segunda-feira, 17 de agosto de 2009




Um sonho, uma onça

* Por Suzana Vargas

O sonho vela e o escuro é realE o real é essa onça é esse sol
É mais real que as grades, que a comidaDo carcereiro, é mais real que a vida.
Com a sua avidez adormecidaA onça sonha, mas não sonha em vão
Em vão vai quem se prende à realidadeE imagina ser livre sem as grades.
Na verdade uma paixão nos prende a tudoE mesmo cegos surdos mudos continuamos.
Mas pensemos na onça em sua celano seu sono velado à luz do dia
Que a obriga a dormir com seus limites:o cheiro, a cor, ruídos rutilantes
(instintos e capim e terra e ar)
Por que imaginarmos diferenteSe o limite da onça é sonhar?

* Poetisa gaúcha, radicada no Rio de Janeiro, autora de literatura infantil e ensaísta. Tem 16 livros publicados, entre os quais “Sombras chinesas” , “Caderno de Outono” (indicado ao Prêmio Jabuti) e “O amor é vermelho”.

Um comentário:

  1. E a onça que surge em nós costumamos aparar todas as semanas em despretensiosas sessões de cortador de unhas.

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