (e concedi), para estar no banco do carona, e sem o uso do cinto de segurança, estava ao meu lado. O povo queria que eu fosse levado, urgente, para um hospital. Mas como me sentia capaz, embora com ferimentos, comecei a orar, ou a rezar como os católicos dizem. Já havia sido socorrido por dois jovens, e um ônibus vindo de Salvador parou com mais de trinta passageiros, muitos conhecidos e que comentavam, enquanto eu, depreendido e em voz alta, conversava com Deus, e o agradecia por ter me atendido ao pedir-lhe que tomasse conta de mim e da minha filha. Um pedido feito condensado em minha fé.
Atrás as pessoas diziam e eu ouvia: “Seu Pedro bateu a cabeça e ficou doido. Está falando sozinho”. E um ateu, ou à-toa, sei lá, dizia que se Deus existia, não deixaria acontecer o acidente. Um padre, por falta de ética ou de preparo para o sacerdócio, disse que a causa era falta de fé: "Eu nunca vejo Seu Pedro na missa!". Como se a fé fosse privilégio de quem escuta o padre, ou o pastor! Hoje, seis anos após, e no centro da Bíblia, leio o que está escrito: “É melhor confiar no Senhor do escutar os homens”, - Salmos 18-8. Ou o padre não é homem?
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
* Seu Pedro
Ao me recordar de um acidente que me aconteceu, e que fez seis anos em dezembro passado, pressinto que apenas uma minoria está preparada para enxergar Deus, e conversar com ele, nos momentos de aflições. Primeiro devo esclarecer que, em minha ótica, enxergar vai além da simples visão. Um cego pode enxergar além do que lhe dizem, bem como para conversar não se necessitam palavras saídas da boca. Um surdo-mudo pode manter longa conversação por sinais. E creio que não existam sinais mais indicadores dos que os de Deus.
Dirigia, após um dia e meio acordado. Somadas, as horas deviam ser trinta e seis. Ao meu lado, no banco traseiro, vinha minha filha Samantha, naquele tempo com seis anos, completados três dias antes. Paramos a quarenta quilômetros de casa e comemos uma deliciosa pizza. Terminado o lanche, de novo ganhamos a estrada. Eu, rigoroso, mantinha a menina de cinto e no banco traseiro, onde ela vinha abraçada a uma enorme bola que no acidente estourou. Era uma dessas vendidas em dias de festa. Vínhamos de Brumado em direção a Guanambi. Foi em Caetité nossa parada. Veloz, como sempre, lá ia eu, ultrapassando os demais veículos, até que o sono, mais rápido que eu, me pegou.
Quatro tombadas e lá estava eu, no meio de um matagal, de bumbum para o alto, preso entre a direção e o teto, que virou assoalho, enquanto a minha filha, que minutos antes me pediu, (e concedi), para estar no banco do carona, e sem o uso do cinto de segurança, estava ao meu lado. O povo queria que eu fosse levado, urgente, para um hospital. Mas como me sentia capaz, embora com ferimentos, comecei a orar, ou a rezar como os católicos dizem. Já havia sido socorrido por dois jovens, e um ônibus vindo de Salvador parou com mais de trinta passageiros, muitos conhecidos e que comentavam, enquanto eu, depreendido e em voz alta, conversava com Deus, e o agradecia por ter me atendido ao pedir-lhe que tomasse conta de mim e da minha filha. Um pedido feito condensado em minha fé.
Atrás as pessoas diziam e eu ouvia: “Seu Pedro bateu a cabeça e ficou doido. Está falando sozinho”. E um ateu, ou à-toa, sei lá, dizia que se Deus existia, não deixaria acontecer o acidente. Um padre, por falta de ética ou de preparo para o sacerdócio, disse que a causa era falta de fé: "Eu nunca vejo Seu Pedro na missa!". Como se a fé fosse privilégio de quem escuta o padre, ou o pastor! Hoje, seis anos após, e no centro da Bíblia, leio o que está escrito: “É melhor confiar no Senhor do escutar os homens”, - Salmos 18-8. Ou o padre não é homem?
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
Seu Pedro, que ótimo saber que todos estão sãos e salvos e além disso, poder ler essa crônica! Parabéns! Abraços!
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