sexta-feira, 28 de agosto de 2009




Vinho

* Por Rodrigo Ramazzini

- Está tudo terminado entre nós!
- Não era eu, Isadora!
- Como não, meu Deus!
- Eu juro!
- Como não era?
- Porque não era eu... Simples!
- Te viram na tal da festa, criatura!
- Quem me viu? Diz...
- Não vou falar!
- Essa pessoa tem que provar que me viu! Quem foi?
- Não vou falar!
- Tem foto? Vídeo? Outra testemunha?
- Não! A palavra dela já basta...
- Só pode ser ter sido a Marisa... Rica amiga!
- Encontrou com ela na festa, foi?
- Meu Deus, Isadora! Acredita em mim! Eu não fui nesta festa...
- Sei! Finjo que acredito... Não foi a Marisa que me contou, não!
- Quem foi então?
- Não vou falar. Já disse, Bruno!
- Não fala, então! Mas é inacreditável!
- O quê?
- Tu confias mais no que as outras pessoas te dizem do que eu te falo!
- Claro!
- Como claro? Dois anos de namoro já não é o suficiente para confiar em mim?
- Não! A minha amizade com a Vane...
- Sabia! Só podia ser aquela invejosa... Tu acreditas nesta invejosa?
- Por que não acreditaria?
- Porque ela tem inveja do nosso amor!
- Não sei de onde tu tiraste isto?
- Mas é verdade! Lembra que ela tentou ficar comigo antes de começarmos namorar e eu não quis. Lembra?
- Nada a ver, isso! Passado...
- Passado nada! Ela morre de inveja do nosso namoro e está tentando atrapalhar o nosso amor, criando intriga, alimentando fofoca...
- Fofoca, Bruno? Ela me deu detalhes... Disse com quem tu estavas... A cor da tua camisa... E mais um monte de coisas...
- Que cor era?
- O quê?
- A cor da camisa que ela te falou?
- Vinho!
- Tá aí!
- Ta aí o quê?
- Me responde: eu tenho alguma camisa cor de vinho?
- Me deixa pensar...
- Tem até amanhã! Não vai encontrar...
- Que eu me lembre, não!
- Estou dizendo que não fui nesta festa! Eu não tenho uma camisa cor de vinho...
- Isto não quer dizer nada! Ela pode ter confundido...
- Ah tá! Ela pode dizer o que quiser que tu acreditas! Eu falo a verdade e não vale nada...
- Não é assim!
- Como não? Tu sabes bem que eu não tenho uma camisa cor de vinho... E outra. Lembrei agora: essa tua amiga não é flor que se cheire. Uma invejosa... Tu sabes bem! Lembra que ela já fez essa mesma fofoca para a Joseane aquela vez? E ficou provado que o Marquinhos não tinha culpa no cartório. Hoje, os dois estão aí bem felizes juntos. Se tivessem acreditado nela... Lembra?
- Pois é...
- Então!
- Tu juras que não foi nesta festa sozinho?
- Juro, meu amor! Vem cá me dar um beijinho...
- Se eu descobrir algo... Eu te mato, hein!
- Pode ficar tranqüilo! Eu não fui... Agora me abraça!

No outro dia

- Cara! Estava louco para falar contigo!
- O que foi?
- Marquinhos, tu não vai acreditar! Primeiro quero te pedir desculpa! Aliás, perdão! E te agradecer!
- Por quê?
- Desculpa por ter xingado na sexta-feira passada...
- Pelo episódio do vinho lá em casa antes da festa?
- Exatamente! Se tu não viras aquele abençoado vinho na minha camisa antes de irmos pra a festa e me empresta uma camisa tua... Aliás, na cor vinho... Viva o vinho! Eu era um homem morto!
- Por quê?
- A Vanessa nos viu na festa e contou!
- Putz! E aí?
- O que me salvou foi a camisa e os antecedentes da moça!
- Aquela minha estória?
- Exatamente!

* Jornalista

2 comentários:

  1. Esperto, hein! Bom ter amigo que empresta a camisa e ainda inventa histórias. Vi a cena toda, que os diálogos instalam o cenário. Parabéns.

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